Cerca de seis mil pessoas participaram ontem da 11ª Romaria das Águas e da Terra, em Belo Horizonte (MG). Com cantos, faixas, alimentos e água do Vale do São Francisco, além de carros de madeira carregando imagens de Nossa Senhora e do santo que dá nome ao rio, os manifestantes protestaram contra a transposição das águas do Velho Chico. Desde as 5h da manhã, no bairro Calafate, os integrantes de comunidades tradicionais e movimentos sociais chamavam a atenção para os problemas sociais, políticos e econômicos relacionados às realidades da água e da terra no estado mineiro. “Aproximar esses temas do cotidiano das pessoas faz com que cada um se sinta um pouco responsável”, analisou o coordenador da Romaria, padre José Januário Moreira.
Para ele, a transposição do rio deve ser destaque não só na romaria, mas no cotidiano da população de Minas e de todo o Nordeste. “O povo da bacia sanfranciscana clama por revitalização com terra, água, povo e rio vivo. Continuaremos lutando contra a transposição das águas do São Francisco.
Existe água no Nordeste. O que precisa é a sua democratização, necessitando um amplo projeto de convivência com o semi-árido. Transpor o Velho Chico é tratar a água como mercadoria, é priorizar o hidronegócio em detrimento da vida”, afirmou o padre.
Nem mesmo o cansaço e as marcas do tempo, expressados nos 72 anos de vida, foram suficientes para tirar o brilho e entusiasmo da aposentada Auxiliadora Maria. Ela foi de Ribeirão das Neves para participar do evento e disse que a celebração foi “muito importante e bonita”. Juarez Marelo, 42 anos, de Manhuaçu, chegou desde as 4h da manhã para participar do evento. Para ele, a Romaria representa “uma luta conjunta pelo resgate de nossas terras e águas”. Depois de caminhar por quase cinco quilômetros, os participantes chegaram à Praça da Estação, onde uma celebração eucarística encerrou a caminhada.
Estiveram presentes na 11ª Romaria integrantes da Caravana São Francisco em Defesa do Velho Chico e Semi-árido. Para Soraya Venini Tupinambá, da Frente Cearense por uma nova cultura da água e contra a transposição do São Francisco, a Caravana era uma oportunidade para a população brasileira discutir a transposição, já que o “debate público nunca existiu”. “A discussão sempre foi unilateral, com a ausência dos argumentos contrários”, completou Soraya.
Em Belo Horizonte desde o último dia 16, Ruben Siqueira, do Fórum em Defesa do São Francisco da Comissão Pastoral da Terra da Bahia, afirmou que “a Caravana é importante neste momento para levar ao conhecimento das pessoas as incoerências da transposição, já que os lobistas, que lutam pela a realização da obra, estão se mobilizando”. “A população de todo país precisa se mobilizar. Levar água a custo caro para o Nordeste não interessa ao Brasil”, avalia Rubem.
(Correio da Bahia, 20/08/2007)