O governo da Nicarágua lançou uma campanha nacional para reflorestar 60 mil hectares anuais de florestas e recuperar 18 rios perdidos pelo desmatamento descontrolado dos últimos anos. A Campanha Nacional de Reflorestamento foi lançada oficialmente em junho e começou em julho em várias regiões de Manágua, principalmente nas margens de lagoas e rios contaminados por lixo e esgoto da capital. A meta de reflorestar 60 mil hectares por ano se estenderá até 2012 e terá ajuda de prefeituras, estudantes de ensino fundamental e médio, ambientalistas voluntários e membros da polícia e do Exército da Nicarágua, explicou William Schwartz, diretor do estatal Instituo Nacional Florestal (Inafor).
Mais de 210 espécies serão plantadas de acordo com a área, o clima e o tipo de solo, informou o Escritório de Fomento Municipal do Inafor. Por exemplo, no norte, mais frio, serão plantados pinheiros, e no centro, mais quente, árvores latifoliadas. A “cruzada verde” será feita com o orçamento destinado este ano ao Inafor, de aproximadamente US$ 8 milhões. Conta com o apoio pleno do presidente Daniel Ortega e a cooperação dos ministérios de Agricultura e Pecuária, de Meio Ambiente e Recursos Naturais; do Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Nacional, afirmou Schwartz.
Até agosto, o número de árvores plantadas supera os 300 mil na faixa do Pacifico e centro da Nicarágua, segundo dados do Escritório de Fomento Florestal. Mario García, técnico desse órgão, disse que as zonas prioritárias são as nascentes de 18 rios desaparecidos entre os ocidentais departamentos de León, Chinandega, Matagalpa, Estelí e Jinotega. As florestas têm um papel crucial nas zonas de recarga hídrica de rios e lagos, pois captam a água da chuva e a infiltram nas camadas subterrâneas e aqüíferos que alimentam os corpos superficiais de água.
“Plantar uma árvore apenas por plantar não é benéfico se não estiver acompanhada de outro propósito, como resgatar as fontes de água de que tanto a população nicaragüense necessita”, disse García. O funcionário detalhou que esta campanha inclui outra, educativa, para que camponeses e pecuaristas mudem seus métodos tradicionais de queima de floresta e irrigação de plantações por sistemas mais sustentáveis. O ecologista independente Kamilo Lara disse ao Terramérica que, embora a cruzada seja elogiável, o sucesso dependerá do apoio que o governo conseguir das 153 prefeituras do país, 58 delas nas mãos de candidatos do opositor Partido Liberal Constitucionalista.
“As prefeituras são um bom gancho para a efetividade das campanhas, mas se não se agir diretamente com as comunidades, a campanha não terá os resultados desejados”, disse Lara. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 1950 existiam cerca de oito milhões de hectares de florestas no território nacional. Atualmente, a cobertura florestal é inferior a três milhões de hectares e diminui a cada ano. A cruzada nacional de reflorestamento “é uma corrida contra o tempo”, advertiu Schwartz.
Segundo estatísticas do governo, a cada ano são cortados ilegalmente 70 mil hectares de florestas. “Neste ritmo, se não se buscar uma forma de deter esta atividade, em 40 anos a Nicarágua se converterá num deserto”, alertou Schwartz. O presidente Ortega determinou que o Exército aumente a vigilância nas estradas que levam às regiões de floresta, principalmente das áreas protegidas de Bosawa (norte) e da Reserva Biológica Índio Maiz (sul). Segundo Ortega, nessas áreas operam grupos de traficantes de madeiras preciosas que as cortam e levam ilegalmente para Honduras e Costa Rica.
Em junho de 2006, o governo aprovou a Lei de Proibição Florestal, que suspende por dez anos a comercialização de cedro (Cedrela odorata), cedro doce (Bombacopsis quinata), pinheiro (Pinaceae), mangue (Rhizophoraceae) e corticeira-do-banhado (Erythrina crista-galli). O especialista em manejo de recursos naturais Guillermo Bendaña García disse ao Terramérica que a advertência de Schwartz sobre o futuro “não é extremista’ e “se encontra mais perto da realidade do que imaginamos”. Bendaña, autor do livro “Problemas ecológicos globais: o princípio do fim da espécie humana?”, disse que o ritmo de destruição ambiental na América Central pode deixar sem água o istmo em menos de 30 anos.
Um controle florestal independente, realizado entre agosto de 2006 e março de 2007 pela empresa Global Witness, afirma que na Nicarágua se perde entre 70 mil e 180 mil hectares de florestas por ano e com isso se deteriora o acesso às fontes de água para consumo humano. O Informe de Desenvolvimento Humano 2007, apresentado em junho pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), indica que mais de 70% dos 5,1 milhões de nicaragüenses carecem de água potável.
(Por José Adán Silva,
Terramérica, 13/08/2007)