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aracruz/vcp/fibria mst
2007-08-21
Nos últimos 15 anos, a Aracruz tem crescido aproximadamente 11% ao ano.  Entre 2007 e 2017, pretende duplicar sua atual capacidade.  “O setor de celulose brasileiro é extremamente competitivo”, conta Carlos Aguiar, presidente da empresa.  Afinal, o eucalipto aqui cresce em sete anos, enquanto nos EUA e no Canadá leva 70 anos, por causa do clima.  Na Austrália, de onde o eucalipto é originário, demanda 30 anos.  “Ou seja, somos top de linha”, diz o executivo que, apesar da bonança, tem enfrentado pesadas invasões de terras produtivas: do MST, dos quilombolas e dos índios.

Vão aqui trechos da sua entrevista para falar sobre este tema:

Como a Aracruz está enfrentando as invasões do MST, índios e quilombolas?

Ter três invasões simultâneas, em áreas produtivas da empresa, significa que temos que lidar com a Justiça para obter reintegração de posse e, depois, com o governo dos Estados, onde estão estas áreas, no caso Bahia e Espírito Santo, para fazer acontecer a reintegração, o que nem sempre acontece.  Por exemplo: no caso dos índios, dependemos da Polícia Federal, que depende de autorização do Ministério da Justiça, um negócio complicado que dura semanas, às vezes até meses, como é o caso das terras que estão com os índios, sem que possamos utilizar uma área que é nossa, totalmente produtiva.

Qual o tamanho da área invadida?

Os índios invadiram uma área de mais ou menos 11 mil hectares, que estão reivindicando.  Para nós, é uma área importante, pois está muito próxima da nossa fábrica.  O pior é que a Justiça já deu a reintegração de posse, mas não se quer criar conflito maior: não interessa à Aracruz irritar ninguém.  Portanto, estamos aguardando uma resposta de Brasília, do Ministério da Justiça, à nossa contestação ao laudo do Funai.

O que os índios estão fazendo com a terra?

Na prática, homens brancos estão se aproveitando da situação.  Nossa madeira tem sido roubada, saem 60 a 70 caminhões por dia, virou uma máfia.  É um prejuízo para a empresa, pois, além de não estarmos utilizando a área, quando voltarmos não haverá mais árvores.  Teremos que comprar madeira em outro lugar.

A Aracruz aceitaria fazer algum tipo de acordo?

Podemos até estudar.  Mas terá que ser definitivo, na Justiça, para que não caiba nenhuma contestação.  Acredito que, hoje, os índios também têm consciência de que é muito melhor um acordo do que essa indefinição.  A empresa está aberta a isso.  Não temos nada contra os índios, são nossos vizinhos.  Antes da invasão, tínhamos um acordo de cooperação com eles, pelo qual a Aracruz se comprometia a investir R$ 2 milhões por ano.  Paralisamos este acordo por causa da invasão.

E com o MST, qual a situação?

Eles invadiram 500 hectares no município de Prado, no sul da Bahia.  No Rio, invadiram 11 mil hectares, mas lá já estamos com reintegração de posse decretada.  O problema é que apareceu uma nova entidade, a Ouvidoria Agrária, que, antes de fazer a reintegração, quer tentar um acordo entre as partes.  Tivemos várias outras invasões do MST, tanto no Espírito Santo como na Bahia, mas a mais importante foi aquela invasão da Via Campesina, com o apoio do MST, em Guaíba, no Rio Grande do Sul.  Lá, invadiram também os laboratórios de pesquisa.

E quanto aos quilombolas?

Essa é outra situação complexa, principalmente porque, por decreto do presidente Lula, qualquer pessoa pode se declarar quilombola.  Se a declaração for aceita pela Fundação Palmares e pelo Incra, essa pessoa tem o direito de dizer quanto precisa de área para sua subsistência.  Não basta termos toda a documentação de aquisição das terras certinha, tudo documentado desde 1800.  E isso não atinge só a Aracruz.  No Espírito Santo, há áreas da Suzano e de cerca de 120 pequenos proprietários de terra.  Inclusive de negros.

É difícil trabalhar nessas condições, tendo que enfrentar competidores externos?

Isso não pode ser usado contra vocês lá fora?  Não só pode, como é usado.  Só para te dar um exemplo, tivemos índios levados daqui para a Alemanha, para dançar em frente à fábrica de nossos principais clientes.  A nossa sorte é que a nossa credibilidade com esses clientes é muito grande.  Mas é claro que alguns mandaram emissários ao Brasil para verificar essa situação.  Teve cliente que contratou advogado brasileiro para conferir nossa documentação.  Optamos por manter a transparência e, por isso, a cada acontecimento, a cada invasão, eles são informados por nós, na mesma hora.  Convidamos para virem aqui.  E, quando é uma coisa grave, informamos o mercado também.

Como a Aracruz vê a atuação do governo federal nessas ações?

O que eu mais gostaria é que houvesse mais agilidade nas soluções desse tipo de problema.  Sobretudo quando você consegue uma reintegração.  Posso entender que qualquer reintegração é um conflito em potencial, mas acho que as autoridades têm que fazer valer a lei.  Ao gerar insegurança jurídica, o investimento será afetado.  Sei de gente que quer investir no Espírito Santo e vem me perguntar se essa questão dos índios, dos quilombolas, pode afetá-los.  Questionam-se onde ficarão mais seguros, aqui ou na China.  Além de agilizar decisões, o governo deveria agilizar soluções, procurar estabelecer uma legislação politicamente clara.  Treinar gente para negociar.  Fazer uma mediação baseada em critérios claros, em uma metodologia que todos reconheçam.  Você não pode ganhar só porque é rico ou poderoso.  E tampouco ganhar só porque é mais frágil, pequeno.  Tem que haver uma lei clara, correta, que possa valer para todo mundo.  O Brasil precisa ter essa consciência.

Você já pensou investir em outro lugar, além do Brasil?

Sim, temos estudado outros países, na América do Sul.  Mas continuo achando que o melhor lugar para se investir é no meu próprio país.  A gente não é executivo só para pensar na estratégia da sua empresa.  Eu penso também no Brasil e na inserção da minha empresa no País.

(Por Sonia Racy, O Estado de S.Paulo, 19/08/2007)


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