Porto Alegre (RS) - O inverno rigoroso e o uso de áreas que antes serviam de pastagem para o plantio de eucalipto estão entre as causas da falta do boi gordo para abate. Com isso, a crise nos frigoríficos estaria relacionada a uma disputa de preço entre pecuaristas e abatedouros. A explicação é do presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Rio Grande do Sul, Cairo Fernando Reinhardt.
Na terça-feira (14/08), representantes da Federação e de sindicatos de trabalhadores de frigoríficos estiveram reunidos com o superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Francisco Signor.
Durante o encontro, o superintendente afirmou que o embargo europeu à carne gaúcha não é a causa da crise no setor. Reinhardt sustenta a mesma opinião, afirmando que as demissões já estavam acontecendo no Estado desde antes das reclamações dos importadores.
Dessa forma, a falta do boi gordo se deveria ao inverno rigoroso que, há anos, não era registrado no Rio Grande do Sul. Com o frio intenso, o gado não ganhou o mesmo peso de outras épocas, e os frigoríficos não aceitavam pagar um preço maior pelas cabeças, como afirma Reinhardt.
“O pecuarista reteve o gado no pasto porque perdeu peso, por decorrência do inverno bem rigoroso, e o frigorífico não queria pagar mais. E essa é uma disputa que até agora está acontecendo. Isso é uma coisa natural do mercado. Eles seguraram enquanto puderam, vai chegar o momento em que não vai ter onde botar tanto gado”, diz.
Ainda, segundo o presidente da Federação, houve redução no número de áreas para pastagens em função do cultivo de eucalipto. "Aquele pessoal que arrendava aquelas fazendas arrendaram e fizeram parcerias para o plantio de eucalipto. Então, em torno de 20 e poucos mil hectares em que eram pastagens hoje são plantados eucaliptos. Então, isso escasseou um pouco aquela pastagem que era terra de boa qualidade”, explica.
Reinhardt diz que a situação deve se normalizar em setembro, com o fim do inverno. E garante que muitos frigoríficos já aumentaram o número de abates e retomaram contratações, oferecendo preços maiores para os produtores. Desde o início do ano, 1,1 mil trabalhadores de frigoríficos foram demitidos. As cidades mais afetadas estão na região Sul do Estado.
(Por Patrícia Benvenuti,
Agencia Chasque, 16/08/2007)