O mundo corre o risco de um aprofundamento da pobreza e de danos ainda mais graves ao ambiente, a menos que altere radicalmente sua estratégia quanto à bioenergia, disse Jacques Diouf, diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação).
A FAO vem pressionando pela realização de uma conferência de alto nível, em junho de 2008, para determinar as regras que regerão o mercado internacional de bioenergia. No momento, o setor de bioenergia é regulamentado por normas nacionais -e não por um acordo internacional.
A FAO está pedindo aos EUA e à União Européia que reduzam as barreiras à importação de álcool, estabeleçam um sistema de padrões ambientais para a produção de bioenergia e ofereçam mais recursos de microcrédito aos agricultores dos países em desenvolvimento para que pesquisem biocombustíveis locais.
Em artigo publicado pelo "Financial Times", Diouf afirma que "essas medidas permitiriam que os países em desenvolvimento -os quais, em geral, dispõem de climas e ecossistemas mais adequados à produção de biomassa do que os países industrializados, além de contarem com amplas reservas de terra e mão-de-obra -utilizem melhor suas vantagens comparativas".
Diouf afirma que o objetivo da reunião proposta deveria ser o de garantir que a bioenergia realize o seu potencial de alimentar o crescimento sustentável e reduzir a fome.
No ano passado, EUA, Europa e Brasil responderam por quase 95% da produção mundial de biocombustíveis. Canadá, China e Índia produziram a maior parte do restante, de acordo com a AIE (Agência Internacional de Energia), a associação que acompanha o panorama mundial de combustíveis para os países industrializados.
A produção de biocombustível, em sua maioria etanol feito de milho, nos Estados Unidos, e biodiesel de sementes oleaginosas, na Europa, dobrou entre 2000 e 2005, de acordo com a AIE. Em 2005, porém, esse tipo de combustível continuava a responder por apenas 1% do combustível usado no transporte rodoviário mundial.
A agência de energia previu que esse total deva subir para 4% até 2030. Diouf afirmou que o setor de bioenergia "tem um imenso potencial de reduzir a fome e a pobreza", caso a produção seja transferida dos países ricos aos pobres.
No momento, as tarifas impostas pelos países ricos tornam ineficiente, do ponto de vista econômico, o cultivo de safras para a produção de biocombustíveis.
O setor norte-americano de biocombustíveis consumiu cerca de 20% da safra de milho do país no ano passado, proporção muito superior à de 2005. "É evidente que a atual prática de depender de safras alimentícias para produzir combustível não perdurará por muito tempo", afirmou Diouf.
(Por Javier Blas,
Folha de S.Paulo, 15/08/2007)