Porto Alegre - A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), anunciou nesta segunda (13) que deve colocar à venda ações de outras estatais a exemplo do que foi feito com o Banrisul. Entre os novos órgãos, estariam a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e a Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN). A governadora também estuda a possibilidade de capitalizar autarquias, como o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER).
A venda das ações atingiria os serviços básicos prestados à população nos setores da energia elétrica, águas e esgotos e as estradas. O presidente do sindicato dos trabalhadores nos setores de água e esgoto do Estado (Sindiágua), Rui Porto, considera perigosa a proposta da governadora.
"No momento em que tu abre o capital, tu muda o viés do serviço prestado. Hoje a água é um recurso natural finito e que pertence a todos. A água não pode ter proprietário, ela tem que ser de todos. No momento em que se abre o capital da empresa e vende ações no mercado, tu mudas o viés do atendimento, que ao invés de privilegiar o aspecto social, vai privilegiar o lucro, porque o parceiro privado vai querer ter a remuneração pelo investimento que fez", diz.
Porto enxerga na venda de ações a privatização velada da estatal. Como já ocorreu em outros setores, a exemplo do da telefonia, o sindicalista afirma que a chamada capitalização irá piorar o serviço de qualidade que hoje é prestado pela CORSAN. Pesquisas mostram que de cada real que se investe em saneamento, os custos com a saúde são reduzidos de R$ 4,00 a R$ 8,00.
Para a população, diz Porto, deve sobrar o aumento das tarifas da água, a exemplo do setor de telefonia. O cidadão paga, em média, R$ 40,00 por 10 metros cúbicos de água utilizada. Para ele, as estatais precisam ser eficientes e não lucrativas.
"O fato de capitalizar não vai fazer com que entre com mais ou menos dinheiro porque, quem for comprar essas ações, certamente não vai fazê-lo com dinheiro próprio. As empresas privadas vão acabar sendo financiadas pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], que é dinheiro público. Ninguém vai colocar dinheiro seu para fazer isso. Além do que quem comprar ações vai querer retorno de capital, o que não basta com melhoria de gestão. Vai precisar mexer na tarifa, o que significa a exclusão de boa parte da população", afirma.
Porto lembra, ainda, que nos próximos dias devem chegar recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o setor de saneamento do Estado. Atualmente, a CORSAN atua em 347 municípios do Rio Grande do Sul, atendendo 98% dos gaúchos.
(Por Raquel Casiraghi,
Agencia Chasque, 14/08/2007)