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desmatamento amazônia
2007-08-15
Depois de anunciar a perspectiva de mais uma grande redução do desmatamento na Amazônia, o governo federal se depara com um novo dilema para a região: o que fazer com as florestas que não foram desmatadas? “Só manter o que está sendo feito não vai ser suficiente”, disse ao Estado o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco. Segundo ele, é preciso transformar a floresta em uma fonte de renda para a economia regional - que não envolva apenas sua derrubada para obtenção de madeira ou abertura de pastos. “O desafio agora é econômico. Temos que sair do papo furado e criar uma economia florestal de fato para a Amazônia.”

Mais dados do desmatamento

O novo Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, previsto para o fim do ano, deverá ser focado em dois eixos: o aproveitamento econômico sustentável das florestas que continuarem de pé e a recuperação ambiental e econômica das áreas já desmatadas e abandonadas. O trabalho de polícia - envolvendo fiscalização, apreensão de madeira ilegal, monitoramento por satélite em tempo real, regulamentação fundiária e combate à grilagem de terras -, que vinha sendo o foco até agora, será obrigatoriamente mantido. Mas, se tudo correr como planejado, passará a ser uma atividade de apoio ao desenvolvimento, em vez de um objetivo central das políticas ambientais. “A fiscalização tem que ser a exceção”, disse Capobianco.

Uma das principais forças que impulsionam o desmatamento, segundo ele, é a falta de alternativas econômicas. “O desmatamento é o que move a economia na Amazônia. É uma atividade predatória e nociva, mas que, bem ou mal, sustenta uma economia”, disse. Até recentemente, mesmo quem queria fazer a exploração legal de madeira enfrentava tantos obstáculos legais e burocráticos que acabava apelando para a ilegalidade como única saída. “A gente vai fechando uma porta, fechando outra porta, mas alguma porta tem que ficar aberta, se não quem ficou dentro sai arrebentando tudo. Não tem polícia que segure.”

A opção agora é fomentar indústrias de uso sustentável dos produtos florestais, como madeira, frutos, fibras, óleos e resinas. Não só a partir do fornecimento de matéria-prima, mas com beneficiamento local da produção. No lugar de toras, móveis e artesanato. No lugar de frutos, doces, sucos e geléias. “Só fornecer matéria-prima é muito pouco; queremos transformar a Amazônia numa exportadora de produtos manufaturados.”

A estratégia deverá passar obrigatoriamente também por um fortalecimento das políticas de desenvolvimento científico, industrial e de infra-estrutura da região. Capobianco defendeu, inclusive, a pavimentação imediata da outrora superpolêmica rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163) - uma das mais importantes vias de escoamento da Amazônia. “Tem que pavimentar mesmo, e logo”, defendeu.

“Sem uma alternativa de desenvolvimento sustentável, a pressão para o desmatamento voltará a ser forte, sem dúvida”, concorda o cientista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ele avisa, porém, que a base de conhecimento necessária para esse desenvolvimento ainda é muito incipiente. “Não há uma base de ciência e tecnologia para aproveitar a biodiversidade da Amazônia. É um esforço que caminha a passo de tartaruga.” Apesar da floresta ter milhares de produtos a oferecer, apenas quatro são comercializados em escala internacional, além da madeira: borracha, castanha, guaraná e açaí.

Especialista em climatologia, Nobre está a frente de um grupo de especialistas encarregado de fazer uma revisão independente do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento. O estudo foi comissionado ao International Advisory Group (IAG) do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), que deverá emitir um relatório final dentro de seis semanas.

Segundo Nobre, ainda é difícil dizer com exatidão quais foram as causas que mais contribuíram para a redução do desmatamento - se foi uma reação às medidas de comando e controle do plano, ou um reflexo de flutuações macroeconômicas no preço de commodities como soja e carne. “O que vimos na ponta do sistema é uma combinação das duas coisas”, disse Nobre ao Estado. “Há uma falta de estudos que possam atribuir o peso de cada uma.”

Uma coisa é clara: segundo Nobre, houve uma mudança significativa no comportamento da sociedade amazônica com relação ao desmatamento nos últimos anos, inclusive no setor produtivo. “A ilegalidade está na defensiva”, disse. “Desmatar está se tornando uma coisa não aceita mais socialmente. Três ou quatro anos atrás, havia líderes do setor produtivo que defendiam abertamente o desmatamento. Hoje não se ouve mais esse discurso.”

Segundo os dados mais recentes, divulgados na sexta-feira pelo governo, o desmatamento anual na Amazônia caiu 31% entre 2004 e 2005 e 25%, de 2005 para 2006 (veja gráfico ao lado). A expectativa para 2007 é que o índice possa cair outros 30%. “Certamente há motivos para comemorar, mas ainda estamos muito longe - muito longe mesmo - de cantar vitória”, disse Nobre, cauteloso. “O maior erro do governo seria relaxar.”

(Por Herton Escobar, O Estado de S.Paulo, 15/08/2007)



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