De olho em uma realidade cada vez mais latente, cresce a quantidade de empresas que assumem a sustentabilidade como parte de seus negócios. Ser ambientalmente correto, socialmente responsável já não parece algo onírico, que não possa conviver de forma harmônica com as necessidades econômicas de
uma empresa. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) não quer perder esse bonde e por isso está lançando o projeto Ferrovia Verde, que inclui o uso de biodiesel em seus trens, investimento tecnológico e uso de dormentes alternativos.
Para estes últimos, materiais até então inusitados para a fabricação de dormentes, como plástico, concreto e aço vêm sendo testados desde 2004 (em parceria com USP e Unicamp) e já são empregados na Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), Estrada de Ferro Carajás (EFC) e na Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Atualmente, a Vale possui em toda sua rede ferroviária 20 milhões de dormentes e a previsão é de que a partir do segundo semestre de 2008 os dormentes alternativos passem a compor os trilhos em maior volume.
Os dormentes de plásticos são feitos de polietileno de alta densidade, fibra de vidro, pneu usado, e até mesmo embalagens plásticas de produtos de limpeza, shampoos são reaproveitados. Nesta fase de testes, os dormentes são produzidos por uma empresa norte-americana. O gerente de Via Permanente da
CVRD, Fabio Steffler explica que para a produção em larga escala, a empresa já está desenvolvendo tecnologia com empresas nacionais como a Wise Wood e a Ecologic Plastic, de São Paulo, a Cogumelo, do Rio, e a Precon, de Minas Gerais. Steffler conta ainda que não há uma previsão do custo dos dormentes, nem do investimento na substituição, mas eles devem ficar entre o de um dormente de aço e o de concreto.
Na EFVM , EFC e FCA os antigos dormentes de madeira vão perdendo espaço para os de madeira de eucalipto reflorestado e os de aço. Fornecidos pela brasileira Hidremec, os dormentes de aço foram aplicados em 50% dos dormentes da EFVM (2 milhões) e na EFC, 140 mil. “O aço, além de reduzir o
impacto ambiental da utilização da madeira, também contribui para a segurança operacional dos sistemas, já que tem apresentado uma melhor performance. Unitariamente ele é mais caro que o de madeira, mas também tem o dobro de sua vida útil”, aponta o diretor-executivo da companhia, Eduardo
Bartomoleo. Ele informa também que a empresa é pioneira no País na utilização do material em larga escala, prática comum na Europa. Apenas com o aço no lugar da madeira, mais de 500 mil árvores deixaram de ser derrubadas.
O eucalipto é outra solução adotada pela CVRD. Há cerca de três anos, a companhia instalou 2 milhões de unidades na FCA e desde o começo de 2007, só adquire dormentes de eucalipto provenientes de reflorestamento.
Biodiesel
O uso de biodiesel também tem um papel importante dentro do projeto Ferrovia Verde. Desde maio deste ano, as locomotivas da EFVM e EFC são abastecidas com B20, mistura de 20% de biodiesel e 80% de diesel comum. O uso do B20 é resultado de uma parceria entre a CVRD e a Petrobrás e a previsão é de que até o final desde ano, o fornecimento da mistura chegará a 33 milhões de litros por mês na EFC e na EFVM. Este volume equivale a 67% do combustível gasto em todas as ferrovias da Vale, incluindo a FCA.
Com a medida, 224 mil toneladas de CO2 deverão deixar de ser lançadas na atmosfera até o final deste ano. Bartolomeo ressalta que “utilizar biodiesel em nas ferrovias da companhia é muito mais uma questão de postura ambiental, de geração de desenvolvimento social, do que econômica. Isso é o que está norteando nossas ações”.
A capacitação técnica de mais de quatro mil profissionais treinados e o investimento em tecnologia também são fatores importantes da política adotada pela companhia. Em números, serão investidos US$ 100 milhões em tecnologia até 2009. Para a área ambiental serão destinados cerca de US$ 189,7 milhões e US$ 784 milhões em infra-estrutura de logística.
Social também Vale
Uma empresa sustentável também é socialmente responsável. Pensando nisso, a Fundação Vale do Rio Doce inaugurou o Trem da Vale. Orçado em R$ 48,5 milhões, o projeto reestabelece a via férrea entre as cidades históricas de Ouro Preto e Vila Mariana, num trecho de 18,7 quilômetros. As obras de
reforma e o paisagismo das quatro estações ferroviárias do percurso foram aprovados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) e conta com parceiros institucionais como o Ministério do Turismo e da Cultura. Uma iniciativa que busca dar um novo fôlego à atividade turística na região e de quebra despertar a população sobre a importância da preservação cultural. Outra iniciativa importante que ocorre paralelamente ao projeto, é o Programa de Educação Patrimonial, considerado inédito no País.
Na Estação de Ouro Preto, estudantes e visitantes tem a sua disposição equipamentos multimídia, que resgatam a cultura local, o Circo da Estação (uma lona localizada na parte externa da estação, palco de uma série de atividades educativas, culturais e circenses, voltadas a estudantes e comunidade) e também o Vagão dos Sons, um vagão pra lá de curioso, onde se pode experimentar um mergulho pelo mundo das notas musicais em instrumentos feitos de tubos de PVC, latões, rodas de bicicleta, e de tudo mais que a imaginação permite.
Depois de viajar cerca de uma hora a bordo da Maria Fumaça totalmente restaurada, e aproveitar a bela paisagem mineira através de janelas transparentes, o visitante chega a Estação de Mariana. Lá a comunidade tem a disposição uma biblioteca com mais de quatro mil livros, além de revistas e DVDs, e computadores com acesso a Internet. A estação abriga ainda oficinas de vídeo e o Vagão dos Sentidos. Nele são exibidos vídeos em na superfície de suas janelas internas que proporcionam sensações, sons e imagens da região.
E para reforçar a forte tradição musical de Mariana, a Estação Parque possui uma Praça-Lúdico-Musical, onde se encontram brinquedos sonoros, luteria, artes plásticas e arquitetura. O Trem da Vale tem capacidade para 300 passageiros sentados, e funciona toda sexta-feira, sábado, domingo e feriados, com duas saídas diárias de Ouro Preto (11h e 16h) e duas de Diamantina (09h e 14h). Crianças até cinco anos não pagam.
(Por Fernanda Lucena,
Envolverde, 16/08/2007)