O diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) e vice-presidente do Conselho Mundial de Águas, Benedito Braga, não concorda com as avaliações de que o mundo está à beira da escassez de água. Ele, que participou neste mês da Semana Mundial da Água, em Estocolmo, na Suécia, acredita que o pior cenário ainda pode ser evitado.
"Temos de chamar a atenção para a boa gestão dos recursos hídricos. Só faltará água se não fizermos os investimentos necessários ao funcionamento do setor", afirmou à Agência Brasil.
Para Braga, boa parte dos problemas existentes hoje podem ser superados com as tecnologias disponíveis, muitas delas simples e baratas, por exemplo no Nordeste. "Em termos de escassez de água, a região se parece com o Oriente Médio ou com locais áridos do Chile e do Peru. Só que no Nordeste chove e a água não é armazenada. Então seria muito importante termos recursos para a construção de reservatórios onde se armazene água por períodos mais longos".
O diretor da ANA completa seu raciocínio explicando que os açudes não bastam. "Não adianta construir somente o açude. São necessárias adutoras que levem a água, sem desperdício, até as casas e as indústrias. Temos exemplos de construção de açudes ao longo dos últimos 100 anos que não foram muito eficientes".
Braga defende que os brasileiros que têm acesso à água encanada dispõem de um produto saudável. O problema, segundo ele, são os cerca de 10% da população que ainda não contam com o serviço. "Quase 90% da população brasileira recebe água tratada, de boa qualidade. Mesmo assim, ainda há muita gente que não a recebe, principalmente nas zonas rurais. Isso tem de ser corrigido urgentemente. Nosso grande problema é a falta de saneamento, o esgoto lançado diretamente nos rios".
Ele garante que a água de poços profundos é de boa qualidade, mas faz uma ressalva: a possível contaminação do Aqüífero Botucatu, na região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), por fertilizantes e agrotóxicos empregados na agricultura.
Apesar do otimismo quanto às reservas mundiais de água, Braga acha essencial um investimento maior nos sistemas de armazenagem e gerenciamento. "Se aqueles que têm a condição de fazer os investimentos de forma correta não o fizerem, aí sim nós teremos uma grande crise em um futuro próximo. Muito mais complexa que uma crise de petróleo, que pode ser substituído por outras fontes energéticas".
(Por Alex Rodrigues, Agência Brasil, 26/08/2007)