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passivos dos biocombustíveis transgênicos
2007-08-27
Talvez seja uma constatação idiota. Mas depois de ler um especial da revista “Scientific American”, edição brasileira, agosto 2007, tive esta impressão. Um cientista, conhecido mundialmente por sua participação na aceleração dos estudos sobre o genoma (código genético), chamado J. Craig Venter, propôs aos seus colegas na segunda Conferência Internacional sobre Biologia Sintética, realizada em maio de 2006, na Califórnia, um salto nas pesquisas sobre o tema. O caso não é criar organismos transgênicos, usando genes e pedaços de genes de diferentes organismos, sejam vegetais ou animais, fungos ou bactérias, para produzir um novo modelo, um híbrido. Ele quer ir direto ao ponto: criar uma célula orgânica, em laboratório. Para isso, inclusive, fundou uma nova empresa, a Synthetic Genomics.

"Acreditamos que esse campo tem um potencial tremendo para substituir a indústria petroquímica, possivelmente dentro de uma década”, declarou ele à revista.

Para resumir: ninguém conseguiu criar uma célula orgânica que tenha vida própria e se reproduza em laboratório. Não por falta de tentativa, desde a década de 50, os cientistas fazem isso. Colocam os gases básicos – nitrogênio, carbono, hidrogênio, enxofre –, ou seus compostos, mais água, e submetem a descargas elétricas, simbolizando o ambiente primitivo do planeta, há bilhões de anos. Calculam eles que foi assim que se formou a primeira célula procariótica – ainda sem núcleo definido.

Na operação teórica surgiram os aminoácidos básicos para a formação do DNA ou do RNA, os componentes dos genes – adenina, citosina, guanina, timina e o uracil.

Dominar a criação
Segundo Venter, a criação da célula em laboratório deverá acontecer nos próximos dois anos, e, na próxima década, teremos células eucarióticas (com núcleo) produzidas sinteticamente. Isso significa dominar a criação da vida, como a gente conhece. Como diz a bacterologista, Lynn Margulis, tanto animais como vegetais não passam de arranjos multicelulares.

A evolução do planeta começou pelo mundo dos microrganismos, as bactérias, hoje encontradas em rochas da Austrália, na Groelândia ou na África do Sul, de mais de 3 bilhões de anos. Elas são os organismos mais simples, justamente por não terem núcleo em suas células, o material genético fica solto. A segunda etapa da evolução foram as células eucarióticas, com núcleos de proteção do material genético, mas também com outros componentes para reservar energia, processar o alimento, expelir resíduos, respirar.

Imaginem o que significa para uma empresa dominar uma tecnologia desse tipo! Ela pode produzir bactérias que transformarão o CO2 (gás carbônico), que produz a maior parcela do efeito estufa, oriundo dos combustíveis fósseis, em gás natural nas usinas movidas a carvão mineral, como na China, na Índia, Estados Unidos ou Europa. É um dos objetivos das pesquisas. Também podem ser usadas na medicina, como normalmente são definidos os objetivos de pesquisas que buscam novos medicamentos.

Sempre esquecem a cobrança das patentes, posteriormente, dos royalties – caso bem específico da Aids, na África, que atinge 35 milhões de infectados -, e nenhuma empresa sequer baixa o preço dos medicamentos.

Projeções dos biocombustíveis
Agora as conseqüências são inimagináveis. Ninguém sabe o que pode acontecer com uma bactéria sintética solta no planeta. Bactérias se reproduzem aos bilhões em curto espaço de tempo. E quem vai controlar as empresas que produzirão os organismos sintéticos?

As projeções de cientistas e empresas para as mudanças no planeta, nos próximos anos, não são nada animadoras. Temos um caso em evidência no Brasil – a cana-de-açúcar. O Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp trabalha num estudo sobre o uso do álcool como combustível alternativo em 2025. No caso, o álcool substituiria 10% dos derivados de petróleo no mundo. A cana é plantada em São Paulo em uma área superior a 5 milhões de hectares. A maior lavoura no país, em termos de área ocupada é a de soja, com 21 milhões de hectares. Os estudos estão levando em consideração uma área potencial de cana que pode chegar a 300 milhões. Com uma ocupação viável de 90 milhões de hectares, sendo 60% e 40% no nordeste.

O oeste de São Paulo, a região de Presidente Prudente, uma área ocupada pela pecuária de corte, está sendo invadida pela cana. Um amigo meu, criador de Nelore selecionado em Andradina (SP), Jorge Nakaguma, comentou o problema: "Estou ficando cercado, não sei até quando vou resistir. Se arrendar 40 alqueires (menos de 100 hectares) garanto uma renda de R$4 mil mensais. Na região todos estão aderindo”.

A projeção é a seguinte: 200 bilhões litros de álcool para 2025. Atualmente existem 360 usinas no Brasil. Serão implantadas outras 120, metade de ampliações e o restante de novas destilarias. A cana sobe na direção do cerrado, onde pastam cerca de 70 milhões de cabeças de gado, contando somente três estados do Centro-Oeste, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, somente os dois primeiros contam com um rebanho de 50 milhões de cabeças.

O preço da terra de pecuária (sem plantio de pastagens) é por volta de R$l.500,00 por hectare, terras consideradas de baixa produtividade, muitas vezes com solos de pura areia, sobem automaticamente. O que acontece? A cana empurra o boi para o norte, que se traduz em maior ocupação da Amazônia. Só para esclarecer: o norte do Mato Grosso, o Nortão, como se diz na região, é dentro da Amazônia, região de mata alta, e conta com três frigoríficos entre Colider e Alta Floresta (800km de Cuiabá). É uma área, hoje em dia, com cinco milhões de cabeças.

Para ocupar a área projetada nos estudos da Unicamp, grande parte dos 80 milhões de hectares de pastagem do cerrado serão transformados em lavoura de cana. No ano passado, no Mato Grosso do Sul, onde é proibido instalar usinas na região do Pantanal (Bacia do Alto Paraguai), tentaram derrubar a lei e liberar a região. Não conseguiram, no meio dessa história, um ambientalista se imolou, no centro de Campo Grande.

O pior não é isso. Grande parte do consumo de energia e de combustíveis projetados para os próximos anos não leva em consideração o desperdício e a perda de energia no meio do caminho (da fonte primária até a industrialização). O mundo pirou por absoluta incompetência.

(Por Najar Tubino*, EcoAgencia, 21/08/2007)
Artigo publicado no site Via Política (www.viapolitica.com.br)
* Najar Tubino é jornalista, autor do livro “O Equilíbrio”. Nos últimos anos tem se especializado nas questões do funcionamento do Planeta, e atualmente divulga o seu trabalho na palestra “Uma visão holística e atual sobre a integração do Planeta”. E-mail: najartubino@yahoo.com.br

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