O Reino Unido, um dos auto-proclamados líderes do movimento europeu pró-climático, afinal não deverá cumprir a meta da União Europeia para as renováveis até 2020. Em vez dos 20 por cento, os britânicos vão ficar-se pelos nove por cento. Para remediar a situação, um relatório interno propôs aos ministros uma nova interpretação estatística para escamotear o fracasso em vez da aplicação de novas medidas, denuncia hoje o jornal “The Guardian”.
Responsáveis do Departamento do Comércio e da Indústria admitiram que, com as políticas actuais, o país não tem a mais remota possibilidade de se aproximar dos 20 por cento de renováveis, meta acordada pela União Europeia esta Primavera. E a sua sugestão é que devem ser usadas “novas interpretações estatísticas”, em vez de novas formas para cumprir a meta.
O jornal britânico teve acesso a uma cópia de um relatório interno dirigido aos ministros por aquele departamento, agora Departamento para os Negócios, Empresas e Reformas. O relatório data do início do Verão, altura em que o Governo de Gordon Brown publicou o seu Livro Branco para a Energia. O relatório alega que a meta dos 20 por cento é pouco credível por ser tão ambiciosa.
Por isso, sugere formas para os ministros contornarem os compromissos e ainda que pressionem comissários europeus e outros países como a França, Alemanha, Polónia e Itália a aceitarem interpretações mais flexíveis da meta, que incluam a energia nuclear ou o investimento em energia solar em África.
Além disso, os especialistas pedem aos ministros para analisarem “que opções existem de forma a que as interpretações estatísticas tornem as metas mais fáceis de atingir”. Os especialistas daquele departamento estão conscientes de que será difícil demover as ambições da Alemanha para as renováveis. A chanceler Angela Merkel quer comprometer-se com uma meta de 27 por cento.
“Estas opções de flexibilidade serão o ponto mais difícil de negociar com alguns Estados membros, como a Alemanha, de quem esperamos resistência”, diz o relatório. Um porta-voz do departamento recusou comentar o documento e apenas disse que “este Governo está comprometido com as renováveis e com a redução das emissões, no âmbito das metas da União Europeia”.
A reacção do meio ambientalista já é conhecida. Muitos são os que se dizem “chocados”. Este relatório “combina um quase desespero cómico de quem se apercebe de que terá de fazer alguma coisa para promover as energias renováveis com um cinismo de cortar a respiração ao serem exploradas todas as cláusulas possíveis e imaginárias para escapar aos compromissos internacionais do Reino Unido”, comenta Andrew Simms, director da New Economics Foundation.
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Publico PT, 13/08/2007)