Rondônia respira monóxido de carbono apenas. A quantidade de focos de queimadas registradas nesses 22 dias de agosto, não reflete apenas em vastas áreas verdes e intactas viradas à pó. A intensa bruma, aquele “nevoeiro” formado a partir da fumaça expelida nos focos de incêndio e que, em conjunto com a total falta de ventos fortes - que dispersariam um pouco o aglomerado na atmosfera - fecha agora o céu de norte a sul trazendo sérios riscos de acidentes e levando muita gente para hospitais.
A quinta-feira começou com muita fumaça em praticamente todo o território rondoniense. A cidade de Vilhena às 5 horas registrava no aeroporto Brigadeiro Camarão, apenas 500 metros de visibilidade horizontal. Pouco depois das 8 horas, a qualidade tinha melhorado estando com visibilidade em torno de 1600 metros, mas mesmo assim, considerada como muito baixa, principalmente para a aviação.
Esse valor de apenas 500 metros de visibilidade horizontal na cidade de Vilhena - em nossos registros arquivados e os do aeroporto Brigadeiro Camarão – não era registrado desde setembro de 2002. Na ocasião, o ano foi um dos mais poluídos pela fumaça das queimadas em Rondônia, com registro de apenas 350 metros de visibilidade horizontal na Cidade Clima.
Na região central, o dia também começou com muita fumaça. Entre Cacoal, Ji-Paraná e Jaru, a visibilidade observada chegou a 800 metros logo nas primeiras horas do dia. Alguns trechos da rodovia BR-364 chegaram a ser interrompidos pela Policia Rodoviária Federal devido a total falta de visão conjugada com os focos de incêndios às margens da mesma.
Na capital Porto Velho, o aeroporto Governador Jorge Teixeira registrou às 8 horas, apenas 1200 metros de visibilidade horizontal e em Guajará-Mirim, também foi registrado um valor muito baixo, cerca de 2000 metros.
A visibilidade em diversas cidades de Rondônia é a menor desde 2002. A falta de ventos fortes dificulta e muito a dispersão dos poluentes.
Somente nas últimas 24 horas, mais de 150 focos de queimadas foram detectados pelos satélites no Estado de Rondônia. A atual política de controle, fiscalização e prevenção já não têm mais valia nesse lugar. O interessante é que todos os anos as queimadas fogem de controle em Rondônia, mas na atual situação, o estado é de emergência, não só pela intensa bruma ou a quantidade de focos registrados, mas sim o local onde está pegando fogo.
Focos intensos foram detectados na Reserva Biológica do Guaporé, no município de São Francisco do Guaporé, na fronteira com a Bolívia, no Parque Nacional do Pacaás Novos, que fica no município de Guajará-Mirim e na Reserva Biológica do Jaru, em Ji-Paraná. Todas, áreas de preservação protegidas por leis federais, mas que na atual circunstância dos focos já registrados, em nada mais adianta se o governo está ou não atuante na fiscalização.
Outra data que nunca teve valia em Rondônia. Todos os anos, o calendário de queimadas é feito pelo IBAMA e sempre, a liberação é a partir do mês de setembro. Nesse ano, a data liberada para a queima é a partir do dia 1°. Parece até ironia dos governantes, pois todos sabem que queimada na Amazônia, quando chega setembro quase tudo já foi consumido e o trabalho está na reta final. Mais uma data estipulada pelos governantes tentando criar na cabeça das pessoas seu poder viril de ação e proteção ao meio ambiente. Tolo quem acreditar na idéia infame.
(Por Daniel Panobianco,
Rondonoticias, 23/08/2007)