53% das instituições do terceiro setor buscam como ponto central a sustentabilidade. Para isso, 67% delas oferecem serviços de consultoria, 39% recebem lucro de conferências prestadas e 39% de serviços. Os dados são do Instituto William Davidson (WDI), da Universidade de Michigan, que, diante do trabalho de 10 anos com cerca de 350 organizações não-governamentais (ONGs) de todo o globo, criou um banco de dados acessível a todos os interessados e que possibilita, além de uma troca de experiências e iniciativas, indicadores sobre o setor.
"Nos últimos 15 anos observamos uma mudança drástica no terceiro setor que cada vez mais se afasta da filantropia. Hoje, por exemplo, as fundações como a Rockfeller não têm tanto sentido. Elas mudaram de caráter e não buscam doações em si e sim formas para sustentar experiências empresariais", contou o diretor do WDI, Robert Kennedy, durante a Conferência Internacional Inovação para o Terceiro Setor, que acontece em São Paulo.
A gerente de pesquisas do WDI, Kelly Janiga, que também estava presente no evento, concordou e apontou que a parceria e disseminação do conhecimento são elementos essenciais para que o terceiro setor alcance a sustentabilidade. "Com a troca de experiências é possível pensar e criar maneiras inovadoras de administrar as instituições", disse.
Uma dessas ligações, levantada por Kennedy, é a ponte de ONGs com os governos, que facilita a troca entre o terceiro setor e as empresas privadas. "Os problemas nas comunidades que necessitam de ajuda não são pontuais e precisam de intervenções interligadas. Portanto, os projetos também precisam ser interligados e responder a mais de uma questão", observou.
Kennedy insistiu também que para inovar nas políticas do terceiro setor é fundamental pensar em novas estruturas, modelos e métodos para mobilização de capital. "É possível até pensar na lógica capitalista, como venda de ações e investimentos na bolsa", observou.
Encontrar essa sustentabilidade é essencial para que no futuro o terceiro setor continue sendo um ator importante. "Em 2000, a população era de seis bilhões de habitantes. Em 2050, a previsão é de que o planeta totalize nove bilhões. Apesar do aumento, a população economicamente inserida continuará sendo de um bilhão de indivíduos, como é hoje. Logo, as organizações do terceiro setor, os governos, as empresas e a sociedade têm que se organizar de forma premente para receber esse aumento de demanda e lutar por justiça social", disse o superintendente do Instituto de Gestão Social (Gesc), João Paulo Altenfelder.
Entretanto, os pesquisadores não apontam toda essa inter-relação como inocente. "Para o governo são menos problemas a serem resolvidos, para as ONGs uma oportunidade de financiamento e para as empresas a capacitação de um mercado que será consumidor e a garantia do ambiente para que ela possa crescer e vender mais", concluiu Kennedy.
(Por Julia Dietrich,
Envolverde/Aprendiz, 20/08/2007)