Cambará do Sul - A Polícia Federal (PF) de Caxias do Sul investigará as circunstâncias de um incêndio que destruiu cerca de 300 hectares de campo nativo dentro do Parque Nacional dos Aparados da Serra na última sexta-feira. Ontem, o analista ambiental e administrador da unidade, Deonir Zimmermann, finalizava um relatório para encaminhar o caso às autoridades. Ele descarta a hipótese de acidente causado por queimada em uma propriedade vizinha, já que a área atingida - equivalente a 469 campos de futebol - fica bem no centro do parque. Outro indício de que o fogo seria criminoso, segundo ele, é que miguelitos (armadilhas com pregos retorcidos) deixados na estrada do interior do parque atingiram os pneus dos carros usados no combate ao incêndio.
Zimmermann acredita que o fogo tenha começado entre 2h e 4h de sexta-feira, logo após o fim do turno nas três torres de vigilância do parque. As chamas foram percebidas por volta das 5h30min, quando uma grande área já havia queimado. Cerca de 40 pessoas, entre voluntários e brigadistas do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), envolveram-se na tarefa, usando abafadores e também água puxada com motobomba de riachos próximos. O último foco foi contido por volta das 15h30min, num total de mais de 10 horas de trabalho. Pelo caminho, os voluntáris também encontraram restos de pequenos animais como tatus e cobras, que não tiveram como fugir.
Esta não teria sido a primeira vez que o parque foi atingido por um incêndio suspeito. Em agosto de 2006, os vigias das torres detectaram fogo na mesma área queimada sexta-feira, mas conseguiram combater as chamas antes que elas causassem um estrago maior. Naquela oportunidade, não foi aberto inquérito para investigar porque não havia elementos para identificar os responsáveis. Desta vez, afirma Zimmermann, o caso será investigado pela Polícia Federal. Ele não descarta a hipótese de retaliação, já que a administração do parque também fiscaliza danos ambientais em áreas circunvizinhas aos Aparados.
O delegado regional da PF, Noerci da Silva Melo, diz que, assim que for comunicado, começará a apurar o caso. Se ficar confirmado o envolvimento de criminosos, eles poderão receber multa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por destruição de área de preservação permanente e serem presos. A pena, segundo o delegado, varia de um a quatro anos de prisão.
MaisPrevfogoO Prevfogo foi criado pelo Ibama em 1989 para atividades de prevenção, monitoramento, controle de queimadas e combate a incêndios florestais no Brasil, avaliando seus efeitos sobre os ecossistemas, a saúde pública e a atmosfera. Em 2001, tornou-se responsável pela política de prevenção e combate aos incêndios florestais em todo o território nacional.
7 anos para recuperar prejuízoA falta de chuva (uma leve pancada foi registrada na última sexta-feira, após quase 20 dias de estiagem) e as geadas na região podem ter piorado os estragos causados pelo incêndio nos Aparados da Serra por deixarem a vegetação mais seca do que em anos anteriores, afirma o analista ambiental e administrador do parque, Deonir Zimmermann.
A maior parte da área queimada já serviu como pastagem para o gado ou para lavoura até por volta de 2002, quando as propriedades foram integradas ao parque pelo governo federal, e os proprietários, indenizados. Desde então, segundo Zimmermann, a terra permanecia intocada e parte da vegetação natural começa a se desenvolver. Com o fogo, o analista acredita que sejam necessários mais sete anos para a natureza recuperar o que foi perdido. A isso somam-se os efeitos imediatos da queimada como a emissão de toneladas de gás carbônico na atmosfera, o que contribuem para o aquecimento global da Terra.
O que é- Declarado parque nacional em 1972, o Aparados da Serra tem uma área de 13.082 hectares, formando a sua configuração atual entre os municípios de Cambará do Sul e Praia Grande (SC). A área vizinha, com 17.333 hectares, também foi protegida em 1992, com a criação do Parque Nacional da Serra Geral.
- O Parque dos Aparados da Serra é formado por um conjunto de paredões e mais de uma dezena de cânions com mais de 900 metros de profundidade, com destaque para o Itaimbezinho, Fortaleza e Faxinalzinho.
- O termo "Aparados" caracteriza a geografia da região, onde o relevo ondulado do planalto, marcado pelas coxilhas, termina sem transição em precipícios de paredões quase verticais, como se tivessem sido aparados por uma faca.
fontes: Ibama, sites aventura brasil e riogrande.com.br(
Pioneiro, 16/08/2007)