Maior plantador de arroz de Roraima mantém planos para próxima safra
“Não quero saber da ONU nem do governo. Só quero continuar produzindo. Aproveitei a baixa do dólar e comprei todos os insumos para a próxima safra de verão: sementes, adubos e fertilizantes para os 4 mil hectares de arroz que vou plantar.”
Foi assim que o fazendeiro gaúcho Paulo César Quartiero, o maior produtor de arroz de Roraima, reagiu ontem à informação de que a ONU está pressionando o governo brasileiro para que retire os arrozeiros da reserva Raposa Serra do Sol. Ele tem duas fazendas no interior da área, num total de 9.200 hectares. Além do arroz, também cria gado e planta soja.
“Começo a colheita da soja no fim deste mês”, continua ele, tentando demonstrar tranqüilidade diante de uma possível ação de despejo. “Soube que estão montando uma operação de guerra, com a Polícia Federal, helicópteros, barracas de campanha, ambulâncias. Parece até que vão investir contra o reduto do Antonio Conselheiro. Isso me honra, mas eu não posso ser comparado a ele: sou muito mais gordo.”
Quartiero é apontado freqüentemente pelos índios como o principal responsável pelo clima de tensão que predomina na área. Até fevereiro deste ano, ele era o prefeito de Pacaraima - município situado na fronteira com a Venezuela -, que teve a maior parte de seu território engolfada pela terra indígena Raposa Serra do Sol. Ele deixou o cargo após ser cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Roraima, sob acusação de abuso de poder econômico.
O fazendeiro, espécie de porta-voz do grupo de grande arrozeiros que permanece no interior da terra indígena, tem repetido exaustivamente que as decisões favoráveis aos índios ignoram aspectos econômicos: “O arroz que produzimos aqui abastece Manaus, Santarém e vários outros pontos da bacia amazônica. Com uma área de aproximadamente 16 mil hectares dentro da reserva, somos responsáveis por quase 10% do PIB de Roraima. Será que isso não deve ser levado em conta?”
Para Quartiero, os índios de Roraima estão sendo instrumentalizados por entidades católicas e organizações não-governamentais, com financiamento obtido no exterior: “O que está por trás dessa questão é o interesse internacional em criar uma zona controlada por ONGs, na fronteira do Brasil com a Venezuela. No final do segundo mandato do governo do Fernando Henrique, o ministro do exterior, Luiz Felipe Lampréia, assinou convênios com várias ONGs alemãs, que estão muito presentes na área.”
O fazendeiro promete resistir a qualquer tentativa de despejo. E chega a fazer certo suspenso, dizendo que tem um plano para isso.
Caso seja mesmo obrigado a deixar a área, ele deve ir à Justiça brigar com o governo pelo valor da indenização de suas benfeitorias na área: “Me ofereceram R$ 2,2 milhões. Mas, pelos meus cálculos, o que eu possuo, incluindo a máquina de beneficiamento de arroz da cidade, chega a R$ 60 milhões.”
Os fazendeiros não têm títulos de propriedade das terras que ocupam. Por causa disso, não devem receber indenizações pelas áreas, mas sim pelas melhorias que realizaram, em décadas de ocupação.
(Por Roldão Arruda, O Estado de S.Paulo, 18/08/2007)
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