(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2007-08-14
O ano de 2007 será um marco na História da humanidade. A população urbana, em todo o mundo, vai superar a rural. As cidades, definitivamente, venceram o campo. Na quantidade, é certo.

Os dados foram divulgados em relatório oficial da ONU. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNPFA), as tentativas de conter a migração rural-urbana falharam, comprovando o inevitável processo de urbanização. Em 1950, moravam na roça 71% da população mundial. Agora está meio a meio. Em 2030, estima a ONU, os rurícolas cairão para 40,1%. As cidades crescerão muito, supõem os estudiosos, principalmente na Ásia e na África, continentes onde a maioria da população, cerca de 60%, ainda reside no campo.

No Brasil, a inversão dos moradores, na corrida rumo à cidade, ocorreu há mais tempo. Os censos do IBGE mostram que, até 1960, predominava a população rural. Em 1970, porém, já se constatava o predomínio da população urbana, com 56% da nacional. Atualmente, 81% dos brasileiros residem nas cidades.
A supremacia da cidade sobre o campo suscita, ao menos, duas questões relevantes. A primeira toca no passado. Trata-se de avaliar o que aconteceu com a qualidade de vida nessa jornada da urbanização. Aglomerações urbanas e, mais ainda, metrópoles não necessariamente melhoram a condição humana.

A segunda questão aponta o futuro. O processo de urbanização se afigura como inexorável. Entretanto, forças novas se movem na sociedade mundial, especialmente aquelas relacionadas com a progressiva degradação dos recursos naturais do planeta. Dependendo das soluções que a civilização encontrar para enfrentar a crise ambiental, abre-se a hipótese de ocorrer uma reversão na dinâmica populacional.

Os demógrafos tradicionais não acreditam nessa possibilidade. Supõem que a atração das cidades manterá a migração rural-urbana. Uma das razões dessa crença, correta historicamente, diz respeito à maior pobreza existente nas áreas rurais. Realmente, durante a primeira grande onda de urbanização, verificada entre 1750 e 1950, na Europa e na América do Norte, a industrialização capitalista ofereceu oportunidades de emprego que foram fundamentais para livrar as massas camponesas de séculos de opressão feudal. Assim floresceu a urbe.

Mais tarde, políticas públicas eficazes sustentaram o bem-estar social. Surgia a classe média, destacada entre operários e patrões. Com as róseas condições do Welfare State, ninguém pensa em ficar no campo.
No caso brasileiro, mesmo com deficiente planejamento urbano, o êxodo rural chegou avassalador. Em face da miséria rural, dificilmente se comprova se foi a cidade que atraiu ou o campo que expulsou tanta gente. O fato é que, em pouco tempo, o País se urbanizou fortemente. Cada século na Europa valeu aqui uma década.

Nem a violência nascida no asfalto, tampouco o desemprego nas periferias foram capazes de estancar o processo de urbanização brasileiro. Contribuiu a elevada taxa de natalidade. As famílias eram useiras em ter cinco, oito ou mais filhos. Com a queda da mortalidade infantil, tornou-se impossível ocupar a prole na terra batida.
Fruto de fenômeno cultural, o campo restou esquecido. Pior, passou a ser tratado com preconceito. As luzes da cidade é que importavam para a sociedade e a política. Às condições objetivas se somou a ideologia. A roça acabou lugar de Jeca Tatu. Pobre ruralista.

Muito bem. Passou. Resta descobrir agora, após a virada do milênio, no que se embasa o processo de urbanização. No horizonte se vislumbram negras nuvens. Não se trata, apenas, de apontar o aumento da criminalidade urbana, atemorizando citadinos. Nem, ademais, de perceber a fragilidade do mercado de trabalho.
No grau de consumo estará a ruína da cidade. O aquecimento global, a supressão das florestas e a poluição da natureza inviabilizam alongar indefinidamente o padrão de vida baseado no elevado dispêndio, quase desperdício, de energia. Vem aí um xeque-mate na civilização perdulária. Será possível às famílias chinesas e indianas manterem dois carros e um aparelho de ar-condicionado cada?

Certamente, não. Modificações no padrão de consumo e no modo de produção serão exigidas para oferecer futuro sustentável à humanidade. A habitação será diferente, o transporte mudará, o cotidiano será distinto. Haverá nova consciência, coletiva, sobre a vivência humana e o usufruto possível da natureza.

Certas regiões da Europa não distinguem a zona rural da urbana. Melhorias públicas, infra-estrutura viária, comunicação, uma série de investimentos permitem afirmar que o campo foi urbanizado. Ora, para que morar no centro poluído, se no arrabalde se encontram as mesmas comodidades, com a vantagem da melhor qualidade de vida?
Valoriza-se boa parte do interior brasileiro graças à redução de sua distância, física, pela tecnologia de comunicação. Melhores estradas, ônibus na porta, emprego próximo. Na era pós-moderna, com a decisiva ajuda da tecnologia das comunicações, a cidade se aproxima do campo.

Elis Regina - quem não se lembra? - cantava: “Eu quero uma casa no campo...” Três décadas depois, famílias se mudam para o interior à procura do sossego perdido, do ar puro, da proximidade com a natureza. Mesmo continuando a trabalhar na metrópole, habitam o campo. Felizes.

Rompem-se as fronteiras da cidade. Na época medieval, forte muro as cercava. Hoje se espraia, rompendo suas divisas.

(Por Xico Graziano, O Estado de S.Paulo, 14/08/2007)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -