"O Mundo é benevolente, mas não resiste à voracidade dos consumidores" (Mahatma Gandhi).Frente à grande crise civilizatória e planetária dos nossos dias, o tema consumo, ética e necessidade de sustentabilidade do Planeta são colocados na ordem do dia, convocando-nos a uma mudança de atitude para as nossas relações de consumo. Consumo é uma forma de atender as necessidades internas e externas, primárias e secundárias, adquirindo algo ou utilizando produtos e serviços, produzidos pela natureza ou pela atividade humana.
A sociedade capitalista contemporânea tem como característica o CONSUMISMO, que, além de provocar exclusão social, produz impactos sobre o ambiente natural e consome os recursos naturais do Planeta, colocando em risco a sustentabilidade das gerações presentes e futuras.
Conforme dados do relatório do Programa de Desenvolvimento Humano da ONU intitulado Consumo para o Desenvolvimento Humano, enquanto os 20% mais ricos da população mundial são responsáveis por 86% do total de gastos em consumo privado, os 20% mais pobres respondem apenas por 1,3%. Conforme o documento, "bem mais de um bilhão de pessoas estão privadas de satisfazer suas necessidades básicas de consumo"
O mito do consumo é posto como sinônimo de felicidade e bem estar, meta prioritária do crescimento e do processo civilizatório, com o pensamento de que o prestígio social depende da sua capacidade de gastar, consumir e acumular bens, ainda que supérfluos. A mídia cria modas, modismos e necessidades desnecessárias.
O capitalismo não vende apenas produtos e mercadorias, vende sonhos, vende símbolos. A propaganda da Coca-cola, por exemplo, não diz que ela é saborosa, nem mesmo que tira sede. Diz que ela é uma forma de vida. Tomar Coca-cola é ser jovem, ser livre. Usar tal tipo de tênis torna você importante, lhe faz ter sucesso e assim por diante. Antes de colonizar a terra, o capitalismo coloniza nossas mentes. Domina o nosso imaginário. Escraviza nossa fantasia.
EthosÉtica vem do termo grego "ethos", que significa modo de agir e de ser, de cuidar do que é comum. Não é lei e nem moral. A ética é exatamente a sabedoria de colocar a lei a serviço da vida. É como criar uma relação de convivência e cuidado consigo mesmo, uns com os outros e com a natureza, a terra, a água e todo ser vivo, a partir de uma consciência de pertença e interdependência. Portanto, não é ético consumir produtos de empresas, tais como: Coca cola, McDonalds, Nike, Nestlé, Knoor, Omo, Lux, Kibon, Arisco, Doriana, entre outras, que exploram trabalhadores, se beneficiam do trabalho infantil, financiam guerra e degradam o meio ambiente. Ao consumir produtos e serviços de empresas que exploram os trabalhadores e destroem o equilíbrio ecológico, somos também responsáveis pelos danos causados à humanidade.
O consumo solidário é uma forma de luta anti-capitalista a ser praticado cotidianamente. Ocorre quando a seleção do que consumimos é feita não pela "marca" ou apenas considerando o nosso bem viver pessoal, mas quando leva em consideração o bem viver coletivo e os princípios éticos empregados na produção, uma vez que é no consumo que a produção se completa e que este tem impacto sobre todo o ecossistema e sobre a sociedade em geral.
As escolhas de consumo influenciam tanto na geração ou manutenção de postos produtivos como também podem gerar desemprego local, colaborar na destruição do Planeta e na extinção de espécies vegetais e animais, na produção cada vez maior de lixo não biodegradável, no aumento da poluição e na piora da qualidade de vida da população como um todo.
Se consumirmos bens e serviços das Redes Solidárias, seus empreendimentos vendem toda a produção e amplia-se o excedente para o reinvestimento coletivo na criação de outras empresas solidárias, remontando-se as cadeias produtivas, ampliando a autonomia das redes frente aos mercados capitalistas, gerando novos postos de trabalho com distribuição de renda. Aumenta a oferta solidária de bens e serviços aos consumidores em diversidade e qualidade, sob um modelo auto-sustentável que preserva o equilíbrio dos ecossistemas e promove a diversidade das culturas. O reinvestimento coletivo dos excedentes, com processos tecnologicamente mais avançados, permitirá reduzir progressivamente a jornada de trabalho de todos, elevar o tempo livre para o bem viver e qualificar o padrão de consumo de cada pessoa.
Não é mais possível manter e alimentar a lógica oficial do lucro e tirar migalhas para uma Ética ecológica e solidária. A mudança se dá a partir de nós mesmos, não no sentido de privilegiar o individual sobre o coletivo, ou pensar que fazendo eu comigo mesmo, estarei contribuindo suficientemente com o mundo. Não. De modo nenhum. É apenas no sentido de começar pela base e é este o sentido que Gandhi dá ao dizer: "Comece por você mesmo a mudança que propõe ao mundo". Para tanto é importante sermos criativos.
A hora é de aprimorar a prática da revolução no cotidiano de nossas relações, nas opções de consumo e na forma como lidamos com nossa "casa comum", o Planeta. "A maneira como consumimos define o tipo de sociedade que queremos construir".
(Por Lenita Gripa,
Adital, 09/08/2007)
* Coordenadora do Banco Comunitário "Banco Pire"