A gaúcha BSBios está próxima de fechar com uma companhia de energia alemã um contrato para exportação de biodiesel a partir de 2008. As negociações, iniciadas há dois meses, devem ser concluídas em setembro, com a visita ao Estado de representantes do grupo europeu para finalizar as tratativas.
Nas últimas semanas, as negociações ganharam força, com o envio à Alemanha de amostras do combustível produzido na usina da empresa em Passo Fundo. A prova foi aceita pela companhia européia, mas ainda será preciso contornar questões envolvendo normas referentes à composição do combustível, segundo o diretor de operações da BSBios, Erasmo Carlos Batistella.
Como é feito de óleo de soja, o biodiesel da BSBios extrapola o nível máximo de iodo permitido pela legislação européia. "Lá, a matéria-prima básica é a canola", explica Batistella. A esperança da empresa gaúcha está na crescente demanda pelo biocombustível na Europa, o que deve exigir uma flexibilização dessa norma.
No encontro com dirigentes da empresa alemã agendado para setembro, devem ser definidos os volumes e o preço a ser pago pelo biocombustível. Além disso, também será debatida uma forma para vencer a restrição referente à quantidade de iodo. Além de não revelar o nome da empresa, Batistella também não adianta os prováveis valores do negócio. "Imaginamos que seja um contrato de longo tempo e com grande demanda", explica.
Se confirmar o negócio, a BSBios terá o seu primeiro contrato de venda para 2008. Atualmente, a empresa tem um acordo de entrega de biodiesel para a Petrobras, que se encerra em dezembro. O convênio prevê a produção de 66 milhões de litros do biocombustível para a estatal. A operação vai garantir um faturamento entre R$ 120 milhões e R$ 130 milhões em 2007.
Para o ano que vem, a BSBios pretende ocupar toda a capacidade instalada da usina de Passo Fundo, modelada para produzir 110 milhões de litros por ano. A meta é destinar metade da produção ao mercado externo. Para isso, a BSBios conta com a possível operação com a empresa alemã e com o interesse de uma companhia chinesa do setor, que na sexta-feira passada enviou representantes a Passo Fundo para prospectar a aquisição do insumo. Nesse caso, segundo Batistella, a negociação ainda não está tão evoluída quanto com os europeus. "Os chineses mostraram grande interesse, mas ainda vamos ver se o produto serve a eles", revela Batistella.
Sem contrato previsto para o mercado nacional em 2008, a BSBios se prepara para uma nova realidade. Até agora, todo o biodiesel produzido no Brasil era comprado pela Petrobras por meio de leilões. As operações tinham o objetivo de fomentar a produção do biocombustível enquanto a mistura de 2% de biodiesel no diesel mineral (Biodiesel B2) é opcional. A partir de 2008, o B2 passará a ser obrigatório e as usinas passarão a disputar, inclusive com a própria Petrobras, a preferência das distribuidoras de combustíveis, que terão de comprar o combustível ecológico para cumprir a lei.
A busca de compradores de biodiesel no mercado externo não é exclusividade da BSBios no Rio Grande do Sul. A Oleoplan, de Veranópolis, já manteve conversações com potenciais compradores dos Estados Unidos e na Itália, mas não houve evolução nas negociações. Segundo o presidente da Oleoplan, Irineu Boff, faltou um acerto em relação à definição de preço. "A dificuldade hoje é o preço, principalmente porque em países como os EUA os produtores têm incentivos governamentais", lamenta Boff.
(Por João Guedes,
JC-RS, 27/08/2007)