Caxias do Sul - Verões mais quentes, mas também invernos mais frios. Essa é a previsão dos cientistas sobre as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global. Nesse caso, é possível que o rigoroso inverno observado neste ano na região possa ser conseqüência do aumento da temperatura média anual do planeta.
- Estamos sentindo muito frio nesses meses, mas a Terra está aquecendo ano a ano. Por isso, certamente teremos eventos climáticos mais extremos nas próximas décadas, embora ainda não tenhamos dados suficientes para afirmar que isso já esteja ocorrendo - explica o glaciólogo e climatologista Jefferson Cardia Simões, coordenador do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Enquanto não acumula mais dados estatísticos sobre o tempo, Simões prefere associar o inverno mais frio dos últimos anos ao fenômeno La Niña. Ainda assim, o cientista não descarta que o próprio La Niña - caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico - também seja conseqüência do aquecimento global.
- Se não ajudarmos o planeta, as conseqüências, como catátrofes naturais, serão sentidas pelas próximas duas gerações. O trabalho de pesquisa e conscientização que fazemos hoje assemelha-se a um planejamento estratégico - resume Simões.
Responsabilidade industrial O planejamento ambiental está entre as prioridades das maiores empresas da Serra para amenizar seus impactos na saúde do planeta. É o que garante Diogo Boff, um dos diretores de Meio Ambiente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul. Há cerca de dois meses, ele lidera uma equipe para descobrir quantas e quais das cerca de 5,5 mil indústrias caxienses possuem programas ambientais. A partir do estudo, a CIC deverá montar um programa educativo gratuito sobre responsabilidade industrial para os empresários da cidade, que é considerada o segundo pólo industrial do Estado.
- As (empresas) que trariam maior impacto (ambiental) já estão conscientes e regularizadas. Mas ainda há empresas poluindo sem que a população perceba, pois os danos aparecem a longo prazo - revela Boff.
Na região, não existem dados conclusivos sobre a quantidade de empresas que possuem programas de gerenciamento ambiental. A dificuldade da obtenção de estatísticas é devida à pouca integração entre os diversos órgãos certificadores. A diretora de Meio Ambiente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Bento Gonçalves, Marinete De Carli, coordena estudos sobre a posição ambiental das empresas instaladas em cidades da Serra, exceto Caxias do Sul. Ela estima que 95% delas possuam programas de gerenciamento ambiental. O índice, segundo ela, faz dessas cidades referências nacionais em produção limpa.
- Os empresários de Bento e cidades vizinhas viajam muito para a Itália e para a Alemanha, países conhecidos pelos melhores projetos ambientais do mundo, principalmente quanto à poluição atmosférica - explica Marinete.
O ar da Serra A poluição atmosférica, principal causa para o aumento do efeito estufa - e, por conseqüência, do aquecimento global - é calculada de forma deficiente na região. A medição é feita apenas por um aparelho instalado no bairro São José, em Caxias.
O equipamento afere a quantidade de dióxido de enxofre do ar a cada 15 minutos. Os últimos dados da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) atestam que, em 2006, foram registrados 33 dias de excesso de poluentes no ar na cidade.
Segundo o engenheiro químico responsável pelas medições atmosféricas, Eduardo Santana, são necessários mais aparelhos. Ele lembra que os medidores de partículas sólidas e de ozônio no ar quebraram há um ano e meio e ainda não foram repostos.
- Falta investimento do Estado. Como estamos, fica difícil termos uma noção confiável da qualidade do ar na Serra - avalia o engenheiro.
O meteorologista do órgão, Flávio Wiegand, ainda alerta que os números podem não refletir a poluição gerada. Ele lembra que, com a elevação da temperatura global, a região registra mais chuvas, principalmente em razão da proximidade do mar (cerca de 80 quilômetros em linha reta).
- A evaporação aumenta as precipitações, que limpam as partículas de poluição do ar. Ainda assim, elas não deixam de poluir, pois vão para os rios e o solo - explica o meteorologista.
Feira incentiva investimentos ambientaisUm dos motivos para a região ser considerada referência nacional em produção industrial limpa é a realização bianual da Feira Internacional de Ecologia e Meio Ambiente (Fiema Brasil), em Bento Gonçalves. Criado em 2004, o evento reúne empresários e estudiosos do país e do exterior para troca de informações sobre técnicas e equipamentos para produzir sem agredir a natureza.
Um dos idealizadores da feira, Juarez Piva revolucionou os processos de sua metalúrgica, a Piva Acessórios, de Garibaldi, a ponto de construir todas as instalações novas. O gerenciamento ambiental da empresa envolve aproveitamento da iluminação natural, aquecimento solar, educação dos funcionários e estação de tratamento de água.
- O impressionante é que agora sobra água. Lançamos o excedente no bosque, onde a vegetação abundante prova que não há contaminação, e abastecemos os caminhões de bombeiros de Bento e de Garibaldi - relata o gerente de recursos humanas da empresa, Rafael Marchetto.
A direção da Piva promete mostrar esses resultados na Fiema Brasil, em maio de 2008. Além da tradicional feira de maquinários e das atividades educativas, o evento trará novidades: um congresso técnico com palestrantes internacionais e rodadas de negócios com foco no Mercado de Créditos de Carbono (MCC). Criado pelo Protocolo de Kyoto, em 1997, o mecanismo dá a opção para que países poluidores paguem para continuar poluindo. O dinheiro é utilizado para financiar programas ambientais pelo mundo.
- Certamente teremos, a partir da Fiema Brasil 2008, muitos investimentos mundiais para agirmos como um remédio para o aquecimento global - garante o presidente da feira, Márcio Chiaramonte.
O Brasil é apontado como um dos principais destinos dessas verbas internacionais pela possibilidade de desenvolver programas ecológicos. Exemplos disso são os projetos Plantar e Nova Gerar. Financiados pelo MCC, o primeiro promove reflorestamento em Minas Gerais e o outro aproveita gases de um lixão no Rio de Janeiro para gerar energia.
Poluição é investigadaApesar dos esforços das empresas, a poluição industrial é a principal causa de processos abertos na 1ª Promotoria Especializada de Caxias do Sul. Segundo a promotora Janaína De Carli dos Santos, a maioria dos crimes ambientais da Serra envolve os poluentes emitidos por indústrias. Em seguida, vêm as queimadas e os desmatamentos.
- Promover queimadas é uma questão cultural da região. Ainda é muito difícil as pessoas entenderem que há outros recursos para o uso da terra - avalia a promotora.
Quando denunciados, os casos são investigados pela Polícia Civil. Depois, o infrator é chamado ao Ministério Público e, na maioria das vezes, aceita um termo de ajustamento de conduta comprometendo-se a corrigir o porblema e a reparar os danos. Segundo a promotora Janaína, nos poucos casos de reincidência a Justiça é acionada.
Em Bento Gonçalves, a situação é diferente. Segundo o titular da Promotoria Especializada do município, Elcio Resmini Meneses, a maioria dos processos resulta de corte de mata nativa. Já os casos de poluição do ar são considerados raros pelo promotor.
Na web, visitewww.akatu.net
www.ambientebrasil.com.br
www.ambienteja.com.br
www.ecoagencia.com.br
www.forumclima.org.br
www.ibama.gov.br
www.pnuma.org/brasil
www.wwf.org.br
www.greenpeace.org.br
(Por João Machado,
Pioneiro, 15/08/2007)