Um etanol de segunda geração poderá tirar mercado do álcool brasileiro no exterior se o país não começar investir em pesquisa e desenvolvimento do novo biocombustível. O alerta é do ex-presidente da Shell no Brasil, Aldo Castelli, que atualmente é sócio da consultoria da área de energia BM Counseling.
Castelli diz que o novo biocombustível ainda não está sendo produzido comercialmente, mas que já há muitos testes com o produto em diversos países. Duas gigantes do petróleo já têm projetos com o combustível, segundo ele. A Shell tem uma parceria uma empresa canadense para desenvolvimento do produto no Canadá e a britânica BP, outro projeto na Índia.
"O Brasil tem de investir em pesquisa. O nosso álcool é considerado de primeira geração. O perigo é ficarmos para trás no etanol de segunda geração"
- O Brasil tem de investir em pesquisa. O nosso álcool é considerado de primeira geração. O perigo é ficarmos para trás no etanol de segunda geração - afirmou Castelli, que comandou a Shell no Brasil até meados de 2005.
Segundo Castelli, o novo produto pode ter vantagem na sustentabilidade social e ambiental, já que não produz energia com um produto que também é alimento (contribuindo para o aumento dos preços da comida), como o milho, usado nos Estados Unidos para a produção de etanol. Além disso, nos debates ambientais, o novo biocombustível não sofre resistências no mercado externo de contribuir para o desmatamento de mata nativa, já que é feito a partir de resíduos de alimentos, como a palha do milho, casca de arroz e palha da cana.
A grande barreira para o novo produto ainda é o custo, reconhece Castelli. Neste quesito, o álcool brasileiro ainda é imbatível, sendo mais atrativo também que o etanol feito de milho nos EUA.
- Nesse momento, o novo etanol não oferece riscos à competitividade do Brasil, mas o país deve ficar de olho.
"Nesse momento, o novo etanol não oferece riscos à competitividade do Brasil, mas o país deve ficar de olho"
A sustentabilidade da liderança brasileira em etanol é o temo do VII Seminário Internacional da Britcham (Câmara Britânica de Comércio do Rio de Janeiro), que será realizado nesta quinta-feira no Business Club One, no Centro do Rio. Castelli é um dos participantes que debaterá as questões com empresários e especialistas do assunto.
O diretor de Dutos e Terminais da Transpetro, Marcelino Guedes, outro participante do evento, chama atenção também para os investimentos em logística para que o mercado internacional do álcool seja desenvolvido e o Brasil consiga vender seu produto. Guedes explica que atualmente só o Brasil e os Estados Unidos consomem em larga escala o álcool, mas que é preciso abrir outros mercados.
Para isso, Guedes diz que o Brasil precisa investir em pesquisa e desenvolvimento, logística, garantir o fornecimento e aumentar a produção. Na avaliação dos dois executivos a recente queda dos preços do álcool não inviabiliza os novos projetos.
Segundo Castelli, a crise de liquidez no mercado de crédito mundial e a queda dos preços do álcool só trarão um "senso de realidade" para os investidores, que selecionarão melhor os novos projetos. Além da competitividade nos custos, o país terá de atender às exigências de certificações ambientais e sociais para os produtores de álcool cada vez maiores.
(Por Claudio de Souza,
O Globo Online, 22/08/2007)