Lajeado - Lugar de lixo é na lixeira. A repetitiva frase parece que ainda não faz parte do dia-a-dia de grande parte da população ou está tão batida que seu significado já não tem mais importância. Pelo menos é o que se verifica ao andar por ruas centrais, onde a circulação diária de pessoas é bem maior. Papéis, plásticos, pedaços de madeira e alimentos, tocos de cigarros, entre outros materiais, são jogados no chão, transformando esses espaços em uma grande lixeira e sujando a cidade.
Ao sair a campo na tarde de segunda-feira, a equipe do jornal O Informativo do Vale analisou por 30 minutos pontos situados nas ruas Júlio de Castilhos e Bento Gonçalves, e na Avenida Benjamin Constant. E o que se constatou é que ainda faltam conscientização e preocupação com o que é público. Mesmo ao passar próximo das lixeiras, alguns preferem jogar entulhos em qualquer lugar. Outros, que ainda são minoria, respeitam a regra de depositar o que já não interessa mais no lugar adequado. Conforme o chefe de equipe da Secretaria de Obras e Serviços Urbanos, Gilmar Antônio Pretto, é preciso uma grande campanha para tentar mudar essa realidade.
Atualmente a Administração Municipal conta com uma equipe de quatro pessoas - um motorista, um operador e dois operários - para realizar a limpeza urbana. "Hoje a demanda de trabalho é bem maior do que o efetivo. Quando precisamos, a Secretaria de Agricultura disponibiliza funcionários", revela. Pretto acrescenta que o problema também atinge os bairros de Lajeado. "Se não tivéssemos que limpar a sujeira deixada no chão, poderíamos fazer outros serviços", emenda. O chefe de equipe reforça ainda que nada adianta espalhar mais lixeiras pela cidade se a conscientização não fizer parte do cotidiano da maioria das pessoas. Por isso não custa nada repetir: lugar de lixo é na lixeira.
Na mesma rua, duas realidadesNa Bento Gonçalves, na quadra entre as ruas Santos Filho e Alberto Torres, o cenário era de limpeza. Durante a meia hora analisada nenhum pedestre colocou lixo na lixeira existente no meio do quarteirão ou preferiu jogar no chão. Segundo o vendedor de cartela do Estacionamento Rotativo Adriano Klue (17), que trabalha nessa área da cidade, poucas vezes se vê sujeira jogada na rua. O que é mais comum no local são tocos de cigarro. "Isso o pessoal não respeita mesmo", revela o jovem. Embora os resíduos estivessem na lixeira, eles não foram separados antes de ser depositados para recolhimento.
O fato de a própria lixeira não estar devidamente dividida para a coleta seletiva contribuiu para o erro. Mas bastou andar alguns passos pela mesma rua para visualizar uma situação diferente: uma lixeira lotada e lixo espalhado pelo chão. Esta fica na quadra entre a Santos Filho e a João Batista de Melo. Apesar de ninguém ter jogado lixo na rua durante a blitz, a imagem revela que quem passou por ali momentos antes parece não ter visto a lixeira ou já se acostumou a jogar em local público o que já não lhe interessa mais.
No chão não, no carro simApesar de ser uma das esquinas mais movimentadas da Benjamin Constant, ninguém usou a lixeira em frente do Geneshopping no horário das 14h30 às 15h. O cesto azul estava quase vazio, com exceção de uma carteira de cigarros. Mas também ninguém foi visto jogando lixo no chão. Em compensação, nos veículos estacionados havia vários exemplares de impressos em cima dos pára-brisas. Depois de analisados os preços, é claro, a panfletagem vira sujeira. Contudo, existem moradores conscientes. O motorista João Batista Godoy sempre depara-se com os papéis à vista quando retorna para o carro. A propaganda não incomoda, mas ele precisa retirá-la de sua linha de visão para poder dirigir. Em vez de colocar fora, guarda no veículo para então jogar na lixeira em casa. "Nunca boto no chão. Como motorista de ônibus eu tenho um cestinho onde deposito os bilhetes de passagens que recebo. Não atiro fora."
