A construção de três edifícios residenciais no número 1230 da rua Cabral e o prolongamento de 200 metros da rua Coronel Bordini – entre as vias Casemiro de Abreu e a Cabral – estão gerando polêmica no bairro Bela Vista, bairro de classe média alta em Porto Alegre.
A Associação de Moradores da Bela Vista (Amobela) quer manter a área verde de 8 mil m² que será usada para o empreendimento, considerado o pulmão do bairro que não possui nenhum parque com grande extensão. “Queremos urbanizar a área e transformá-la numa praça”, propõem Alexandre Sperotto, que reside na avenida Passo da Pátria.
A discussão esquentou no dia 30 de julho, quando a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) convocou os moradores para uma reunião onde apresentou uma nova proposta, preservando 20% das árvores. “O projeto já está aprovado pela Secretaria de Obras e Viação (Smov), o que estamos fazendo é diminuir o corte de árvores”, observa Lisiane Cortez, bióloga da Smam.
De fato a polêmica se arrasta há muitos anos e desde 2003, a Prefeitura, através da Smov, licenciou a obra. Mas no final do ano passado, quando projeto retornou à Smam para autorização dos cortes, o secretário do Meio Ambiente, Beto Moesch, pediu uma reavaliação da proposta. Conseguiu que a empresa Bolognesi, responsável pela obra, se comprometesse a deixar um cinturão verde na área a ser construída e também aumentasse a compensação ambiental - que será de 2.048 mudas.
Segundo o estudo solicitado pelo órgão ambiental à empreiteira, no local existem 473 vegetais com mais de dois metros de altura. Conforme o novo projeto, a empresa preservaria 39 árvores – 22 a mais que o projeto anterior. "É o que podemos fazer. Não há lei que proíba o corte de árvores na área urbana", afirma o secretário Moesch.
No entanto, as mais de cem pessoas que lotaram uma sala do Hotel Blue Tree Towers, na Lucas de Oliveira, não ficaram satisfeitas com a proposta. O presidente da Amobela, João Paulo Fagundes, entende que a abertura da Cel. Bordini é importante para o escoamento do trânsito da região, mas alerta que a sombra dos prédios de 13 e 14 andares pode matar as árvores. "Não adianta deixar cinturão, o que tem que mudar é o Plano Diretor da cidade para impedir prédios tão altos", defende.
Os moradores querem fazer um levantamento de fauna e flora. “É preciso um estudo isento, sem intervenção da empresa, para sabermos quais as espécies que habitam o local”, diz o advogado Decio Martins, que acompanhou a reunião a convite de Carlos Sperotto, presidente da Farsul. Sperotto, que mora num edifício atrás da área verde e perderá iluminação solar, era um dos mais exaltados. "É um absurdo o que querem fazer ali", diz Sperotto, que reside no local há 20 anos.
Regina Maria Guaragna, moradora da rua Cabral, explica que no local existia uma figueira, que foi centro de discussão por algum tempo, mas que agora apareceu misteriosamente morta. "Deu para se observar que o secretário do meio ambiente tem conversa demagógica, com preocupações eleitoreiras futuras, mas que já aprovou a derrubada em massa das árvores", critica para depois questionar: "Onde vão parar nossos pássaros que nos acordam pela manhã, privilégio raro nas grandes cidades".
Também estavam lá moradores favoráveis ao projeto, como Maria Sonia Marin, que mora ao lado do terreno e sofre com o lixo jogado no local e a falta de iluminação. "Sou a favor porque o lugar serve de lixão e para o pessoal usar droga", conta.
(Por Helen Lopes,
Jornal JÁ, 15/08/2007)