Ainda não se chegou a conclusão nenhuma sobre a causa da mortandade de milhares de peixes da espécie bagre encontrados na última segunda-feira às margens da Laguna dos Patos, em Pelotas, desde o Pontal da Barra até a Colônia de Pescadores da Z-3. Uma hipótese já foi descartada e outra tem gerado muita controvérsia.
Conforme o professor do Laboratório de Ictiologia da Fundação Universidade de Rio Grande (Furg), João Vieira, não há possibilidade de os peixes serem rejeitos de pesca industrial. “Se fosse assim, certamente se aproveitaria algo deles”, disse Vieira, que ontem esteve no local coletando amostras do conteúdo estomacal dos peixes para análise. “Se fosse rejeito de pesca, não haveria alguns peixes ainda vivos”, completa o biólogo da Consultoria e Projetos Ambientais (CPA), Roberto Baltar. O fato de os animais não apresentarem marcas de malha das redes descarta o rejeito de pesca não-industrial.
A possibilidade de o frio ter sido responsável divide opiniões. Para Roberto Baltar, do CPA, esta suposta causa foi descartada, porque o bagre não é um peixe tropical, ou seja, ele não é sensível a baixas temperaturas e pode suportá-las.
Em oposição, para a bióloga da Secretaria de Meio Ambiente de São Lourenço do Sul (onde foram encontrados os primeiros peixes mortos), Carla Souza de Freitas, a temperatura baixa é considerada a principal causa. “O frio intenso e constante teria resfriado tanto as águas da laguna a ponto de fazer com que o bagre não se recuperasse mais”.
Apesar de afirmar que nenhuma hipótese ainda pode ser sustentada, Roberto Baltar explica o que, para ele, seria mais provável. “Mesmo não havendo nenhuma evidência até agora, cada opinião não passa de um palpite. Uma possível causa seria a ecotoxicológica, devido à remoção de resíduos tóxicos do fundo da laguna provocada por uma dragagem”. Ou ainda, caso não tenha sido feita nenhuma dragagem no local, os tais resíduos tóxicos poderiam ter sido removidos pelo fenômeno de ressurgência, provocado por oscilações térmicas, contaminando os que habitam o fundo: diversas espécies de bagre.
Além de em toda a extensão da Laguna dos Patos, centenas de peixes também foram encontrados, no último final de semana, na Praia do Cassino, em Rio Grande, e na Laguna dos Patos em São Lourenço do Sul.
Mistério IIO fato de alguns exemplares de bagres estarem sem o filé (parte nobre), que foi retirado à faca, não é motivo suficiente para se acreditar que os peixes sejam rejeito de pesca industrial. Para o biólogo Roberto Baltar, é muito pequeno o número de peixes que se encontravam assim e, apesar do corte ter sido bem feito, em uma indústria não ocorreria tanto desperdício de carne. “Uma hipótese seria que alguém já tivesse passado por ali e recolhido algum material para análise”, opina Baltar.
(
Diário Popular, 22/08/2007)