Cada vez que um animal encalha ou é encontrado debilitado nas praias do litoral paulista, o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos, instalado na Ilha dos Arvoredos, no Guarujá (87 km de São Paulo), é acionado.
Nos últimos meses, de acordo com o Centro, a freqüência desses eventos se intensificou. Entre julho e agosto, 18 animais já passaram pelo local. Entre eles, lobos marinhos, tartarugas, um filhote de baleia, uma foca e um golfinho. A intenção é reabilitar esses bichos, para depois devolvê-los à natureza.
O projeto existe graças à parceria entre o Ibama, a ONG Gremar, a Secretaria de Meio Ambiente de Guarujá, a Fundação Fernando Lee e a universidade Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) campus Guarujá, que administra a ilha. Ele também faz parte da Remase, uma rede de encalhe de animais marinhos que envolve, além do Ibama, ONGs, prefeituras da região, a Polícia Ambiental e Corpo de Bombeiros, colocando em prática um plano emergencial de atendimento a esses animais.
RetornoEm 17 de julho, um golfinho da espécie nariz-de-garrafa, que havia encalhado numa praia da região, foi solto no mar. Ele passou por uma semana de cuidados intensivos no Centro e pôde voltar a seu habitat com segurança. Em 9 de agosto, depois de 12 dias se recuperando na ilha, uma foca caranguejeira também retornou às águas de onde havia surgido.
Antes de serem soltos, os animais recebem um chip instalado abaixo da pele, para controle e identificação. Cada vez que isso acontece, a sensação é de dever cumprido para os veterinários envolvidos no projeto. Ao mesmo tempo, mesmo com todos os esforços, nem sempre é possível salvar algumas espécies.
Morte de bebê baleia O filhote de baleia da espécie Minke, encontrado encalhado em uma praia do Guarujá em 7 de agosto, não conseguiu sobreviver longe da mãe e morreu no dia 12.
Santinha (como foi apelidada) provocou uma comoção na região. Para que sua mãe fosse encontrada, os especialistas do Centro de Reabilitação de Animais Marinhos da Ilha dos Arvoredos, para onde o animal foi enviado, emitiram um comunicado aos pescadores e embarcações locais para que, se avistassem uma baleia, entrassem em contato com a Unaerp ou com o Ibama. Mas, infelizmente, a espécime adulta não foi localizada.
Enquanto esteve no Centro de Reabilitação, o bebê consumia cerca de 20 litros de leite por dia, a cada duas horas. De acordo com a veterinária do Centro, as chances de sobrevivência da baleia longe da mãe eram remotas. Mesmo assim, o animal foi mantido vivo durante cinco dias, fato já inusitado. Agora, as possíveis causas do encalhe estão sendo investigadas.
Encalhes freqüentes Santinha não foi a única vítima recente desse tipo de ocorrência. Logo após a morte da Minke, dois outros filhotes de baleia foram encontrados encalhados na região, mas não conseguiram ser resgatados com vida. No dia 12, um recém-nascido da espécie Bride, com 4,5 metros de comprimento, foi encontrado na Praia Grande ainda com o cordão umbilical. E na quarta-feira (15) foi registrado o encalhe de outro animal da espécie Franca do Sul, em Itanhaém.
Segundo o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos da Ilha dos Alvoredos, várias hipóteses estão sendo investigadas para esses aparecimentos atípicos. Entre elas, as variações climáticas provocadas pelo fenômeno La Niña, mudanças nas correntes marítimas, modificações nas condições de pescado no mar e os eventos de sísmica relacionados à prospecção de gás e petróleo.
A ilha Até a década de 50, a Ilha dos Alvoredos era apenas um rochedo em frente à Praia de Pernambuco, no Guarujá. Ela surgiu a partir de um sonho do engenheiro Fernando Eduardo Lee, que recebeu sua concessão para fins científicos.
O idealizador e realizador da ilha dedicou boa parte de sua vida às pesquisas científicas realizadas no local. Construiu toda uma infra-estrutura que possibilitou deixar a ilha auto-suficiente em água potável e energia.
Além das pesquisas na área de tecnologia, foram desenvolvidos experimentos em fauna e flora, transformando o que era antes um simples rochedo em uma “Ilha Encantada”, com diversas espécies, algumas raras, de animais, pássaros e plantas.
Após a morte do pesquisador, em 1994, a Unaerp assumiu a direção da Fundação Fernando Eduardo Lee e continua administrando e dando continuidade aos projetos científicos implantados no local.
(Por Carla Ferenshitz,
G1, 19/08/2007)