Líquido e certo. As longas e largas fazendas de nomes canhestros ou siglas indecifráveis, as vendas e revendas de terras a solta nas chapadas de Anapurus, Mata Roma, Buriti, Urbano Santos e Afonso Cunha, abertura de novas áreas, nem que seja para fornecer lenha para as carvoarias, e os financiamentos para o plantio de soja culminaram rapidamente, no Baixo Parnaíba maranhense, com uns poucos sorrindo e outros raspando as migalhas do prato, embora a grande maioria da população amargue o estreitamento das áreas para a agricultura familiar, o aniquilamento de espécies vegetais como bacuri e pequi e de espécies de peixes como Sarapó, Traíra e Cascudo e o aterramento das nascentes dos rios Munim e Preto - rio dos mais escuros e dos mais aguerridos.
"Escrever história significa dar as datas a sua fisionomia" (Walter Benjamin). Pois bem, ao final da tarde de 15 de agosto de 2007, o horizonte do Baixo Parnaíba se arranhava pelos bolos de fumaça que escapavam do Cerrado em chamas na propriedade da fazenda Europa, município de Mata Roma. "Ontem o fogo encobria o céu de nossas vistas e quem pôs fogo na mata foram os gaúchos para queimar os pedaços menores de pau", delatou o senhor Domingos, morador de Riachão comunidade próxima da comunidade Taboquinha.
A estrada que rodeia parte da fazenda Europa - recém-aberta pela Margusa - arremeterá fornos de carvoaria para novas áreas de Cerrado e facilitará o transporte de carvão vegetal para Bacabeira. Depois de totalmente limpos pela Margusa, os trechos da fazenda se unificarão em torno da soja, graças a siderurgia. Depois de transportar todo o carvão vegetal, a estrada transportará soja plantada nas áreas desmatadas recentemente.
Anapurus e Mata Roma - bacia do rio Preto - tributário do rio Munim - a secretaria de meio ambiente do Maranhão licencia quaisquer empreendimentos agropecuários ou de carvoejamento como se a licença de operação escusasse a estupidez e as falcatruas cometidas pelo órgão licenciador e pelo empreendedor e como se a licença de operação de uma área englobasse outras, o que derrota por completo o Cerrado e as populações tradicionais que extraem uma riqueza por vez e de pouquinho enquanto que as grandes empresas extraem muitas riquezas por vez e de muito.
Na fazenda Santa Rita, povoado de Mucura, município de Anapurus, uma empresa terceirizada da Margusa transforma em carvão vegetal 260 hectares de Cerrado em mais de vinte fornos. Segundo o responsável pela carvoaria, os trabalhos começaram em outubro de 2006, exatamente em 9 de outubro de 2006, logo após o desmatamento perpetrado pela Margusa, contudo a licença de operação só foi assinada pelo secretário Othelino Neto em 22 de dezembro de 2006. Pelo visto, em todas as cores, das mais cinzas as mais esverdeadas, setor agropecuário, setor siderúrgico e secretaria de meio ambiente no estado do Maranhão triangulam em promessas de amor regadas a doses cavalares de soja, carvão vegetal e licenças de operação.
(Por Mayron Régis*,
Adital, 22/08/2007)
* Jornalista, Articulação Soja-Brasil/Cebrac
(Esse texto faz parte da campanha Monitorando a bacia do Rio Munim, projeto da Associação Agroeocológica Tijupá, com financiamento do fundo soja do Centro de Apoio Sócio-Ambiental - CASA).