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2007-08-19
Em um monastério de mais de mil anos, entre certificados de indulgências e cartas empoeiradas, um verdadeiro tesouro pode ser uma das peças que faltavam para que cientistas entendam as mudanças climáticas no planeta.

Na pequena cidade de Einsiedeln, nos Alpes suíços, monges guardam diários da Idade Média que descrevem dia a dia as condições meteorológicas da região. Os registros estão fazendo com que pesquisadores comecem a buscar dados em conventos e monastérios para tentar fechar um quebra-cabeça sobre o aquecimento global. Eles querem saber como estava a Terra há mil anos.

No monastério suíço, os diários se referem a uma pequena região. Os monges sequer imaginavam a existência de continentes como a América. Mas, para os pesquisadores, os documentos têm um valor incalculável. Isso porque as agências meteorológicas nacionais foram criadas só no século 19, e poucas informações diárias sobre clima, vento e umidade podem ser encontradas.

Na Idade Média, a preocupação com o clima tinha uma explicação econômica, e não eclesiástica. Os impostos pagos à Igreja vinham quase todos da agricultura. Saber a renda do ano seguinte, portanto, era fundamental para as contas dos monges.

- O monastério era muito dependente da agricultura, e naquela época não tínhamos instrumentos. Só a observação - explica o irmão Konrad Heise, responsável por manter a tradição milenar e enviar todos os dias para as autoridades suíças os dados sobre o clima.

No século 14, uma onda de calor também castigou o planeta, segundo as anotações

O monastério de Einsiedeln foi fundado no ano de 934 pelos beneditinos. Entre as centenas de caixas de madeira guardadas nos porões do convento, um dos documentos mais preciosos é o diário dos anos 1683 e 1684, escrito pelo monge Joseph Dietrich. Nele, o religioso conta detalhes não apenas do volume de chuva ou tempo de sol, mas também do tamanho de nuvens, comportamento das árvores, frutas, dos cultivos e reações aos diferentes climas.

No dia 8 de maio de 1684, por exemplo, Dietrich escreve que a cidade vivia "mais uma dia extremamente quente", apesar de ainda ser primavera. O diário ainda dá detalhes sobre a chuva em diferentes horários do mesmo dia.

- As informações nos livros antigos são fundamentais para que se possa construir a história do clima no planeta - conta Cristian Pfister, pesquisador da Universidade de Berna, que está analisando os registros.

No século 14, segundo Pfister, houve também um aquecimento do planeta, mas com pequena contribuição da humanidade. Apesar da descoberta dos documentos, não apenas o acesso aos monastérios é um obstáculo, mas sua própria leitura. Na Suíça, a maioria dos textos está escrita em alemão medieval, misturado com dialetos e, em alguns casos, com latim.

- Não há muitos meteorologistas que conseguem entender o alemão medieval - lamenta Andreas Meyerhans, responsável pelo arquivo.

Também há esperança de encontrar-se informação semelhante em locais religiosos no Nepal e ainda dados do Oriente Médio e Roma, onde deve haver pistas sobre o clima na Antigüidade.

(Zero Hora, 19/08/2007)


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