Enfrentando a escassez de água, o governo do Paquistão lançou um programa subsidiado de irrigação por gotejamento para reduzir o desperdício deste vital recurso nos próximos cinco anos, ao custo de US$ 1,3 bilhão. Segundo o último estudo econômico oficial deste país do sudeste asiático, divulgado em junho, 66% da população nacional, de 162,5 milhões de habitantes, vivem graças à agricultura. Além disso, este setor representa 20,9% do produto interno bruto e emprega 43,4% da força total de trabalho. O novo programa de irrigação por gotejamento substituirá a tradicional técnica de irrigação por inundação, também chamada de superfície, que é muito antiecônomica e data da civilização do vale dos Indus.
A decisão de explorar o potencial da irrigação por gotejamento foi tomada depois do sucesso de um projeto-piloto no distrito de Faisalabad, que consistiu no cultivo de algodão em uma superfície de 2,8 hectares, sob a supervisão de cientistas do Instituto Nuclear para a Agricultura e a Biologia (Niab). “Instalamos um sistema-modelo de irrigação por gotejamento para regar o algodão, e a experiência teve grande êxito. O rendimento foi de 1.520 a 1.648 quilos por acre, em comparação com 960 quilos obtidos com o método tradicional de irrigação por inundação”, explicou Wajid Ishaq, cientista do Niab.
Segundo Ishaq, o governo federal ficou tão entusiasmado com os resultados que pediu ao NIab que desenvolvesse uma proposta de projeto para estender a irrigação por gotejamento a uma superfície de 405 hectares nas quatro províncias do país. “Preparamos a proposta e a apresentamos à Comissão de Planejamento do Paquistão. Esperamos que seja aprovada e apresentem um plano integral”, acrescentou. Especialistas agrícolas afirmam que a irrigação por gotejamento é mais adequada em países como o Paquistão, onde o rendimento dos cultivos é baixo e o desperdício de água para irrigação está muito acima dos limites aceitáveis.
Ehsan Qazi, cientista agrícola residente no distrito de Lahore, disse à IPS que a irrigação por gotejamento se aplica junto com fertilizantes através de tubulações especiais, a um ritmo uniforme. “A água chega diretamente às raízes, que é onde é mais necessária. Há pouco desperdício de água por evaporação ou infiltração, ao contrário do que ocorre com a irrigação tradicional por inundação”, explicou o especialista. A irrigação por inundação ou de superfície, em geral, inunda a terra cultivada e é o método mais antigo e generalizado. Em comparação com este sistema, a irrigação por gotejamento pode representar uma economia de água da ordem de 70%.
Animado pelo aumento do rendimento do cultivo do algodão, o Niab está utilizando a mesma técnica de irrigação para cultivar cebola, milho e forragem de verão. Também existem planos para estender o sistema para hortas. Sajjad Siddiqui, porta-voz da Autoridade de Irrigação e Esgoto de Punjab, disse à IPS que o governo está consciente das dificuldades e tem um plano geral para superá-las, que inclui a reabilitação de sistemas de canais, melhoria de cursos de água, entrega de canais a agricultores locais e irrigação por gotejamento. Como nós últimos 30 anos não foi completado nenhum grande projeto de armazenamento de água, todas estas medidas são necessárias para prevenir a escassez aguda de água.
O governo ainda não elaborou um plano integral, mas comunidades individuais começaram a tomar suas próprias iniciativas, com a ajuda de organizações não-governamentais e doadores internacionais. Segundo o ministro federal de Alimentação e Agricultura, Sikandar Bosan, o Paquistão procurou a ajuda do governo do Japão para duplicar a eficiência do uso de água para irrigação dos atuais 45% para 90%, por meio da irrigação por gotejamento. Pelo menos 120 mil hectares de terras serão convertidos para este sistema neste ano, com 80% de subsidio do governo federal e dos governos provinciais para equipamentos de irrigação, anunciou Bosan.
Com o apoio do Banco Mundial e de outros doadores, o Fundo para o Alivio da Pobreza no Paquistão (PPAF) já começou a financiar pequenas comunidades agrícolas em áreas carentes de água para que instalem sistemas de irrigação. O PPAF desembolsa fundos em colaboração com ONGs que trabalham em determinadas zonas em certo período de tempo”, explicou Ghulam Haider, diretor de comunicações do Fundo. Por exemplo, foram concedidos 80% dos fundos para instalar o sistema na aldeia de Khan Muhammad Rajar, no distrito de Sanghar. A comunidade entrou com o restante.
Mas, há limites para o que as ONGs podem fazer, disse à IPS Abbas Panhwar, engenheiro mecânico da Organização Coordenadora de Trabalhadores Florestais e Agrícolas de Sindh, um órgão sem fins lucrativos que também apóia pequenos projetos de instalação de sistemas de irrigação por gotejamento. “Só podemos dar alguns exemplo, mas, definitivamente, cabe ao governo estender os benefícios desta tecnologia a todo o país”, concluiu o engenheiro.
(Por Irfan Ahmed Chaudhury,
IPS, 13/08/2007)