Entre os dias 1º e 7 de setembro, movimentos sociais que integram a Campanha A Vale é Nossa vão realizar um plebiscito popular sobre o leilão que privatizou a Companhia Vale do Rio Doce. A pergunta é se o leilão, que foi realizado em maio de 1997, deve ser anulado ou não.
Para o economista e professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Vander Mendes, seria mais útil que houvesse pressão para que eventuais fraudes na privatização fossem punidas. Ele não vê possibilidade nem utilidade de uma eventual reestatização da empresa.
Mendes diz que os sinais de que houve fraude no processo de licitação podem e devem ser investigados ,e os responsáveis, punidos. “Os instrumentos de verificação dessas ilegalidades, dessas ilicitudes no ato da privatização e mesmo depois, para isso tem os instrumentos legais a serem utilizados, o Estado tem esses instrumentos”, disse. “E também tem como você punir, mesmo hoje, aqueles que participaram no processo de privatização.”
Para ele, contudo, isso não significa que a empresa deva voltar a ser estatal. “Eu não diria que esse seria o grande motivo pra você estatizar uma empresa desse porte, mesmo porque a gente tem que cobrir os investimentos que foram efetuados, e eles são muito significativos”, afirma Mendes.
Para o economista, algumas questões de eficiência da empresa devem ser observadas quando se cogita reestatizar a Vale. “Será que o setor público teria condições de tocar essa empresa, que hoje está entre as 10 maiores do mundo? Será que a gente conseguiria colocar ela sempre em nível mundial, como ela conseguiu chegar depois que foi privatizada?”, questiona.
Outros pontos também levam Mendes a ser contra a reestatização da Vale do Rio Doce. Ele lembra que o momento vivido pelo Brasil na época da venda era diferente do que é hoje. “Foi um momento de decisão que se tinha que tomar, ou se vendia essas empresas para o mercado ou ia ficar basicamente com os ditos dinossauros públicos.”
O economista acredita que o governo não teria condições de fazer os investimentos necessários para que a Vale chegasse ao grau de competitividade no mercado em que ela está hoje: “A gente já estava num gargalo, necessitando de investimento, como estamos necessitando até hoje”.
“Eu acho que temos muitas outras coisas com que se preocupar em relação ao Estado”, afirma. Para o economista, o Estado brasileiro ainda é muito carente e precisa aplicar melhor os impostos arrecadados em saúde, educação, infra-estrutura, saneamento básico. “A gente precisa se preocupar muito mais com isso do que propriamente com as empresas que foram privatizadas”, diz.
(Por Ana Luiza Zenker,
Agência Brasil, 18/08/2007)