Mau uso de aqüífero reduz a vazão de dez poços em Bauru (SP)
aquífero guarani
cerrado
2007-08-22
O Aqüífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea do mundo, responsável pelo abastecimento de 60% de Bauru, dá sinais de alerta. Exatos 10 dos 29 poços profundos do Departamento de Água e Esgoto (DAE), espalhados pela cidade, estão com a vazão comprometida. O nível do lençol freático baixou em torno de 30 metros nos últimos anos, uma conseqüência da superexploração.
“A superexploração é a principal causa da diminuição do volume de água. O resultado é notório porque, cada dia que passa, fica mais trabalhoso retirar água dos poços”, explicou a química da divisão de produção do DAE, Giselda Passos Giafferis, responsável pelos trabalhos de retirada de água subterrânea. Os primeiros poços foram perfurados há mais de 20 anos e os técnicos da autarquia começaram a notar a diminuição da quantidade de água disponível há pelo menos 10 anos.
O pós-doutorando em geociências e meio ambiente Maurício Moreira dos Santos, um dos pesquisadores que irão apresentar trabalho na 2.ª Jornada Aqüífero Guarani, que começa hoje e segue até sexta-feira no Teatro Municipal, em Bauru, também comprovou que o manancial é superexplorado em Ribeirão Preto e em Bauru.
Além dos 29 poços profundos do DAE que captam água do manancial – a maioria localizada em bairros da periferia da cidade -, outros 320 estão cadastrados na autarquia municipal como poços particulares. Mas o problema maior está nas outras aproximadamente 1 mil perfurações sem autorização. No Estado, estima-se que 70% dos poços são ilegais.
A estimativa do DAE é que a maioria dos donos de poços clandestinos retirem água da superfície, no Aqüífero Bauru, já que quanto mais profundo for, mais caro é o custo de perfuração. E é justamente as águas da superfície do Aqüífero Bauru que abastecem o Aqüífero Guarani. “Existe uma interligação entre os dois aqüíferos, ou seja, um recarrega o outro. A nossa preocupação é com a possibilidade da água dos poços irregulares contaminarem o manancial maior”, alerta Giafferis.
Em alguns bairros da região central e noroeste da cidade, onde a camada de rochas é mais fina e, conseqüentemente, a proteção das águas subterrâneas pelo solo é menor, já há contaminação de águas do Aqüífero Bauru.
Capacidade esgotada
Em março deste ano, os bauruenses tiveram uma surpresa ao saberem que o perímetro urbano da cidade não suporta a perfuração de mais nenhum poço profundo. O estudo foi realizado pela Hidro Brasil, empresa contratada pelo DAE. Daqui para frente, a saída será explorar a bacia do rio Batalha e do córrego Água Parada, fora dos limites urbanos da cidade, perfurando poços a mais de 500 metros de profundidade.
Um poço de 400 metros de profundidade custa aproximadamente R$ 1 milhão. O custo da perfuração de poços mais fundos, portanto, será maior. Segundo os pesquisadores, uma superexploração do manancial pode levar a prejuízos ao abastecimento - pela elevação do custo da retirada da água - e passa a ser vantajosa outra alternativa.
Outra pesquisadora que participará da jornada sobre o Aqüífero Guarani, Pilar Carolina Villar, constatou que, para piorar a situação, com o solo bastante impermeabilizado pelo asfalto, fica mais difícil a água da chuva chegar ao aqüífero para fazer a recarga. “Há uma orientação do DAE para que os loteamentos lançados no futuro não utilizem massa asfáltica no solo. Nesse caso, os bloquetes seriam uma opção”, disse Giafferis. “A água da chuva em Bauru, tem que ficar no subsolo da cidade”, resume.
Lei
No Brasil, há legislação específica no que diz respeito à utilização da água. No artigo 2 da lei n.º 9.433 criada em 1997, está escrito que o objetivo é “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, a utilização racional e integrada dos recursos hídricos brasileiros.”
Cerrado
Bauru está crescendo e as áreas mais valorizadas são justamente as que têm matas, que são cobiçadas pelo mercado imobiliário. O desafio é garantir o desenvolvimento da cidade e, ao mesmo tempo, preservar as áreas de cerrado que ainda restam. Como o Jornal da Cidade já adiantou, o desaparecimento do cerrado pode significar muito mais do que a morte do segundo maior bioma brasileiro.
Ele pode interferir também na sobrevivência do Aqüífero Guarani, que depende desse tipo de vegetação para reabsorção da água. Um estudo geológico realizado pelo DAE mostra que, em Bauru, a água subterrânea que abastece o aqüífero se infiltra justamente pelo leito dos 11 riachos que cortam a cidade.
(Jornal da Cidade de Bauru, 22/08/2007)