A Caravana em Defesa do Rio São Francisco e do Semi-Árido – Contra a Transposição vai tentar convencer o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB) – irmão do ex-ministro Ciro Gomes (PSB), um dos maiores defensores da transposição – a participar do debate sobre o projeto, hoje, na Universidade Federal do Ceará (UFCE). Os manifestantes antitransposição chegaram ontem à noite a Fortaleza, capital cearense, e vão participar de eventos também na Assembléia Legislativa do estado. Hoje à noite eles embarcam para Recife (PE).
Até o momento, a caravana já foi recebida pelo governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), pelo prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM), e pelo vice-presidente da República, José Alencar (PRB). Em São Paulo e no Rio Grande do Norte, não conseguiram falar com os governadores José Serra (PSDB) e Wilma Faria (PMDB), respectivamente. É esperado que os manifestantes sejam recebidos, no próximo dia 30, pelo governador Jaques Wagner (PT), em Salvador. “Queremos que os governos participem dos debates públicos, para que toda a população possa ter a noção de quem é contra ou a favor do projeto da transposição”, disse um dos líderes da caravana, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Apolo Heiringer Lisboa.
De acordo com ele, que está à frente também do Projeto Manuelzão, o maior problema é que boa parte da população dos estados receptores das águas do São Francisco não tem noção sobre os riscos que o projeto oferece. Para citar um exemplo, Apolo Heiringer explicou que o canal da transposição vai levar água para os rios Jaguaribe (CE), Piranhas (PB) e Piranhas Açu.
“Essas três regiões já possuem muita água, só que são mal utilizadas. Visitamos ontem a Barragem Castanhão, em Nova Jaguaribara, no Ceará, onde detectamos a mesma coisa: muita água que não chega para a população. Fizemos reuniões com sindicatos de trabalhadores rurais e remanecentes da antiga Jaguaribara, cidade soterrada para construção da barragem do Castanhão, há 16 anos. Ficamos perplexos com a quantidade de pessoas que não sabiam os reais impactos da obra”.
Segundo o professor da UFMG, no estado Ceará, as regiões do Sertão Central e de Inhamuns, que chove pouco, não serão beneficiadas com as águas do São Francisco. “Essa é a maior demonstração de que o projeto vai atender apenas a interesses do agronegócio e da carcinicultura (cultivo do camarão)”. Para ele, é impossível distribuir a água bombeada para a população dispersa, que mais sofre com os efeitos da seca. “O uso dessa água no agronegócio, para irrigação, também será inviável. A água da transposição terá um custo muito alto para o consumidor em função de ser bombeada com elevado gasto de energia”, explicou.
Segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, João Abner, a caravana quer impedir que grandes recursos financeiros sejam aplicados num projeto que faz uso político do sofrimento do povo, sem oferecer solução efetiva para a seca.
“É preciso levar a água sim, com urgência e de maneira permanente. Só que a transposição não é uma solução adequada dos pontos de vista econômico, técnico, social e ambiental”, ressaltou.
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Correio da Bahia, 27/08/2007)