A Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) começa este mês uma pesquisa com as comunidades do entorno de unidades de conservação (UCs). Quer medir o grau de conhecimento que os moradores têm sobre as áreas protegidas. O levantamento será feito em escolas estaduais, municipais e particulares. Os estudantes vão levar os questionários para casa. “O objetivo é atingir as famílias”, explica a professora de educação física e integrante da equipe de educação ambiental da Fatma, Maria Cristina Peixoto Neves.
AlvoAção servirá para amparar parques protegidos por lei e que reúnem elementos importantes para equilíbrio ecológico
A pesquisa vai começar por três das dez UCs gerenciadas pela Fatma: os parques estaduais Serra do Tabuleiro (Grande Florianópolis e Sul do Estado), Acaraí (São Francisco do Sul, no Litoral Norte) e Fritz Plaumann (Concórdia, no Oeste). Os resultados serão usados para montar as estratégias de educação ambiental do Projeto de Proteção da Mata Atlântica em Santa Catarina (PPMA/SC), executado pela Fatma com recursos estaduais e do banco alemão KFW. “A maioria das pessoas desconhece o porquê de os parques existirem. Muitos nem sabem que vivem numa unidade de conservação. Precisamos das respostas do questionário para saber como agir”, diz a pedagoga da equipe, Rosana Magali Goularte Godoy.
Palestras e organização de visitas aos parques são os instrumentos de educação ambiental da Fatma. Um ônibus funciona como sala de aula itinerante pelo Estado. “Fazemos até teatro de fantoche em escolas”, conta Maria Cristina.
Dos três parques escolhidos para começar a pesquisa, o mais famoso é o da Serra do Tabuleiro, a maior UC catarinense. Ele ocupa aproximadamente 1% do território do Estado, está espalhado por nove cidades da Serra e do Litoral e reúne cinco composições botânicas principais – restinga, manguezal, floresta de encosta, mata de araucárias e campos de altitude. Os mananciais responsáveis pelo abastecimento de água da Grande Florianópolis estão dentro da UC Serra do Tabuleiro.
O Parque Fritz Plaumann, em Concórdia, no Oeste, é a primeira UC catarinense de conservação da floresta estacional decidual (caracterizada por duas estações climáticas bem definidas, uma chuvosa e outra seca). O Parque do Acaraí, em São Francisco do Sul, no Litoral Norte, é o mais jovem dos três. Foi criado em setembro de 2005, para proteger ecossistemas costeiros (restinga e mangue), a área de reprodução de aves marinhas no arquipélago de Tamboretes e o complexo hídrico composto pelo rio Acaraí, nascentes do rio Perequê e a Lagoa do Capivari.
As restrições incomodam os mais antigosA costureira Ana Maria da Costa mora na Baixada do Maciambu, em Palhoça, perto do centro de visitantes do Parque da Serra do Tabuleiro, na Grande Florianópolis. Diz que conhece pouco sobre a UC, mas acha importante a preservação ambiental.
A costureira faz uma reclamação: “Queria construir uma outra casa no meu terreno, mas não posso”. Ana Maria mora no mesmo terreno há 33 anos e diz que se sente tratada como “invasora”. “Sou favorável a preservar o meio ambiente, até para evitar invasões. Mas deveriam deixar que nós, moradores mais antigos, pudéssemos construir.”
Um dos vizinhos de Ana Maria, o pedreiro Agnaldo Rubertino Gonçalves, também mora há 33 anos na região e não pode fazer novas construções no terreno onde vive. A construção do salão paroquial da igreja ao lado de sua casa está parada. Mesmo assim, Gonçalves acha válida a existência do parque. “Tem de preservar, senão daqui a pouco está tudo desmatado.”
O técnico administrativo do Parque da Serra do Tabuleiro, Eduardo Mussatto, explica que a proibição de construir dentro de áreas de proteção está prevista nos sistemas nacional e estadual de unidades de conservação. Outras restrições são do Código Florestal e atingem obras em qualquer lugar. “Os moradores podem fazer uma consulta à Fatma para saber quais são as restrições ambientais em seu terreno, o que podem fazer e o que estão proibidos”, orienta.
"Se matar um animal aqui, pode ir preso"O estudante Gregory Freitas de Souza, da quarta série do ensino fundamental da Escola Municipal Areias de Palhocinha, de Garopaba, visitou o Parque da Serra do Tabuleiro pela terceira vez, com outros 52 colegas, em julho. Nas vezes anteriores, viu antas, jacarés e capivaras e aprendeu uma lição: “Os animais e plantas têm de ser preservados. Aqui dentro ninguém pode fazer queimada ou matar animais, senão vai preso.”
As visitas de turmas escolares ajudam a divulgar a importância das unidades de conservação ambiental (UCs). O centro de visitantes da Serra do Tabuleiro funciona há cinco anos em Palhoça, na Grande Florianópolis. Estudantes da região conhecem a flora e a fauna existentes na área preservada por meio de exposições e expedições guiadas pelo parque.
Marcos de Souza, estudante da quarta série da mesma escola de Gregory, estava ansioso para ver os jacarés. Em casa, a família dele faz a separação do lixo e usa os resíduos orgânicos como fertilizante para o solo. Dicas que Marcos aprendeu na escola, diz a professora Sandra Carlsem. A visita à UC da Serra do Tabuleiro resultaria em um trabalho escolar.
“Nasci e me criei aqui. Minha mãe conhecia até a família que morava onde hoje fica o centro de visitantes”, conta Agnaldo Rubertino Gonçalves. Ele sempre morou vizinho ao parque e aprova o trabalho de educação ambiental.
(Por Felipe Silva,
A Notícia, 13/08/2007)