O santo protetor do meio ambiente e dos animais foi evocado na tarde de ontem durante a inauguração da microusina de álcool construída pela Cooperativa Mista dos Fumicultores do Brasil (Cooperfumos), localizada na RSC-471 na região de Capão da Cruz Oeste, na frente da entrada para o Autódromo Internacional. São Francisco de Assis é o padroeiro do Complexo Agroindustrial e Profissionalizante do Vale do Rio Pardo, que abre uma nova fase para a produção de energia em pelo menos 60 municípios gaúchos.
Instalada em uma área de 41 hectares, cedida pela prefeitura de Santa Cruz, a unidade faz parte de um projeto mais abrangente que visa estimular a produção de biocombustíveis na região. Nesta primeira etapa a usina vai funcionar de maneira experimental, mas a partir do ano que vem existe a possibilidade de ampliar o empreendimento.
Segundo o presidente da Cooperfumos, Gilberto Tuhtenhagem, o objetivo é instalar pelo menos outras 40 usinas do mesmo porte em todas as cidades localizadas na área de abrangência do complexo. Elas ficariam em comunidades e os produtores se associariam para realizar o beneficiamento da cana-de-açúcar para extração de álcool. Parte deste combustível serviria para abastecer motores diretamente nas propriedades.
Em uma segunda etapa, prevista para ocorrer em 2008, a direção da cooperativa pretende adquirir uma coluna retificadora para deixar o álcool de acordo com os padrões exigidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Com isto, explica o presidente, seria possível realizar a comercialização do produto para postos de combustíveis. Isto, no entanto, ainda dependeria de autorização da Petrobras. O investimento nesta fase deve chegar a R$ 1 milhão.
Enquanto isto não acontece a usina implantada no Complexo São Francisco de Assis vai garantir produção de álcool que será usado nos veículos da própria Cooperfumos. “Aqui também vamos oferecer capacitação para que os agricultores tenham condições de compreender como funciona o processo de produção”, disse.
BiodieselEntusiasmados com a inauguração, dirigentes ligados ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) comemoraram a oportunidade que se abre com o empreendimento. Eles anunciaram que ao mesmo tempo em que estiverem sendo desenvolvidas ações referentes à produção de álcool, vai ser realizado um trabalho que visa fomentar a produção de biodiesel a partir de sementes de oleaginosas.
Para isto, inclusive, já começaram a ser produzidas mudas de tungue e pinhão-manso, que serão repassadas aos produtores cadastrados. A previsão da Cooperfumos é de que sejam consumidos pelo menos quatro anos de trabalho até que se obtenha produção suficiente a fim de garantir a extração de óleo vegetal, que pode ser transformado em biodiesel.
Saiba mais•• O processo de produção do álcool a partir da cana-de-açúcar é dividido em três etapas. A primeira consiste no esmagamento da matéria-prima para retirada do caldo de cana. Depois disso o líquido é sugado para duas vasilhas nas quais permanece em fermentação por cerca de 12 horas. Após esta fase o material passa pelo processo de destilação, realizado em uma caldeira, que resulta em álcool combustível.
•• O bagaço resultante da prensagem da cana poderá servir como alimento para o gado ou para adubação orgânica. Os resíduos da fermentação, chamados de vinhoto, são armazenados em uma fossa para serem aplicados como corretivos do solo.
•• A unidade inaugurada ontem servirá de modelo para os agricultores. No local serão oferecidos treinamentos para que eles aprendam como ocorre o processo de produção do combustível. Pelo projeto da Cooperfumos, serão construídas pelo menos 40 unidades semelhantes na metade sul do Estado. A proposta é reunir os produtores para que eles instalem os equipamentos em uma central e realizem o beneficiamento da cana de forma associada. O combustível resultante pode ser usado para mover motores e as sobras encaminhadas para processamento na usina para posterior comercialização.
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Gazeta do Sul, 22/08/2007)