As maiores cidades do mundo precisam se unir para diminuir, com urgência, o uso de energia nas áreas urbanas, de acordo com o norte-americano Ira Magaziner, diretor da Iniciativa de Mudanças Climáticas da Fundação Clinton.
Na palestra de abertura da 6ª Conferência Municipal de Produção Mais Limpa de São Paulo, realizada nesta quarta-feira (22/08), Magaziner destacou que as cidades são responsáveis por 75% da energia consumida no planeta e que, nas 40 maiores metrópoles, de 35% a 50% da energia é desperdiçada por ineficiência das edificações.
“É importante que países como Estados Unidos, China e Austrália mudem de posição e ratifiquem o Protocolo de Kyoto, mas um compromisso de redução de emissões não resolverá o problema do aquecimento global se não começarmos a mudar nossos padrões de eficiência energética”, disse Magaziner, que foi por seis anos conselheiro para desenvolvimento de políticas da presidência norte-americana durante o governo Bill Clinton.
De acordo com Magaziner, nas 40 maiores cidades do planeta, de 35% a 50% do total de energia consumida pelos edifícios é gasta com ar-condicionado e com luzes ligadas sem necessidade.
“As cidades são tremendamente ineficientes e lutar contra isso requer vontade política e organização prática. Além da energia elétrica, os sistemas de água também têm perdas de 35% com vazamentos, inclusive em cidades como Londres ou Paris”, afirmou.
União das megacidades
Ira Magaziner lembrou que São Paulo faz parte do Grupo de Liderança Climática das Grandes Cidades, conhecido como C-40. Criado no fim de 2005, o grupo reúne as 40 maiores cidades do mundo com o objetivo de unir forças para combater o aquecimento global.
Em 2006, o C-40 fechou parceria com a Fundação Clinton, que se encarregou de assessorar uma série de ações visando a acelerar as reduções de emissões de gases de efeito estufa. Hoje, metade da população mundial vive em cidades.
“Essa cooperação é fundamental. Lançamos um programa de eficiência energética em edifícios. Estimulamos a criação, pelas cidades, de códigos de construção que só permitam novas edificações dentro de padrões de eficiência energética”, disse.
Mas, de acordo com Magaziner, não basta limitar a eficiência aos prédios novos: é fundamental uma ação retroativa nos prédios antigos, incentivando mudanças que melhorem a iluminação e ventilação naturais e automatizem sistemas de ar-condicionado e de iluminação.
“Procuramos garantir ao proprietário dos prédios um retorno financeiro com base na melhor performance energética do edifício. Para isso, estabelecemos parcerias com alguns dos maiores bancos e empresas de energia. Os proprietários são estimulados a aderir quando não precisam investir do próprio bolso, por isso o programa é sustentável”, afirmou.
Necessidade de adaptação
Também presente na abertura da Conferência Municipal de Produção Mais Limpa, o meteorologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, foi categórico ao afirmar que não é mais possível reverter o aquecimento global.
“Podemos reduzir seu impacto a ponto de evitar uma catástrofe se conseguirmos, com grande esforço, reduzir de 60% a 70% das emissões globais. No cenário mais otimista, podemos estabilizar o aquecimento entre 2ºC e 3ºC”, disse.
Para Nobre, a melhora da eficiência energética poderá reduzir, no máximo, 10% das emissões. “Temos que reduzir emissões, mas é ainda mais importante, no Brasil, saber o que fazer para nos adaptarmos às mudanças climáticas que virão. Este é um país desigual, com altos índices de pobreza e que, por isso, está entre os mais vulneráveis às mudanças, principalmente nas grandes cidades”, disse.
Segundo Nobre, o Brasil poderá vir a ser uma potência ambiental. “Para isso, a cidade de São Paulo deve dar o exemplo e liderar o processo, tornando-se uma das megacidades com menor emissão per capita do mundo, ao mesmo tempo que aumenta a capacidade de adaptação de seus habitantes às mudanças climáticas”, destacou.
Para reduzir as emissões urbanas, Nobre recomenda também a redução de densidade de construções, a mudança de altitude das edificações, o aumento de ventilação natural nos prédios, a criação de sombras na cidade – com mais árvores e vegetação – e o uso de materiais de alto poder de reflexão nas edificações.
“Será preciso ainda fazer restrições ao tráfego de veículos e melhorar a infra-estrutura de recursos hídricos, reduzindo vazamentos e criando sistemas de aviso de risco de enchentes e deslizamentos. Mas, para nos adaptarmos às mudanças, será fundamental que tenhamos investimentos em estudos sobre as vulnerabilidades”, afirmou.
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 23/8/2007)