O avanço da cana-de-açúcar em São Paulo associado ao clima seco da Amazônia fez com que o número de queimadas voltasse a crescer neste ano. Houve um aumento de 18,7% de 1º de janeiro a 10 de agosto de 2007 em comparação com o mesmo período de 2006, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). De acordo com informações de satélite, foram detectados 26.237 focos de calor (pontos que podem indicar fogo). No ano passado, foram 22.096 --a menor marca desde 2000.
Mato Grosso se mantém como campeão de queimadas, com 7.188 focos. Pará e Roraima vêm logo atrás, com 2.900 e 2.475, respectivamente. São Paulo ocupa a quarta colocação, com 2.182 pontos. A expectativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar de que a safra de 2007 seja a mais alcooleira dos últimos dez anos pode agravar o quadro, já que o período mais crítico de queimadas --que vai de agosto a novembro-- mal teve início.
O próprio governo de São Paulo diz que, com o avanço da cana no Estado, a área de queima está aumentando. No ano passado, a colheita foi feita com a queima em 2,5 milhões de hectares (o que representa 10% do território paulista). As chuvas escassas também ajudam a explicar a evolução dos focos de incêndio. De acordo com o Inpe, 320 municípios estão na faixa de risco "crítico" em razão da baixa precipitação. Deles, 190 estão há pelo menos 60 dias sem chuva.
"É um ano mais seco. Na região Centro-Oeste e no leste e no sul da Amazônia, há cidades onde não tem chovido. E o fator climático conta muito. Já em São Paulo, há um aumento expressivo de queimadas de abril a junho que tem muito a ver com a colheita manual da cana-de-açúcar", diz Alberto Setzer, pesquisador do Inpe e responsável pelo monitoramento de queimadas no país.
Para ele, além do tempo e da questão agrícola, outro fator que pode fazer o número variar é a fiscalização por parte do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). "Há ano em que o governo se empenha mais, outros menos. Às vezes, há mais recursos." O coordenador nacional do Prevfogo (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais), Elmo Monteiro, diz, porém, que o trabalho de fiscalização é constante. "O principal problema é que ainda é preciso lidar com a cultura do fogo na agricultura para renovação de pastagem e limpeza de terreno" diz.
Unidades de conservaçãoO fogo também atinge as unidades de conservação federais, como o Parque Nacional de Grande Sertão Veredas (MG) e a Estação Ecológica de Uruçuí-Una (PI). Nas duas unidades, brigadistas tentam combater os incêndios, que colocam em risco lobos-guarás, tamanduás, veados e araras-azuis. Outras 17 unidades, entre reservas biológicas, parques e florestas nacionais e estações ecológicas, aparecem em alerta amarelo (quando há focos no entorno) em sete Estados. "As unidades de conservação são o santuário ambiental do país. Em hipótese alguma deveria haver fogo lá dentro. Isso dá noção do uso indiscriminado do fogo no Brasil", diz Setzer.
(Por THIAGO REIS,
Agência Folha, 11/08/2007)