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desmatamento
2007-08-17
A história da Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro, começou cedo. Os primeiros “donos” do espaço, pelo menos aqueles de quem se tem notícia, foram os índios da tribo Temiminós, que perderam o posto de mandatários da região quando, em 1502, os portugueses aportaram ali. Até a França já teve o prazer de comandar (durante poucos anos, é verdade) a Belle Isle, como costumavam chamar aquele paraíso. O tempo passou, todos eles foram embora e a mata atlântica que enriquecia a região cedeu espaço para mais um pólo residencial e comercial do estado Fluminense. Na ilha onde abundava pau-brasil hoje só existe vegetação nas áreas ocupadas pela Marinha e Aeronáutica.

A maior parcela de mata atlântica sobrevivente está abrigada na Base de Fuzileiros Navais da Ilha do Governador, local usado para o ensinamento teórico e início de prática de combate para os militares. Apesar da finalidade operativa, existe apenas uma área de tiro em todo o espaço, com um banco de areia que protege as espécies ali existentes.

O que mais chama a atenção de quem visita a Base é a densa vegetação que convive lado a lado com uma favela, separadas apenas por um muro. Enquanto a primeira sobrevive graças à proteção dos militares, a segunda prospera em terras públicas. “Não há queima de árvores, nós preservamos o máximo que conseguimos. E não desmatamos nada quando chegamos aqui, todas as construções foram feitas em áreas já abertas”, afirma o Comandante Walmir Lima Costa, com mais de 20 anos de trabalho prestados no local.

“Aqui nós vemos catitu, capivara, tucano, papagaio, cobra, mico, quero-quero, pomba-rôla autêntica... Nossa, tem muito bicho”, diz o Comandante Merlino, um dos maiores conhecedores da vegetação dentro da Base de Fuzileiros. Muito embora não seja uma unidade de conservação e tampouco possua planos de manejo, um fragmento de mata preservado em área metropolitana vale our, como explica Maria Alice dos Santos Alves, professora e pesquisadora do departamento de ecologia da UERJ. “Qualquer fragmento bem preservado traz uma fonte de biodiversidade para a cidade, propicia a polinização necessária ali dentro e mantém os processos ecológicos”. Além disso, a floresta também ajuda a conter os efeitos do aquecimento global. “Ela preserva o microclima, que é um diferencial para áreas com desmatamento acelerado, porque atua como um guarda-chuva das variações climáticas”, afirma Maria Alice.

Apesar de não terem convênios fixos com universidades, os militares se dizem abertos para pedidos de visita e pesquisa. Quando o Ibama ou o Corpo de Bombeiros pedem autorização para soltar animais em algum trecho da mata, eles aceitam prontamente. “Todas as manchas de floresta significativas são bons lugares para a soltura de bichos, desde que eles tenham sido capturados há pouco tempo. E os técnicos sabem onde cada espécie ocorre”, afirma Maria Léa Xavier, técnica do Ibama que trabalha na fiscalização.

Além de cuidar das matas, que alguns acreditam serem primárias, os militares permitiram o reflorestamento natural de áreas degradadas, como as montanhas que ficam logo atrás do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC). A Marinha não se preocupou em fazer levantamentos da fauna e flora da região, nem tampouco conhece na ponta da língua a quantidade de hectares ocupados pela vegetação preservada. Mas deixa claro que para as Forças Armadas a conservação da mata é essencial. “O nosso trabalho está intimamente ligado à natureza, nós a utilizamos para caminhar e treinar, por exemplo. Precisamos dela para continuar com nossos esforços, estamos diretamente associados a ela desde a essência”, explica o Comandante Rogério Lopes.

Degradação

A Ilha do Governador abrange uma área total de 4.081 hectares, ou 40,81 km2, e abriga mais de 200 mil moradores das mais distintas classes sociais. Mas nem sempre foi assim. De acordo com o Plano Estratégico da Cidade para os anos de 2001 a 2004, documento que apresenta o mais completo e recente estudo feito sobre a região pela prefeitura, ela era coberta por densa vegetação na época da chegada dos colonizadores. E tinha tanto bicho que foi batizada de Ilha dos Maracajás, por causa da quantidade desses felinos ali presente.

Ao longo dos séculos, o processo de ocupação começou a transformar a paisagem da Ilha do Governador, que recebeu o atual nome em 1570 por causa da nomeação de Salvador Correa de Sá, dono de uma das duas sesmarias da região, para governar o Rio de Janeiro. Depois de um período como centro de abastecimento da capital dos reinos do Brasil e de Portugal, a porção de terra passou a acomodar grandes engenhos de café, o que estimulou o crescimento de outras atividades econômicas e também de escolas, igrejas, residências e casas de negócio.

Em 1860, uma nova economia se instalou no local: a produção de tijolos e telhas com a Fábrica de Produtos Cerâmicos Santa Cruz. Provavelmente, boa parte da mata da região alimentou os fornos das olarias. Dezoito anos depois, o governo imperial decidiu implantar a Companhia de Aprendizes Marinheiros em um terreno de 1.300.000 m2, área hoje ocupada pela Estação de Rádio da Marinha. É lá onde está um dos três fragmentos de mata resguardados.

De 1930 em diante, o que se pôde constatar foi a criação de estruturas de comunicação, como rede telefônicas e transporte. No caso, ampliação das linhas de bondes elétricos. A modernização atraiu moradores, que migraram em maiores proporções entre os anos de 1949 e 1952, quando a ponte que faz a ligação com o continente foi construída e o aeroporto internacional do Rio de Janeiro começou a funcionar.

Na mesma época, a aeronáutica se tornou proprietária oficial da área onde hoje está instalada a Base Aérea do Galeão e a Marinha comprou terrenos e recebeu terras da União para instalar o Comando de Divisão Anfíbio, que fica dentro da Base dos Fuzileiros Navais da Ilha do Governador. Na década de 50 essas áreas verdes eram conectadas com outros trechos de mata que foram desmatadas com os anos. Hoje, a Ilha do Governador tem 15 bairros e nenhuma área verde pública. Só restaram em pé as que as Forças Armadas preservou.

(Por Felipe Lobo, OEco, 17/08/2007)


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