Há um mês Branca mudou de endereço e de nome. Nada mais de trabalho forçado, subnutrição ou ferimentos no corpo. A mão que a alimenta agora só afaga, não maltrata. Aos sete anos, a égua foi beneficiada por um projeto da prefeitura de Erechim, no norte do Estado, que resgata cavalos vítimas de maus-tratos, medica e os dá em adoção. A aposentadoria tem cheiro de infância para Branca de Neve. Numa propriedade rural do interior do município, ela é a melhor amiga de Iohana, oito anos, e de seu primo Eduardo, seis anos.
A vida anterior à adoção, atrelada a uma carrocinha de catadores de papel, parece estar distante. Há três meses ela foi recolhida nas ruas da cidade pela Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente. Tinha feridas pelo corpo e a magreza deixava evidentes as costelas e a fome. Mas o que mais impressionou a fiscal da secretaria Archeli Arpini foi o olhar de tristeza da égua.
A escolha de Branca de Neve foi de Iohana. Quando a família recebeu a notícia de que seu cadastro havia sido aprovado, ela foi com o pai ao haras para conhecer os bichos. A menina se sensibilizou com o estado da égua.
- Ela estava muito suja, machucada e fiquei com peninha dela. Quando ficou boa veio morar com a gente e agora tem um lar - diz a menina.
A média de permanência dos cavalos recolhidos pela secretaria no hotel é de um mês, mas Branca precisou de dois. Ali eles recebem atendimento veterinário, alimentação balanceada e os medicamentos necessários até a recuperação. O tratamento é pago pela prefeitura de Erechim. Depois disso, os animais são colocados no programa de adoção.
Trâmite da adoção é semelhante ao de criançasUma lei municipal de 2004 proíbe a permanência e uso de cavalos para tração no perímetro urbano. Quando flagrado, o proprietário é notificado. Se o cavalo apresenta sinais de maus-tratos, o dono recebe prazo para recuperar o animal e retirá-lo da atividade. Caso ele não cumprir a determinação, perde a propriedade. A adoção segue um trâmite semelhante ao da adoção de crianças.
- Avaliamos se o adotante tem condições de receber o animal e estrutura para atender a todas as suas necessidades - conta Archeli.
Depois de assinar termo de responsabilidade de que o cavalo não voltará a ser utilizado para trabalho excessivo, as famílias são liberadas para retirá-lo da hospedagem. Se inicia um processo que avaliará se houve adaptação. Como nos processos de adoção, a identidade dos adotantes e a localização dos animais é mantida em segredo para evitar represálias ou tentativas de resgatar o animal. Nenhum valor é cobrado dos adotantes. Até o final desta semana, outros três cavalos deverão ser internados no haras que mantém convênio com a prefeitura.
Como adotar- É preciso ter propriedade em perímetro rural
- Condições financeiras ou acesso a programa de atendimento veterinário
- Compromisso de não colocar o animal em regime de trabalho excessivo
- Preencher o cadastro de interesse em adoção, à disposição no site da prefeitura de Erechim (pmerechim.rs.gov.br/principal.php), entrando nos links Secretaria Municipal do Meio Ambiente/Fiscalização Ambiental/Adoção de Eqüinos
(Marielise Ferreira,
Zero Hora, 15/08/2007)