O amanhecer gelado chegou como um alívio para Marlen Mayhua. Ela e sete membros de sua família despertaram de um agitado repouso em colchões - e um carrinho de frutas - espalhados pela empoeirada calçada em frente aos destroços de sua casa. O devastador terremoto da semana passada derrubou a estrutura de três cômodos, deixando a família de Mayhua faminta e dormindo na rua. Os parentes planejam permanecer ali até que consigam reconstruir a casa que família viveu por 45 anos, e restaurar suas vidas despedaçadas.
Na terça-feira, Mayhua, 32 anos, tomou os primeiros passos para reerguer sua família e 20 outras pessoas de sua rua, cinco dias após o terremoto ter varrido esta cidade praiana no sul do Peru. Apesar de aviões repletos de auxílio chegando de países do mundo inteiro, peruanos por toda a área devastada pelo furacão lutam para conseguir alimentos e água para sobreviver. Esforços de socorro tiveram sucesso apenas parcial, com confusão reinando em alguns centros de auxílio, além da propagação de doenças.
"Existem áreas nas quais as doações ainda não chegaram, isso é claro", disse o presidente do Peru Alan Garcia na terça-feira, notando que helicópteros de ajuda continuam chegando às áreas afetadas. Para muitos dos estimados 80 mil peruanos afetados pelo terremoto, as opções são escassas. Mayhua e sua família se recusaram a procurar abrigo longe de seu lar destruído por medo de que seja completamente demolido e, sem um título imobiliário, nunca mais conseguirem recuper o terreno.
Porém os esforços de Mayhua em conseguir uma tenda para proteger sua família do vento gelado da noite e da poeira sufocante não funcionaram, e agora alguns de seus parentes estão começando a sofrer. "Estou com gripe, mas não vou deixar que isso me incomode", disse ela na manhã de terça-feira enquanto saía para procurar alimentos, água e uma barraca. "Nosso vizinho ainda não consegue andar após ter machucado a perna no terremoto, e alguns de nós estamos tossindo bastante".
Moradores de Pisco, onde o terremoto causou a maior parte dos danos e tirou mais vidas, vêm apresentando sintomas de uma variedade de doenças. Muitos dizem temer contrair doenças dos corpos ainda enterrados nos escombros ou dos cadáveres sendo coletados na Praça das Armas, área central para resgates médicos e identificação de corpos. As preocupações de saúde mudaram de doenças relacionadas a traumas para gripes, infecções nos brônquios e olhos, fortes alergias na pele e problemas intestinais como diarréia.
(Por Alexei Barrionuevo,
The New York Times, 22/08/2007)