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etanol cana-de-açúcar
2007-08-27

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o líder cubano, Fidel Castro, talvez nunca tenham ouvido falar de Rio Verde. Mas foi nessa cidade do sudoeste goiano que a polêmica sobre a produção de etanol em áreas de alimentos, aberta pelos dois líderes, ganhou relevância e se tornou concreta. Para barrar o avanço do etanol, a prefeitura da cidade apostou numa lei que impõe limites locais para o plantio de cana, algo jamais imposto a outra cultura.

O canavial rio-verdense não poderá superar 50 mil hectares, cerca de 10% do território agricultável do município. Com a medida, a prefeitura espera garantir o espaço de culturas tradicionais, como soja, milho e sorgo, que formaram a base da economia do município e o transformou num dos maiores pólos de processamento de grãos da América Latina.

A imposição já chegou ao Poder Judiciário. O Sindicato das Indústrias de Fabricação de Álcool do Estado de Goiás (Sifaeg) alega que a medida é inconstitucional, pois fere a autonomia dos produtores em escolher o que plantam. A prefeitura rebate que é prerrogativa do município arbitrar sobre o uso do solo, tanto na área urbana quanto rural.

O Sifaeg tentou suspender os efeitos da lei com uma liminar. O juiz de 1ª instância de Rio Verde, Fernando César Salgado, negou o pedido e vai julgar o mérito da ação. "Este não é um tema que será resolvido no curto prazo", admite Igor Montenegro, presidente do sindicato.

Rio Verde, depois de provocada pela economia local, achou que o avanço da cana colocaria em xeque toda a estrutura agroindustrial erguida na última década, que gera renda e assegura mais da metade dos empregos da cidade. A taxa local de desemprego é inferior a 7%, numa cidade de 120 mil habitantes. "O que queremos é uma economia diversificada. A cana é concentradora, uma economia individual", diz o prefeito Paulo Roberto Cunha. O êxito da medida foi tamanho que até sexta-feira a prefeitura havia enviado cópias da lei para 46 cidades brasileiras. Em 11, membros da prefeitura foram pessoalmente explicar a medida.

Hoje, só Rio Verde tem estrutura para processar 7 mil toneladas de soja por dia, fora o que a região manda para outros centros de processamento. O milho fomenta uma cadeia de produção de frangos e suínos. São 1.641 galpões de engorda de animais só em Rio Verde, estrutura que está nas mãos de 359 produtores integrados.

São esses os responsáveis por abastecer as linhas de abate da unidade agroindustrial da Perdigão, a maior da América Latina. O complexo é gigantesco, opera em três turnos e emprega 7,2 mil trabalhadores. Os empregos indiretos somam quase 30 mil. Por dia, esse exército abate 420 mil frangos e 4,3 mil suínos, número que deverá subir até 2009.

O complexo só existe por causa das imensas glebas produtoras de grãos, mas quem corta as estradas da região já nota enormes armazéns cercados por cana. É sinal de que um novo negócio desponta onde antes os grãos imperavam soberanos.

"Há, sim, preocupação com o avanço da cana na área de grãos, mas não é uma preocupação exclusiva da Perdigão, mas de todas as companhias que criaram aqui este parque agroindustrial", diz Marco Antonio Trichez, gerente de suprimentos da unidade de Rio Verde.

Tentação

Só a Perdigão investiu na região R$ 1 bilhão e acha que a entrada de um novo modelo agroindustrial poderá comprometer a atividade. A empresa tem planos de expansão em Jataí - onde acaba de adquirir uma unidade capaz de abater 70 mil frangos - e em Mineiros, onde está construindo uma unidade para abate também de aves.

"O investimento nesses dois projetos devem elevar em mais R$ 500 milhões o aporte na região", diz Trichez. Não há, por ora, ameaças de interrupção de investimentos, mas esta não é uma hipótese descartada.

A Cooperativa Agroindustrial dos Produtores do Sudoeste Goiano (Comigo), uma das mais influentes organizações dos produtores do Centro-Oeste, afirma que a cana poderá ser complementar, mas jamais hegemônica na região de grãos.

Segundo Álvaro Martim Henkes, vice-presidente de operações da Comigo, boa parte dos investimentos na região ainda não foi amortizada. A cooperativa é dona de metade da capacidade de esmagamento de soja. "Nós mesmos temos investimentos feitos a partir de uma previsão de produção de grãos. A redução desses volumes, numa eventual invasão da cana, vai comprometer o negócio", afirma.

Sadi Secco é um dos maiores produtores de grãos da região de Rio Verde e também um dos que têm sido sondados por grupos de açúcar e álcool a produzir cana. Secco anda tentado. Acha que a chegada da cana é a chance de diversificação, mas teme ver na região o que ocorreu em outras partes do País, onde a cana tomou as rédeas.

A possibilidade de opção nas culturas não é má, mas, por ora, reluta. Até o fim do ano, Secco diz que poderá assinar um contrato para cobrir 30% da área de 4 mil hectares com cana. O Grupo Cosan, maior produtor de açúcar e álcool do País, quer que o produtor seja um multiplicador. "Vou fornecer mudas. Por enquanto, é o que vou fazer no setor sucroalcooleiro", afirma.

Agrônomo e produtor, Silvano Ferreira Rodrigues pretende apostar, neste ano, novamente na soja, no milho e no sorgo. "Lembro de muito produtor que apostou tudo nesse negócio e agora anda arrependido", afirma.

Já há sinais de que a febre da cana começa a passar. Os preços do açúcar e do etanol estão em baixa.

(Por Agnaldo Brito, Estadao, 26/08/2007)


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