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desmatamento da amazônia
2007-08-24
Greenpeace e Opan pedem investigação contra fazendeiros e políticos que expulsaram as organizações, além de jornalistas franceses, de Juína, no Mato Grosso.

O Greenpeace e a organização indigenista Opan (Operação Amazônia Nativa) pediram hoje ao Ministério Público Federal a apuração dos graves incidentes ocorridos há dois dias em Juína, no Mato Grosso, que resultaram na expulsão, por fazendeiros, de um grupo de representantes da Opan, ativistas do Greenpeace e dois jornalistas franceses.  Entre os ambientalistas estava o coordenador do Greenpeace na Amazônia, Paulo Adario.

Cópias de duas horas de imagens em vídeo documentando ameaças, ofensas e o processo de expulsão do grupo foram entregues agora à tarde ao Procurador Federal da República em Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar.  Pela manhã, Adario fez um pronunciamento sobre o assunto durante reunião especial do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) que se realiza em Cuiabá, e pediu providências das autoridades estaduais e federais.  Ontem, durante a abertura da reunião, o governador Blairo Maggi anunciou que irá pedir a presença do Exército para enfrentar a grilagem e garantir a ordem no noroeste do estado, onde está Juína.  O governo do estado havia sido informado no dia anterior que o Greenpeace, a Opan e jornalistas estavam praticamente mantidos como reféns num hotel da cidade, cercados por quase uma centena de fazendeiros.

“Ao mesmo tempo em que o governo celebra e assume o mérito pela queda das taxas de desmatamento na Amazônia, o episódio em Juína mostra que sua presença ou é rala ou ainda está muito longe daqui”, disse Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace, que fazia parte do grupo.  “É inaceitável que fazendeiros, com o apoio de autoridades locais, cerceiem a liberdade que todo cidadão tem de ir e vir e revoguem a Lei de Imprensa, cassando o direito de jornalistas exercerem sua profissão com segurança”.

O grupo do Greenpeace, da Opan e os jornalistas franceses foram expulsos por fazendeiros na segunda-feira pela manhã (20/08), depois de ser mantido durante toda a noite sob vigilância em um hotel da cidade.  O grupo de nove pessoas estava de passagem por Juína e seguia em direção à terra indígena Enawene-Nawe.  O objetivo da viagem era documentar áreas recém-desmatadas, além de mostrar a convivência de um povo indígena que vive de agricultura e pesca com a floresta e seu papel em preservar a biodiversidade.

No final da tarde de domingo, fazendeiros abordaram integrantes das duas organizações no hotel onde estavam hospedados, querendo saber quem eram e o que estavam fazendo em Juína.  A área onde está localizada a terra indígena está em disputa entre os Enawene Nawe e os fazendeiros e expressa o conflito da expansão agrícola sobre áreas protegidas e territórios de povos indígenas.

Os índios reivindicam a reintegração de parte do território tradicional que teria ficado de fora da demarcação e que contém uma área de pesca cerimonial, fundamental nos rituais sagrados dos Enawene.  Os fazendeiros, por sua vez, alegam que a terra é deles e estão dispostos a lutar para mantê-las.  Eles se mostraram muito irritados quando souberam que jornalistas integravam o grupo que estava no hotel.

Na manhã seguinte, o local foi cercado por dezenas de fazendeiros e o presidente da Câmara Municipal, vereador Francisco Pedroso, o Chicão (DEM), que exigiam esclarecimento sobre os objetivos dos visitantes.  O grupo foi levado à Câmara Municipal, onde uma sessão especial foi rapidamente organizada.  Estavam presentes o prefeito da cidade, Hilton Campos (PR), o presidente da Câmara, o presidente da OAB, o presidente da Associação dos Produtores Rurais da região do Rio Preto(Aprurp), Aderval Bento, vários vereadores e mais de 50 fazendeiros.  E também a polícia.  Durante seis horas, os fazendeiros e repetiram que a entrada do grupo na terra Enawene Nawe não seria permitida e que seria “perigoso” insistir na viagem.  Esmurrando a mesa, o prefeito de Juína, Hilton Campos, afirmou que não iria permitir a ida do grupo para o Rio Preto, sendo aplaudido fervorosamente pelos colegas fazendeiros.

Para evitar maiores conflitos, a viagem foi cancelada.  O grupo, então, se dirigiu ao local de encontro com os Enawene, uma ponte sobre o Rio Preto, a 60 km de distância, para dar a eles combustível e comida para a volta.  A viagem foi feita sob escolta policial, para garantir a segurança dos jornalistas, da Opan e do Greenpeace.  Mas nem isso evitou que os fazendeiros, que acompanharam a viagem de ida e volta em 8 oito caminhonetes lotadas, continuassem intimidando e ameaçando o grupo.  O grupo se refugiou no hotel de onde não pôde sair nem para comer.  Uma viatura da Polícia Militar ficou na área, para impedir qualquer tentativa de invasão, mas não conseguiu impedir que um fotógrafo fosse agredido.  Os fazendeiros fizeram uma vigília na frente do hotel durante toda a noite.

De manhã cedo, 30 caminhonetes lotadas de fazendeiros, com faróis acessos a buzinando sem parar, insultando e ameaçando o grupo, escoltaram o grupo, que estava protegido por duas viaturas policiais, até o aeroporto.Foram advertidos a decolar imediatamente, ou o avião seria queimado.  No momento, todos se encontram em segurança em Cuiabá.

(Greenpeace Brasil / Amazonia.org, 23/08/2007)

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