Uma organização não-governamental planta acácias na Costa do Marfim para permitir a recuperação dos superexplorados mangues, arbustos que podem impedir a erosão do solo enquanto suas raízes criam espaços que permitem a reprodução de várias espécies marinhas. Os mangues se localizam ao longo das faixas costeiras tropicais. Quando algum deles diminuem dois terços em menos de 20 anos, existe um importante motivo de preocupação. Os mangues que circundam a lagoa de Ebrié, na região meridional da Costa do Marfim, ocupavam 15 mil hectares no começo dos anos 90 e em 2006 essa área era de apenas cinco mil hectares, segundo dados do governo. Essa perda é atribuída à crescente demanda de madeira por parte das comunidades litorâneas.
“A superexploração dos mangues de Abidjã (capital comercial da Costa do Marfim) levou ao desaparecimento de numerosas espécies vegetais e animais”, afirmou o ministro de Meio Ambiente, Água e Florestas, Daniel Ahizi Aka. Mas, a ONG SOS Forêts (SOS Florestas), com sede em Abidjã, tenta deter a destruição através do projeto “Restauração da biodiversidade e planejamento de zonas costeiras”. A iniciativa pretende plantar cinco hectares de acácias em cada aldeia do entorno da lagoa para dar às comunidades uma fonte alternativa de madeira, para que os moradores já não dependam dos mangues para atender suas necessidades energéticas.
“Escolhemos as acácias porque crescem rapidamente. Assim, poucos meses depois as comunidades poderão usar a madeira para cozinhar”, disse à IPS Mathieu Egnankou, da SOS Forêts. Isto permitirá que os mangues se recuperem, ao mesmo tempo em que “as espécies de peixes em processo de desaparecimento serão capazes de se reproduzir e os crocodilos poderão regressar”, acrescentou. Após uma fase-piloto de mais de um ano, agora o projeto se estende e já começou a obter resultados na aldeia de Abatta. Uma visita da IPS à essa comunidade encontrou um grupo de homens e mulheres jovens recolhendo galhos caídos na nova plantação, para garantir que isso também seja usado de modo sustentável.
No momento, está proibido “tirar a raiz ou cortar a árvore. Cada família da aldeia vem aqui para pegar lenha para a semana. Agora é nossa única fonte de energia”, explicou um dos jovens. No começo houve certa resistência, porque os moradores da aldeia temiam não poder conseguir a madeira que precisavam. “Mas com a evolução do projeto nos envolvemos conscientes de que é importante para nós e para o futuro de nossos filhos participar do projeto, contribuir com a proteção do meio ambiente”, disse à IPS Charles Agba, membro do comitê-piloto da iniciativa na área de Abatta. As acácias também estão sendo plantadas em outras sete aldeias.
Além disso, o projeto intitulado “Restauração da biodiversidade e planejamento das zonas costeiras” pretende fazer com que as comunidades comecem a usar fornos que consomem menos energia, em meio a uma difundida reticência a usar mais gás, o que consideram perigoso e caro. “Compra um botijão de gás custa entre US$ 25 e US$ 30, o que é excessivamente caro para muitas pessoas. Nós já estamos acostumados com a lenha”, disse Bernard Kassi, que vive na localidade de Bingerville. Segundo o Informe de Desenvolvimento Humano 2006, da Organização das Nações Unidas, quase 15% dos habitantes da Costa do Marfim vivem abaixo da linha de pobreza de um dólar diário, e cerca de 50% com menos de dois dólares por dia.
Os fornos eficientes em matéria de energia permitem aquecer duas panelas em um único queimador, ao transmitir o calor do primeiro para o segundo. Para Egnankou, com estes fornos melhorados as famílias podem reduzir à metade seu consumo de lenha. O projeto tem custo de US$ 45.800 e é financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento através do Fundo para o Meio Ambiente Mundial. Entretanto, Egnankou alertou que é preciso fazer muito mais para proteger a flora e a fauna da Costa do Marfim. “Hoje praticamente não há políticas de proteção ambiental no país”, afirmou, lamentando, também, a incapacidade do país de garantir a implementação de políticas ambientais.
(Por Fulgence Zamblé e Michée Boko,
IPS, 16/08/2007)