«Segundo vários estudos científicos, a distância de segurança para não existir perigo de contaminação entre uma plantação de transgénicos e outra plantação tem de ser entre nove a doze metros, mas a legislação portuguesa definiu como limite mínimo 200 metros», disse à Lusa a professora da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), Margarida Oliveira.
Perante a invasão, na sexta-feira, de uma herdade de Silves onde é cultivado milho transgénico e os alertas lançados pelos manifestantes anti-transgénicos, a professora diz que «é muito fácil meter medo às pessoas», garantindo que a realidade dos alimentos geneticamente modificados é bem menos assustadora. Gualter Baptista, porta-voz do movimento Verde Eufémia, que organizou a acção contra a Herdade da Lameira, explicou que a actuação serviu para alertar para o perigo da contaminação dos campos vizinhos e eventuais efeitos adversos na saúde pública.
Segundo Gualter Baptista, «estudos independentes revelaram alterações das funções hepáticas e renais, na absorção dos nutrientes e no pêlo e mutações» em ratos em laboratório sujeitos a organismos geneticamente modificados. Margarida Oliveira diz conhecer o referido estudo, que classifica de «nada credível» porque, entre outras razões, «o número de amostras não era significativo nem suficiente para se poder tirar qualquer conclusão».
A investigadora diz que existem no mercado dois tipos de milho transgénico: o resistente a insectos e o resistente a herbicidas e que «nenhum deles apresenta qualquer problema para a saúde humana». A professora da UNL desmente que haja qualquer relação destes alimentos com histórias de cancro ou alergias, como tem sido dito por associações ambientalistas.
Margarida Oliveira garante que os produtos disponíveis no mercado não apresentam qualquer problema para a saúde pública e lembra o estudo realizado pelo ITQB em 2005, com a colaboração do Instituto Ricardo Jorge e uma equipa de alergologistas do Hospital Santa Maria. Analisados os impactos de «todos os produtos existentes na Europa» em pessoas com alergias, o resultado foi conclusivo: «não há qualquer reacção alérgica», disse a investigadora.
«É muito fácil meter medo. Mas a verdade é que não há qualquer fundamentação científica para dizer esse tipo de coisas. Estamos a falar de produtos controlados e analisados», afirmou a professora da Universidade Nova de Lisboa. Contactada pela agência Lusa, a assessora do Ministério do Ambiente lembrou também que o cultivo de qualquer espécie que ainda não tenha sido testada e autorizada a nível comunitário tem de ser autorizada pela Agência Portuguesa do Ambiente.
«Até agora, a Agência Portuguesa do Ambiente recebeu apenas um pedido de uma empresa que pretendia fazer testes a um novo milho em Rio Maior, mas o pedido foi inviabilizado devido à proximidade de uma sementeira de culturas normais», garantiu a assessora, lembrando que as regras para fazer testes «são muito rígidas». Ou seja, segundo os responsáveis do ministério do Ambiente, caso a fiscalização esteja a decorrer normalmente, os cultivos de transgénicos existentes em Portugal não põem em risco a saúde humana.
Mas Gualter Ribeiro aponta outros perigos das plantações trangénicas: a existência de «uma forma de contaminação que tem vida própria e que é irreversível», que pode ocorrer pelo ar, uma vez que «o pólen pode voar quilómetros». Margarida Oliveira garante que a distância de segurança para a plantação de alimentos transgénicos em Portugal é cerca de vinte vezes superior ao estabelecido em vários estudos científicos.
«Qualquer cultura pode ser contaminada por uma existente ao lado, caso haja transferência de pólen, mas isso não constitui qualquer risco para a saúde das pessoas», afirmou a investigadora, acrescentando que «o único problema prende-se com o risco de uma produção não querer ter nada a ver com produtos transgénicos, mas para tal ocorrer é necessária uma quantidade muito elevada de pólen».
«Existem vários estudos que apontam a distância que o pólen consegue deslocar-se e a verdade é que as margens de segurança em Portugal são um exagero. A legislação portuguesa estabelece como limite 200 metros, porque na altura em que foi publicado o diploma não existiam ainda estudos feitos no país que apontassem um valor e decidiu-se pelo mesmo valor das zonas certificadas», explicou a investigadora.
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Lusa/SOL, 21/08/2007)