Em sua edição desta quinta-feira, a revista britânica "The Economist" questiona as condições do Brasil de se tornar uma superpotência no setor de energia.
"Graças, em grande parte, ao etanol de cana-de-açúcar, o Brasil pretende ser uma superpotência em energia. Mas será que (o país) consegue manter suas próprias luzes acesas?", pergunta a revista, em uma reportagem intitulada "Escassez em meio ao excesso".
Segundo a "Economist", em sua recente viagem por cinco países da América Latina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou reforçar a imagem do Brasil como superpotência em energia.
"Abençoado pelo sol, banhado por grandes rios e perto da auto-suficiência em petróleo, o Brasil tem realmente um enorme potencial em energia. Mas por diversas razões, que vão da letargia do governo ao lobby dos ambientalistas, (o país) corre um grande risco de escassez de energia em casa", diz o texto.
A revista cita dados do Instituto Acende Brasil, segundo o qual há entre 28% e 32% de risco de apagões até 2012 se a economia crescer 4,8% ao ano --previsão que, afirma o texto, é considerada alarmista pelo governo brasileiro.
Mas, conforme a reportagem, mesmo com crescimento econômico menor ainda há risco de falta de energia. A revista afirma que, atualmente, quatro quintos da eletricidade do Brasil vêm de usinas hidrelétricas. Mas, em tempos de grande demanda ou baixo índice de chuvas, há a necessidade de complementação com outras fontes, principalmente gás natural.
"Cerca de metade do gás natural consumido no Brasil vem da Bolívia. As relações entre os dois países têm sido tensas desde que a Bolívia decretou a nacionalização das operações da Petrobras no território boliviano, no ano passado", afirma o texto.
De acordo com a "Economist", "as esperanças do governo estão em dois grandes projetos, e ambos têm seus críticos", referindo-se à construção de uma terceira usina nuclear em Angra dos Reis e de duas hidrelétricas no rio Madeira, em Rondônia.
A conclusão das usinas no rio Madeira, diz a revista, está prevista para 2012. Caso esse prazo não seja cumprido, porém, haverá a necessidade de um "plano B", com fontes alternativas de energia, afirma o texto.
"Mas de onde?", pergunta a revista. Segundo a "Economist", a Bolívia seria uma opção, mas o país também poderá enfrentar dificuldades para incrementar sua produção de gás e está comprometido em aumentar seu fornecimento para a Argentina, antes do Brasil.
"Além disso, os bolivianos estão furiosos com as usinas no rio Madeira", diz o texto.
"Outra possibilidade seria gerar eletricidade a partir de cana-de-açúcar, em conjunto com a produção de etanol, mas a tecnologia para isso ainda é muito recente."
A revista afirma que, de acordo com a consultoria McKinsey, se a área de cana-de-açúcar fosse duplicada, houvesse maior aplicação de insumos e maior mecanização das lavouras, a produção de etanol do Brasil aumentaria dos atuais 17 bilhões de litros por ano para 160 bilhões de litros por ano em 2020.
"Mas aumentar a produção de etanol tem suas desvantagens. Apesar de muito pouco da cana-de-açúcar do Brasil ser produzida na região da Amazônia, expandir as lavouras poderia exercer mais pressão sobre a floresta, ao empurrar a produção pecuária e de soja para o seu interior", diz a revista.
A "Economist" afirma que o Brasil enfrenta dificuldades para conciliar desenvolvimento e meio ambiente. E, segundo a revista, seria irônico que a "oposição verde" às usinas signifique que o Brasil acabe usando mais petróleo para "manter as luzes acesas".
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BBC Brasil, 16/08/2007)