O casal de pesquisadores, Adriano Moehlecke e Izete Zanesco, do Rio Grande do Sul, começou a desenvolver em 2004 uma planta-piloto para a produção industrial de módulos fotovoltaicos, placas que absorvem radiação solar e a convertem em eletricidade. O produto desenvolvido, segundo Moehlecke, utiliza processos e matéria-prima que reduz o preço dos módulos em até 15%. Em setembro, serão entregues os primeiros módulos, com previsão de produzir 200 sistemas até maio de 2008.
Certificada a qualidade, o passo seguinte será atrair empresas interessadas em realizar a produção industrial dos módulos. Petrobras, Eletrosul e Companhia Estadual de Geração e Transmissão de Energia Elétrica - RS (CEEE-GT) têm prioridade por serem parceiros do projeto, mas nada impede que outros investidores e empresários negociem a participação no novo negócio.
O projeto está sendo realizado no Núcleo Tecnológico de Energia Solar (NT-Solar), da Faculdade de Física da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS).
Até o momento, no entanto, não existe nenhuma empresa que ofereça esta tecnologia em escala industrial. Isto porque a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) começou a regulamentar a geração de energia elétrica com fontes intermitentes (energia solar fotovoltaica e eólica) somente em 2004, com a resolução 083.
Este documento estabelece que o fornecimento de energia por estes sistemas deve ser feito em corrente alternada e tensão igual à usada nos sistemas de distribuição convencionais. Além disso, as concessionárias que decidirem pela utilização desta opção tecnológica deverão apresentar projeto para aprovação da Aneel, contemplando aspectos técnicos dos sistemas, procedimentos para leitura e faturamento.
Independentemente da burocracia brasileira, implantar sistemas de abastecimento de energia fotovoltaicos ainda não é tão comum em outros países do mundo devido ao seu alto custo, conforme informa o professor de energia solar Ricardo Rüther, da Universidade Federal de Santa Catarina. “Uma casa com uma conta de aproximadamente 100 reais precisará de um sistema de dois quilowatts de potência, que custaria em torno de 14 mil dólares”.
O preço médio do watt fica entre 4 e 5 dólares, cerca de cinco vezes mais caro do que o hidrelétrico, e o desempenho varia de acordo com os índices de incidência solar de cada região.
O pesquisador Adriano Moehlecke acredita, mesmo assim, a energia solar pode ser responsável por até 30% do abastecimento de qualquer país, no futuro. Com garantia de fábrica de 25 anos, o equipamento desenvolvido por ele e a esposa custa cerca de 6 mil dólares e é instalado em uma área de aproximadamente 10 metros quadrados no telhado do imóvel.
Até o fim do projeto, terão sido investidos 6 milhões de reais, dos quais 2,6 milhões de reais aportados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
Porém, com a preocupação mundial em relação ao aquecimento global e o maior investimento em fontes de energia renováveis, este cenário deve mudar. Segundo o Worldwatch Institute e o Prometheus Institute, nos Estados Unidos, a capacidade instalada de empreendimentos solares aumentou 50% em 2006, atingindo 5 mil MW, no rastro do forte crescimento em Alemanha e Japão, e entre os anos 2000 e 2006, a produção de energia solar cresceu seis vezes.
Dados divulgados pela Finep mostram que o mercado de energia solar movimentou cerca de 15 bilhões de dólares em 2006. A capacidade de produção de todos os módulos vendidos ao redor do mundo no ano passado foi de 2.536 megawatts, o que equivale a 15% da potência de Itaipu, hidrelétrica responsável por 30% do abastecimento brasileiro.
Na União Européia, a meta é que, até 2020, 20% da energia utilizada seja renovável, o que inclui fontes alternativas, como a solar, eólica e biomassa. "Se a energia solar conseguir 5% desse bolo, a procura por módulos fotovoltaicos será enorme", prevê Adriano. Hoje, a demanda na Europa já é maior do que a oferta. "A Alemanha, Espanha e Itália importam 45% do que é consumido, e só não compram mais porque não há produção industrial suficiente", afirma o pesquisador.
No Brasil, a luta é para montar uma primeira indústria. O objetivo é ter uma empresa que, até 2015, produza 100 megawatts ao ano. "Se conseguirmos, ela estará entre as 20 maiores do mundo", prevê o pesquisador.
Não tem eletricidade, mas tem sol
Se nas áreas cobertas pela rede elétrica o preço da energia solar ainda assusta, para as regiões mais afastadas trata-se de uma alternativa viável. Segundo dados do Ministério das Minas e Energias, existem cerca de 10 milhões de brasileiros vivendo em localidades sem energia elétrica, a maioria no estado do Amazonas e no Centro-Oeste. Em vários casos, a utilização do sistema fotovoltaico é mais econômica do que a extensão da rede convencional.
Um projeto piloto implantado pela Eletronorte em comunidade isolada de Xapuri, no Acre, será analisado pela Aneel neste segundo semestre. No local, foram implantados três sistemas: um em corrente alternada, um em corrente contínua e um misto (corrente alternada e corrente contínua), e esta análise, afirma a Aneel, servirá para apontar necessidades de aperfeiçoamento
(Por Camila Rodrigues, da PC WORLD, 24/08/2007)