Muitas políticas econômicas acreditam que o desmatamento exploratório é a saída para a economia amazônica, e que a conservação e o desenvolvimento sustentável são empecilhos para a geração de renda e crescimento econômico. No entanto, além de o desmatamento não trazer um desenvolvimento real, ainda gera vários problemas, como a violência e o colapso econômico. É o que aponta o relatório O Estado da Amazônia - Indicadores, lançado sexta-feira (10/08) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
O estudo aborda as principais transformações da região amazônica nos últimos 30 anos, comprovando que a área passa por um desenvolvimento do tipo "boom-colapso", ou seja, há um período curto de desenvolvimento econômico e aumento do IDH da região, ocasionado pelo desmatamento e outras formas exploratórias, seguido de um colapso, resultado da ausência de planejamento e sustentabilidade da expansão, acarretando indicadores sociais "sofríveis".
O relatório se utiliza de dados socioeconômicos (demografia, violência, economia e IDH) para chegar à conclusão de que "a conversão dos recursos naturais não resultou no desenvolvimento econômico e nem em melhores condições de vida para a população".
DesmatamentoSegundo os pesquisadores Danielle Celentano e Adalberto Veríssimo, no estudo, o desmatamento, a curto prazo, faz com que o IDH aumente, já que os indicadores econômicos (PIB e a quantidade de empregos) crescem, há a geração de renda e a atração de migrantes com melhores níveis educacionais e capital para investimento.
Por outro lado, há custos altos, como a violência rural e o desmatamento expressivo. No longo prazo, na zona onde o desmatamento foi intenso, os indicadores econômicos pioram. "Esse é o pior dos cenários: recursos naturais exauridos e manutenção ou agravamento da pobreza", afirma o relatório.
Não bastassem os índices econômicos, o desmatamento da Amazônia é também a principal fonte das emissões brasileiras de gás carbônico, com mais de 70% do total de emissões desse gás, com base em dados de 2004.
Tentativas de converter esse quadro estão presentes, mas não são a base principal das políticas governamentais, e precisam "evoluir do caráter piloto e periférico para o pilar central da vida política, econômica e social da região".
SoluçõesO relatório sinaliza algumas medidas que podem ser tomadas para conter o desmatamento e frear o ciclo do "boom-colapso" a que a área está submetida. De início a curto prazo, os pesquisadores sugerem a melhoria da infra-estrutura e investimentos nos municípios que já sofreram desmatamentos, para que haja a "recuperação da base produtiva e consolidação da agropecuária e do reflorestamento".
Nos municípios onde há alta pressão, é preciso conciliar a conservação das florestas através da geração de emprego e renda, empregando a população em atividades econômicas que estimulem o manejo florestal em diferentes escalas. Para as áreas florestais, a política sugerida é a adoção de medidas públicas para "fechar o avanço da fronteira como, por exemplo, a criação de Áreas Protegidas".
No longo prazo, o relatório propõe mudanças na base econômica da região. Uma das principais mudanças deve ser no valor agregado dos produtos e serviços florestais, para destacar as riquezas da floresta e melhorar a qualidade de vida da população local.
"Para isso, é necessário rediscutir as diretrizes do desenvolvimento da Amazônia e ampliar significativamente os investimentos em Ciência e Tecnologia. Iniciativas para reduzir drasticamente o desmatamento e até mesmo cessá-lo por completo (moratória) devem ser perseguidas no curto prazo. Esse esforço deve reunir não apenas o governo, mas também o setor privado, as organizações sociais e ambientalistas, assim como toda a sociedade brasileira", conclui o relatório.
Confira o relatório
O Estado da Amazônia - Indicadores, produzido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
(Por Eduardo Paschoal,
Amazonia.org.br, 10/08/2007)