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2007-08-15
Caxias do Sul - Verões mais quentes, mas também invernos mais frios. Essa é a previsão dos cientistas sobre as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global. Nesse caso, é possível que o rigoroso inverno observado neste ano na região possa ser conseqüência do aumento da temperatura média anual do planeta.

- Estamos sentindo muito frio nesses meses, mas a Terra está aquecendo ano a ano. Por isso, certamente teremos eventos climáticos mais extremos nas próximas décadas, embora ainda não tenhamos dados suficientes para afirmar que isso já esteja ocorrendo - explica o glaciólogo e climatologista Jefferson Cardia Simões, coordenador do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Enquanto não acumula mais dados estatísticos sobre o tempo, Simões prefere associar o inverno mais frio dos últimos anos ao fenômeno La Niña. Ainda assim, o cientista não descarta que o próprio La Niña - caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico - também seja conseqüência do aquecimento global.

- Se não ajudarmos o planeta, as conseqüências, como catátrofes naturais, serão sentidas pelas próximas duas gerações. O trabalho de pesquisa e conscientização que fazemos hoje assemelha-se a um planejamento estratégico - resume Simões.

Responsabilidade industrial
O planejamento ambiental está entre as prioridades das maiores empresas da Serra para amenizar seus impactos na saúde do planeta. É o que garante Diogo Boff, um dos diretores de Meio Ambiente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul. Há cerca de dois meses, ele lidera uma equipe para descobrir quantas e quais das cerca de 5,5 mil indústrias caxienses possuem programas ambientais. A partir do estudo, a CIC deverá montar um programa educativo gratuito sobre responsabilidade industrial para os empresários da cidade, que é considerada o segundo pólo industrial do Estado.

- As (empresas) que trariam maior impacto (ambiental) já estão conscientes e regularizadas. Mas ainda há empresas poluindo sem que a população perceba, pois os danos aparecem a longo prazo - revela Boff.

Na região, não existem dados conclusivos sobre a quantidade de empresas que possuem programas de gerenciamento ambiental. A dificuldade da obtenção de estatísticas é devida à pouca integração entre os diversos órgãos certificadores. A diretora de Meio Ambiente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Bento Gonçalves, Marinete De Carli, coordena estudos sobre a posição ambiental das empresas instaladas em cidades da Serra, exceto Caxias do Sul. Ela estima que 95% delas possuam programas de gerenciamento ambiental. O índice, segundo ela, faz dessas cidades referências nacionais em produção limpa.

- Os empresários de Bento e cidades vizinhas viajam muito para a Itália e para a Alemanha, países conhecidos pelos melhores projetos ambientais do mundo, principalmente quanto à poluição atmosférica - explica Marinete.

O ar da Serra
A poluição atmosférica, principal causa para o aumento do efeito estufa - e, por conseqüência, do aquecimento global - é calculada de forma deficiente na região. A medição é feita apenas por um aparelho instalado no bairro São José, em Caxias.

O equipamento afere a quantidade de dióxido de enxofre do ar a cada 15 minutos. Os últimos dados da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) atestam que, em 2006, foram registrados 33 dias de excesso de poluentes no ar na cidade.

Segundo o engenheiro químico responsável pelas medições atmosféricas, Eduardo Santana, são necessários mais aparelhos. Ele lembra que os medidores de partículas sólidas e de ozônio no ar quebraram há um ano e meio e ainda não foram repostos.

- Falta investimento do Estado. Como estamos, fica difícil termos uma noção confiável da qualidade do ar na Serra - avalia o engenheiro.

O meteorologista do órgão, Flávio Wiegand, ainda alerta que os números podem não refletir a poluição gerada. Ele lembra que, com a elevação da temperatura global, a região registra mais chuvas, principalmente em razão da proximidade do mar (cerca de 80 quilômetros em linha reta).

- A evaporação aumenta as precipitações, que limpam as partículas de poluição do ar. Ainda assim, elas não deixam de poluir, pois vão para os rios e o solo - explica o meteorologista.

Feira incentiva investimentos ambientais
Um dos motivos para a região ser considerada referência nacional em produção industrial limpa é a realização bianual da Feira Internacional de Ecologia e Meio Ambiente (Fiema Brasil), em Bento Gonçalves. Criado em 2004, o evento reúne empresários e estudiosos do país e do exterior para troca de informações sobre técnicas e equipamentos para produzir sem agredir a natureza.

Um dos idealizadores da feira, Juarez Piva revolucionou os processos de sua metalúrgica, a Piva Acessórios, de Garibaldi, a ponto de construir todas as instalações novas. O gerenciamento ambiental da empresa envolve aproveitamento da iluminação natural, aquecimento solar, educação dos funcionários e estação de tratamento de água.

- O impressionante é que agora sobra água. Lançamos o excedente no bosque, onde a vegetação abundante prova que não há contaminação, e abastecemos os caminhões de bombeiros de Bento e de Garibaldi - relata o gerente de recursos humanas da empresa, Rafael Marchetto.

A direção da Piva promete mostrar esses resultados na Fiema Brasil, em maio de 2008. Além da tradicional feira de maquinários e das atividades educativas, o evento trará novidades: um congresso técnico com palestrantes internacionais e rodadas de negócios com foco no Mercado de Créditos de Carbono (MCC). Criado pelo Protocolo de Kyoto, em 1997, o mecanismo dá a opção para que países poluidores paguem para continuar poluindo. O dinheiro é utilizado para financiar programas ambientais pelo mundo.

- Certamente teremos, a partir da Fiema Brasil 2008, muitos investimentos mundiais para agirmos como um remédio para o aquecimento global - garante o presidente da feira, Márcio Chiaramonte.

O Brasil é apontado como um dos principais destinos dessas verbas internacionais pela possibilidade de desenvolver programas ecológicos. Exemplos disso são os projetos Plantar e Nova Gerar. Financiados pelo MCC, o primeiro promove reflorestamento em Minas Gerais e o outro aproveita gases de um lixão no Rio de Janeiro para gerar energia.

Poluição é investigada
Apesar dos esforços das empresas, a poluição industrial é a principal causa de processos abertos na 1ª Promotoria Especializada de Caxias do Sul. Segundo a promotora Janaína De Carli dos Santos, a maioria dos crimes ambientais da Serra envolve os poluentes emitidos por indústrias. Em seguida, vêm as queimadas e os desmatamentos.

- Promover queimadas é uma questão cultural da região. Ainda é muito difícil as pessoas entenderem que há outros recursos para o uso da terra - avalia a promotora.

Quando denunciados, os casos são investigados pela Polícia Civil. Depois, o infrator é chamado ao Ministério Público e, na maioria das vezes, aceita um termo de ajustamento de conduta comprometendo-se a corrigir o porblema e a reparar os danos. Segundo a promotora Janaína, nos poucos casos de reincidência a Justiça é acionada.

Em Bento Gonçalves, a situação é diferente. Segundo o titular da Promotoria Especializada do município, Elcio Resmini Meneses, a maioria dos processos resulta de corte de mata nativa. Já os casos de poluição do ar são considerados raros pelo promotor.

Na web, visite
www.akatu.net
www.ambientebrasil.com.br
www.ambienteja.com.br
www.ecoagencia.com.br
www.forumclima.org.br
www.ibama.gov.br
www.pnuma.org/brasil
www.wwf.org.br
www.greenpeace.org.br

(Por João Machado, Pioneiro, 15/08/2007)


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