Pesquisadores britânicos aperfeiçoaram substancialmente o desempenho de um modelo climático global ao adicionar observações sobre o estado real do oceano e da atmosfera. Segundo especialistas, os resultados são de extrema importância para aqueles que tentam produzir ‘previsões climáticas’ confiáveis de curto prazo em escala global e regional.
O grupo, liderado por Doug Smith, do centro britânico de meteorologia Hadley Centre, em Exeter, desenvolveu um sistema de previsão do tempo que é capaz
de incluir a variabilidade natural do sistema climático - como aquelas provenientes de anomalias na circulação do oceano ou em sua quantidade de calor - nas modelagens desenvolvidas por um modelo climático global. Apesar da maioria dos modelos trabalharem com condições pré-estabelecidas, como a intensidade da radiação solar e o nível de gases do efeito estufa, o estado inicial da atmosfera e do oceano é indefinido, pois estabelecê-lo de acordo com as condições iniciais certas consome muito tempo e dinheiro. “Na teoria, qualquer modelo climático pode ser iniciado desta maneira,” disse Smith. “É somente um trabalho muito grande.”
Para avaliar o aumento de precisão oferecido pela nova abordagem o grupo analisou vários períodos de dez anos entre 1982 e 2001 utilizando o novo sistema para prever uma década de temperaturas médias e tendo como base as condições iniciais e as mudanças conhecidas na concentração de gases do efeito estufa. Nesses retrocessos, o novo Sistema de Previsão Climática Decadal (Decadal Climate Prediction System - DePreSys) reproduziu exatamente o que aconteceu com mais de 50% a mais de precisão do que outros modelos similares, que não consideraram as informações sobre o estado da atmosfera e dos oceanos no início do processo. O grupo publicou os resultados na revista Science da última semana.
Quando utilizado para prever a próxima década, o DePreSys produziu uma curva de temperaturas distinta das outras previstas por modelos convencionais. A curva é baseada em 20 processamentos diferentes do modelo, iniciando em 20 dias diferentes de 2005, cada um com condições iniciais diferentes.
Aumento da temperaturaSe o modelo estiver correto, nos próximos anos, a variabilidade natural (principalmente relacionada a fatores que afetam o conteúdo de calor do oceano) irá contrabalancear uma certa quantidade do aquecimento causado pela emissão antrópica de gases do efeito estufa. Mas o aquecimento global estará somente dando um descanso: cerca da metade dos anos entre 2009 e 2014 será mais quente do que 1998 - que atualmente é o ano mais quente já registrado.
Mas, esta previsão ainda é incerta. Mesmo que o estabelecimento das condições iniciais ajude, as várias dificuldades inerentes às tentativas do modelo de capturar todos os processos que acontecem na realidade ainda significam que as previsões do sistema estão longe de ser perfeitas. As temperaturas previstas possuem erros, mas Smith ressalta que as características previstas para os primeiros anos parecem ser precisas atéagora.
O trabalho está recebendo grande apoio de outros profissionais que atuam com modelos climáticos. “Este é um estudo excepcional e conceitualmente é um
grande salto a frente”, afirma Jochem Marotzke, um dos diretores do Instituto Max Planck de Meteorologia de Hamburgo (Alemanha), que supervisiona a pesquisa sobre previsões climáticas decadais do Programa de Pesquisa Climática Mundial. Ao passo que as observações em tempo real, em particular nos oceanos, estão disponíveis cada vez mais facilmente, a quantificação e a previsão da variabilidade do sistema climático chegam mais perto do nosso alcance, adiciona.
“A principal importância deste estudo não está nas grandes previsões de temperatura que ele alcança”, explica. “O principal é que agora temos um conceito convincente para a combinação das observações e dos modelos. Pode não ser a última palavra, mas comprova que previsões decadais concretas são possíveis.”
O modelista climático Fortunat Joos da Universidade de Bern (Suíça), concorda que o estudo representa um avanço notável. Mas aumentar a habilidade de um sistema para a captura das médias globais de temperatura não é a única coisa que importa. Joos ressalta que misturar as modelagens climáticas com as previsões sazonais do tempo pode ter melhores resultados em algumas regiões do que em outras. Entretanto, alerta, as erupções vulcânicas, que possuem um efeito de resfriamento sobre o clima global e regional, continuarão basicamente imprevisíveis.
O grupo do Hadley Centre não avaliou se o método também melhorará a previsão da probabilidade de mudanças no padrão global e regional da precipitação nas
próximas décadas. Isto, diz Joos, seria um próximo passo lógico, dado o fato de que a disponibilidade de água é vital para o planejamento e desenvolvimento das regiões suscetíveis a enchentes e secas ao redor do mundo. Previsões concretas de curto prazo serão essenciais para o aumento da relevância das ciências climáticas no planejamento e estabelecimento de políticas.
Traduzido por Fernanda Muller, CarbonoBrasil (Nature)
(Envolverde/Carbono Brasil, 14/08/2007)