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2007-08-15


As águas dos Grandes Lagos, maior reservatório de água doce do planeta, na divisa entre Estados Unidos e Canadá, estão com nível muito abaixo do normal. Especialistas de órgãos internacionais de monitoramento prevêem que o Lago Superior, localizado ao norte, atinja recorde de menor nível nos próximos dois meses.

Os efeitos da diminuição dos lagos Michigan e Huron são visíveis por toda a parte. Os canais devem ser urgentemente dragados – limpos de toda areia e lodo do fundo do rio. As áreas alagadas em algumas regiões, como a baía georgiana, a leste do Lago Huron, em Ontário, secaram, deixando peixes e pássaros desprovidos de seus locais de reprodução. As praias no entorno da baía de Saginaw, no Michigan, se transformaram em pântanos, enquanto as costas viraram áreas alagadas. Um terço das rampas para barcos de Michigan foram inutilizadas.

Causas
Os motivos da diminuição das águas dos lagos são controversos. Alguns atribuem o problema à mudança climática ou aos novos padrões pluviométricos. Mas, os indícios de que o homem seria o causador dos danos aos Lagos Huron e Michigan são cada vez maiores. A mineração do início do século XX, feita por empresas privadas, e a dragagem feita pela engenharia do exército americano, sobretudo em meados dos anos 60, podem ter tornado mais largo e mais fundo o rio St. Clair, pelo qual esses dois lagos escoam no Lago Erie.

O fluxo pode estar erodindo o leito fluvial. A erosão, por sua vez, pode resultar em maior escoamento, maior do que o suprido por chuva ou derretimento de neve, segundo um estudo realizado por um grupo de engenheiros costeiros canadenses. Dados divulgados nesta semana por um grupo de cidadãos canadenses, complementando um estudo de engenharia de 2005 encabeçado pela empresa canadense W.F. Baird and Associates, indicam que o escoamento não pode ser diminuído e pode ser significativamente maior do que se previa.

Se as novas estimativas estiverem corretas, 9 bilhões de litros por ano estão sendo perdidos pelas áreas expandidas do St. Clair, mais ou menos o equivalente à quantidade desviada anualmente para suprir Chicago. Robert B. Nairn, engenheiro fluvial e costeiro e diretor da Baird, declarou em uma entrevista na segunda-feira, estar "surpreso" com o ocorrido. Apesar de ter dito que as mudanças provocadas pelo homem fossem significativas, ele foi cuidadoso sobre as especulações de que essa seria a principal causa da perda de água superando outros fatores, como mudança climática. "Acho que descobrimos que tudo contribuiu em alguma medida", disse ele. "A grande dúvida que persiste é o quanto cada fator contribuiu".
 
Novas pesquisas
Essa e outras dúvidas são o foco principal de um novo estudo iniciado sob os cuidados da International Joint Commission, um grupo binacional cujos membros são designados pelos governos de Washington e de Ottawa com o objetivo de monitorar as fronteiras e a qualidade da água nos Grandes Lagos. Eugene Stakhiv, oficial dos engenheiros do exército emprestado à comissão, disse que o grupo Baird levantou questões importantes.

"Eles apresentaram preocupações e chegaram a conclusões que fazem sentido diante das informações e dos modelos que utilizaram", declarou Stakhiv. "Mas acho que ainda há muitas incertezas". Uma das certezas é de que o nível da água dos rios superiores está diminuindo. Os dados exibidos no site da corporação indicam que o Lago Superior praticamente atingiu o nível mais baixo já registrado desde 1926.

Roger Gauthier, gerente de projetos da Great Lakes Commission, órgão intergovernamental que representa oito estados e duas províncias canadenses, disse que os níveis da água nos Lagos Michigan e Huron diminuíram 90 centímetros desde 1999 e estão cerca de dezoito centímetros acima do recorde mais baixo registrado em 1964. A permanência dos níveis baixos de água nos Lagos Huron e Michigan não acompanha os ciclos maiores de águas elevadas e baixas na bacia.

O nível dos Lagos St. Clair e Erie, mais ao sul, está um pouco acima da média. Esses lagos recebem o escoamento do Huron e do Michigan. A absorção de quantidades excepcionalmente elevadas de água poderia subir seu nível. Mas isso também poderia ocorrer devido a chuvas mais volumosas do que o comum.

Stakhiv disse que não especularia sobre a causa dessas mudanças nos níveis de água até que novas medidas fossem feitas. No entanto, a Georgian Bay Association, grupo de moradores que contratou a Baird, diz acreditar que o estudo tenha identificado o problema, e que seus membros aguardam ansiosamente uma solução. "Obviamente acreditamos que o rio esteja em processo de erosão", disse Bill Bialkowski, morador que é engenheiro e tirou novas medidas. "Seria ótimo estabilizarmos a situação no foco do problema", completou.
(Tradução de Claudia Freire, G1, matéria do New York Times, 15/08/2007)



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