Estender o conceito de preservação ambiental ao campo nativo que existe no Estado. Este é um dos principais objetivos das pesquisas realizadas pelo Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Conforme o chefe do departamento, professor Miguel Dall'Agnol, o setor desenvolve pesquisas sobre a vegetação nativa do Pampa gaúcho há 30 anos. "Estudamos desde aspectos como citogenética (contagem dos cromossomos das plantas) até avaliação do desempenho animal", explica.
Dentre os conhecimentos gerados pelo grupo de pesquisa relativos às pastagens nativas, merecem destaque o manejo da vegetação com ênfase na intensidade de pastejo e avaliação do potencial forrageiro das espécies nativas. Antes, a produção animal em campo nativo era muito baixa e girava em torno de 50 kg de peso vivo por hectare/ano. Hoje, o índice pode passar de 200 kg por hectare, dependendo do nível de intensificação utilizado. Na área de melhoramento genético, foram identificados diversos ecotipos com maior potencial, como leguminosas dos gêneros Desmodium, Adermia e Trifolium, bem como gramíneas dos gêneros Paspalum, Bromus, Briza e Stipa.
Embora não seja tão conhecido como o Pantanal ou a Amazônia, o Bioma Pampa, nome oficial dos campos situados na Metade Sul do Estado, é ecologicamente muito importante. "Temos no Estado mais de 500 espécies com potencial forrageiro. Elas só existem aqui", ressalta o pesquisador. Além das pastagens, a região abarca as nascentes dos grandes rios que cortam o Estado e uma variedade imensa de pequenos mamíferos e aves campestres como quero-quero, perdiz e pombas.
Antes de o Rio Grande do Sul ser colonizado, Dall'Agnol conta que as pastagens ocupavam 60% do território gaúcho. Hoje, restaram 30% dos campos originais, já que culturas como soja, milho e arroz foram se desenvolvendo e ocupando o lugar do pasto. "Mais recentemente começou o avanço agressivo do florestamento, que pode diminuir ainda mais a área existente", lamenta o professor. Dall´Agnol ressalta que o manejo adequado das pastagens pode gerar tanta renda para o agricultor como o plantio de árvores. Para tanto, é necessário que os produtores disponham de tecnologias adequadas e recursos financeiros para tratar as lavouras. "Se o campo nativo for bem explorado, vai produzir mais, garantindo retorno maior", conta.
Segundo o pesquisador, falta conhecimento sobre a importância da manutenção das pastagens nativas do Pampa. "Não somos contra as árvores, mas sim a favor do campo", explica. Ele admite que a pecuária precisa ser melhorada na região para gerar renda e preservar o meio ambiente. "É preciso oferecer linhas de financiamento para os produtores, pois acreditamos que é possível manter este ecossistema e ganhar mais que com plantio de árvores", avalia.
O departamento dará continuidade às pesquisas para melhorar e preservar a vegetação nativa. "Se bem explorado, o Pampa pode dar resultados econômicos e manter o homem no campo, evitando aumento da pobreza nas cidades", argumenta Dall'Agnol. Os estudos da área de plantas forrageiras tiveram início no Rio Grande do Sul nas primeiras décadas do século XX. Entre 1910 e 1920 já existiam registros de estudos de introdução e avaliação de forrageiras nas estações experimentais do interior do Estado, numa época que o sistema de ensino e pesquisa estava a cargo do governo do Rio Grande do Sul. O que hoje é a Faculdade de Agronomia, na época era o Instituto Borges de Medeiros, vinculado à Escola de Engenharia. O instituto deu lugar à Escola de Agronomia e Veterinária e mais tarde à atual Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A equipe conta hoje com 15 doutores em regime de dedicação exclusiva. Possui ainda a participação e colaboração efetiva de pesquisadores e docentes dos Departamentos de Solos, Zootecnia, Botânica e Estatística. Já foram concluídas mais de 130 dissertações e teses no departamento. Nos 20 anos de pesquisa em campo nativo, foram formados dez doutores, 28 mestre e mais 40 alunos de iniciação científica.
De acordo com o professor, em setembro serão apresentados levantamentos mostrando que o manejo adequado das pastagens nativas pode dar retorno econômico para as regiões tanto quanto o plantio de árvores. "Queremos diminuir os riscos a que estão sujeitos o bioma do Pampa", afirmou.
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JC-RS, 16/08/2007)