A transposição do Rio São Francisco, tema que tem provocado muita polêmica, será alvo, nesta semana, de manifestações contrárias e favoráveis. Amanhã (22/08), os dois grupos - um contra e outro a favor da idéia - devem se encontrar em Brasília. Uma caravana com especialistas e representantes de movimentos sociais percorre, desde ontem, 11 capitais brasileiras com atividades contrárias à medida.
Ao mesmo tempo, representantes dos Estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará organizam uma marcha até Brasília em apoio à transposição e ao presidente Lula, que deu a ordem para o início das obras. O Batalhão de Engenharia do Exército começou, há dois meses, a fazer as obras preparatórias para a construção dos dois canais que levarão água do São Francisco aos Estados mais distantes.
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos líderes do movimento contrário à transposição, Apolo Heringer Lisboa, propõe um debate sobre a iniciativa com os governadores que a apóiam. “Estamos dispostos a discutir o assunto com eles. O Brasil só tem a ganhar com com isso”, desafiou.
Para Lisboa, a transposição tem características semelhantes à construção da Rodovia Transamazônica, iniciada no governo militar. “Assim como a rodovia, que tem o mesmo idealizador, o ex-ministro Mário Andreazza, a transposição é uma grande mentira, que não vai resolver o problema da falta de água no semi-árido, até porque é impossível que água concentrada chegue à população espalhada pelo sertão”, disse.
A principal crítica dos que são contrários à transposição é que a proposta, de acordo com eles, destina-se somente a atender a projetos de irrigação, em detrimento do abastecimento à população.
O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), um dos defensores do projeto, questiona esta interpretação. “A transposição significa tirar apenas 3% da água do rio para resolver o problema de abastecimento de 12 milhões de nordestinos. Estamos fazendo uma reação legítima em defesa da proposta do governo, principalmente dos Estados que serão beneficiados.” Atendendo a um pedido do ministro da Integração Nacional e defensor do projeto, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), os governadores de quatro Estados favoráveis à transposição montaram comitês em defesa da proposta do governo. O Comitê Paraibano em Defesa da Transposição é dirigido pelo arcebispo Aldo Pagotto.
Amanhã, os dois grupos se encontram na frente do Congresso. Na quinta, haverá um debate na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo, seguido por caminhada.
(Por Moacir Assunção,
O Estado de S.Paulo, 21/08/2007)