Elas quase não são usadasO chão estava limpo em frente da Casas Bahia, na Rua Júlio de Castilhos, ontem à tarde. Ao mesmo tempo, as lixeiras praticamente não foram usadas nos 30 minutos de observação. O que chamou a atenção foi a falta de distinção entre lixo seco e orgânico. Os recipientes destinados aos variados materiais continham os mesmos resíduos, como se não houvesse diferenças em sua composição.
Exceção foi o menino José Artur Masiero Faria (7). Ele fez questão de parar e jogar a embalagem dos seu chicle na lixeira destinada ao material seco. "Na escola eles ensinam isso. Quando vejo alguém mais velho que não joga no lugar certo eu advirto", conta o pequeno civilizado.
O contador Erineu Motta parece representar o comportamento da maioria das pessoas. Erineu levava na mão papéis dos bombons que recém havia comido e esperava encontrar uma lixeira. "Se eu encontrar, tudo bem. Se não encontrar, jogo no chão mesmo", admite.
Benjamin Constant, em frente do INSSMesmo com o grande movimento que há em frente do INSS - devido à parada de ônibus, na Avenida Benjamin Constant - a calçada está limpa. Há apenas alguns tocos de cigarros jogados no cordão da calçada. Isso mostra que a maioria das pessoas utiliza o lixo. No local também é comum a distribuição de panfletos. Durante meia hora duas pessoas jogaram fora o material impresso, dentro do recipiente apropriado. E apenas uma deixou o papel na parada de ônibus. A estrelense Daniela da Silva que aguardava para retornar ao seu município e também segurava um papel de propaganda nas mãos costuma aceitar folhetos apenas quando é algo de seu interesse: "Acho um absurdo as pessoas que deixam lixo atirado no chão".
Consciência européia orienta brasileiroO período de meia hora na Rua Bento Gonçalves, entre as ruas Alberto Torres e a Carlos Von Koseritz, possibilitou a constatação de que os pedestres lajeadenses não costumam produzir lixo ou guardam em bolsas e bolsos para colocar nos cestos em casa. Apenas duas pessoas demonstraram ter material para jogar fora e ambos puseram na lixeira em frente do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat).
Primeiro foi a estudante Sabrina Landmeier, que colocou pequeno papel de chicle no cesto. Diz ser um hábito, mas reconhece que tem muita gente que não costuma fazer isso. "É uma pena", lamenta. Proprietário de um posto de lavagem no Centro, Marciano Gisch, destaca que criou a mania de jogar o lixo nas lixeiras com um amigo. "Ele viajou para a Europa e disse que lá, se você coloca algo no chão, as pessoas lhe falam que está errado", conta. "Depois disso nunca mais atirei por aí", afirma.
A conscientização de ambos não é consenso. Muitos optam por jogar os restos em qualquer lugar, o que explica a possibilidade de ser encontrados pacotes, papéis e pedaços de cigarro pelas calçadas. Algumas tentativas de depositar no lixo podem ser frustradas também, pois caso os volumes sejam de tamanho reduzido, estes podem passar pelas grades dos cestos e acabar nas ruas.
Calçada não é cinzeiroAlém de servir para os pedestres andarem, a calçada da Rua Júlio de Castilhos, em frente da Caixa Econômica Federal, também assume a função de cinzeiro. Apesar de existirem quatro lixeiras no trecho de aproximadamente 30 metros, em duas ocasiões o toco do cigarro teve como destino o chão. O flagrante aconteceu ontem, entre as 14h09min e as 14h39min. Em ambos os casos s pessoas seguiram apressadas para dentro da agência. Quem também demonstrou pressa foram dois pedestres que depositaram papel na lixeira destinada a resíduos orgânicos. A única justificativa dada por um deles foi um rápido "estou atrasado." Quem fez bonito e jogou o entulho no lugar certo foi o cruzeirense Alexsandro Duarte (23). O papel de propaganda aceito por educação parou na cesta para resíduo seco. "Aqui tem bastante lixeiras. O pessoal não utiliza por falta de educação mesmo."
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O Informativo do Vale, 21/08/2007)