Golfinhos, baleias, lobos e até uma foca, entre outros animais marinhos, encalharam neste ano na Baixada Santista em um número 23,3% maior que em 2006. Até o fim da última semana, o Ibama havia registrado 37 encalhes na região, contra 30 em todo o ano passado.
Comparando os meses de julho e agosto, período de inverno e quando as ocorrência são maiores por ser época de migração dos animais, a situação é ainda pior: 20 encalhes neste ano contra seis, em 2006, e nove, em 2005.
A chefe do escritório regional do Ibama em Santos, Ingrid Oberg, afirmou que, além do número de animais encalhados ter sido maior, apareceram espécies que há muito tempo não eram vistas na região, como a foca. "Tivemos também o aparecimento de quatro baleias em dez dias, sendo três filhotes, o que não acontecia tanto nos outros anos", disse Oberg.
O Ibama (Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) começou a investigar as causas do aumento dos encalhes de animais vivos ou mortos. Oberg aponta as mudanças climáticas como a principal hipótese, mas não descarta a possibilidade de alguma doença ter atingido os animais nem o impacto causado pelas pesquisas sísmicas que estão sendo realizadas na Bacia de Santos.
"Não existe nenhuma pesquisa científica no mundo que tenha conseguido provar a relação entre a pesquisa sísmica e a morte de animais marinhos. Mas, uma vez que estão acontecendo os procedimentos na região, é uma hipótese que temos de investigar", afirmou.
As pesquisas sísmicas são realizadas para detectar zonas de exploração de petróleo e gás natural. Elas utilizam sinais sonoros para adquirir dados geofísicos do subsolo marinho que podem interferir na comunicação dos animais.
A veterinária Andrea Maranho, do Gremar (Grupo de Resgate e Reabilitação de Animais Marinhos), uma das três organizações não-governamentais que ajudam o Ibama da região, disse que foi colhido material dos animais para realização de exames que poderão detectar doenças e se eles foram afetados pelas pesquisas sísmicas.
O oceanógrafo João Marcus Miragaia, coordenador do curso de Ciências Biológicas da Unisanta (Universidade Santa Cecília), disse que o aumento global da temperatura pode provocar a alteração na movimentação superficial das águas, mas é precoce relacionar o fato com os encalhes ocorridos na Baixada Santista neste ano.
O maior número de encalhes na região apressou a criação de um centro de reabilitação de animais marinhos.
O centro foi implantado na ilha dos Arvoredos, que fica a 1.600 metros da praia de Pernambuco, no Guarujá (87 km a sudeste da capital). O local é administrado pela Fundação Fernando Lee e pela Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto).
(Por Mariana Campos, Agência Folha, 25/08/2007)