O ministro de Relações Exteriores da Bolívia, David Choquehuanca, acertou ontem (23/08) com o chanceler brasileiro Celso Amorim a criação de três comissões técnicas bilaterais que avaliarão os impactos dos dois projetos de hidrelétricas no rio Madeira, no Acre, em território boliviano. As três comissões prestarão esclarecimentos sobre os efeitos das represas na produção de peixes, na saúde das populações da região e na possível inundação de áreas bolivianas.
A criação dessas comissões não trará entrave à licitação da hidrelétrica de Santo Antônio, que vai gerar 3.150 megawatts, marcada para o próximo dia 30 de outubro. Mas foi suficiente para o governo boliviano manter aquecido o seu discurso interno de total vigilância sobre esses projetos e seus impactos para as comunidades da fronteira.
"Não estamos nos opondo a esses empreendimentos", afirmou Choquehuanca, que participou nos últimos dois dias, em Brasília, da reunião ministerial do Fórum de Cooperação Ásia do Leste-América Latina (Focalal). "Estamos no nível da discussão técnica. Queremos transparência porque temos de nos informar", completou.
O chanceler boliviano lidera uma ala relevante do governo Evo Morales, apoiada por organizações não-governamentais ambientalistas, que não vê com bons olhos a construção das duas hidrelétricas no rio Madeira. Choquehuanca foi ao encontro com Amorim acompanhado de um especialista da ONG Água Sustentável, que é contrária a esses projetos. A outra ala, dominada pela equipe econômica, avalia que a construção das usinas trará vantagens para a Bolívia - em especial, a possível cobrança de um projeto binacional de hidrelétrica. O presidente Evo Morales, até o momento, não optou por nenhum dos lados.
AmbientalistasSegundo Juan Carlos Alurralde, diretor-executivo da ONG Água Sustentável, os argumentos brasileiros sobre a sedimentação na represa que será formada pela hidrelétrica de Jirau, a 80 quilômetros da fronteira, não se mostram consistentes. "Qualquer engenheiro poderá concluir que haverá inundação em território boliviano. Isso não nos deixa dormir. Não vamos permitir", afirmou.
A ONG também adverte que será impossível encontrar meios adequados para a movimentação de peixes migratórios, que estão na base da população da região, e que a represa deverá elevar os casos de malária e febre amarela. Segundo Alurralde, o Brasil deverá implementar um plano de controle da proliferação de mosquitos, mas até o momento não ofereceu cooperação nessa área à Bolívia. "Queremos saber se vamos continuar a comer surubim", disse Choquehuanca.
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Agência Estado, 23/08/2007)